Os caminhos da apostasia ( Parte 2):
As advertências da Escrituras
As advertências nas Escrituras são, de fato, um dos meios pelos quais Deus nos preserva, mas considerá-las infalíveis significa roubar-lhes a importância. Com base nos textos a seguir, concluo que existem muitos "caminhos para a apostasia" contra os quais nós, crentes, devemos nos proteger. Essa seria, verdadeiramente, uma tarefa impossível se não fosse pela ajuda do Espírito Santo. Somos mantidos pelo poder de Deus, mas ainda assim advertidos sobre o perigo real da apostasia.
Aqui está uma lista de alguns dos caminhos para a apostasia que encontramos nas Escrituras (listada na ordem dos livros do Novo Testamento):
1. Perder o gosto e se tornar inútil.
Mateus 5:13 afirma: "Vós sois o sal da terra, mas se o sal perdeu o sabor, como será restaurada a sua salinidade? Já não serve para nada, exceto para ser jogado fora e pisoteado pelos pés das pessoas."
Jesus está falando aos seus seguidores no Sermão da Montanha e os avisa para não perderem sua salinidade. Jesus não explica o que quer dizer com essa perda de sabor, mas é claro que não é algo bom. Não está claro o que Jesus quis dizer ao nos chamar de "sal da terra". Parece aplicar-se exclusivamente aos crentes. Talvez o sabor se refira à nossa capacidade de nos alegrarmos na perseguição, como mencionado no versículo anterior. Muitos pensam que isso fala da nossa influência preservadora através da pregação do evangelho. Isso se encaixa com o texto seguinte sobre sermos luzes e exemplos para os outros. Mas seja lá o que isso signifique, parece descrever a vida e o ministério de um crente. Então, um crente pode perder a alegria ou a eficácia, mas qual é o resultado? O resultado também parece mais definitivo e destrutivo do que simplesmente a perda de recompensa. Este texto não é definitivo, mas a leitura mais natural é que quem perde o sabor do sal sofre uma consequência de um julgamento severo (pisoteado) e não apenas da perda de recompensa.
Este texto não aborda como alguém perde o sabor do sal, mas o contexto mais amplo do sermão sugere que deixar de construir sua casa sobre as palavras de Cristo, crendo e recebendo-as pela fé, resultará em um alicerce arenoso que eventualmente cairá (cf. Mateus 7:24-27). Isso não é apenas algo que fazemos no momento da salvação, mas algo que devemos continuar a fazer durante toda a nossa vida como crentes.
2. Não remover as tentações do pecado.
Mateus 5:29 afirma: "Se o seu olho direito o faz pecar, arranque-o e jogue-o fora. Pois é melhor que você perca um de seus membros do que todo o seu corpo seja jogado para o inferno."
Jesus, ao falar aos seus seguidores no Sermão da Montanha, alerta-os sobre os perigos do pecado. O resultado final é o inferno. Jesus não os avisa que eles já estão destinados ao inferno, a menos que eles se arrependam. Ele os adverte para evitarem o pecado, para que o resultado final não seja a condenação. Como eu disse, não caímos porque cometemos pecado. Nós caímos por causa da incredulidade. O pecado é a evidência da incredulidade, assim como o fruto espiritual é a evidência da nova vida em Cristo. Um cristão que "luta" com o pecado ainda pode ter certeza da salvação por causa da luta. O apóstata, por outro lado, não considera mais o pecado uma luta. Seu desconforto anterior com o pecado era evidência de crença, e seu conforto atual com o pecado é, da mesma forma, evidência de incredulidade. Mas não devemos nos consolar com o fato de lutarmos com o pecado ou que nossa consciência nos acuse, pois o pecado que persiste leva ao endurecimento do nosso coração e, finalmente, à incredulidade.
3. Não estar disposto a perdoar os outros.
Mateus 6:14-15 afirma: "Porque, se vocês perdoarem as ofensas dos outros, seu Pai celestial também perdoará vocês. Mas, se vocês não perdoarem as ofensas dos outros, seu Pai também não perdoará suas ofensas."
Essa passagem destaca a importância do perdão e como ele está relacionado à nossa própria salvação. Jesus enfatiza que, se não estamos dispostos a perdoar os outros, não podemos esperar que Deus nos perdoe. À primeira vista, esta passagem parece ensinar que a nossa salvação contínua (perdão de pecados) está condicionada à nossa disposição contínua de perdoar os outros. Isso prejudicaria nossa doutrina protestante de salvação somente pela fé. A solução é entender o motivo do coração por trás da falta de perdão. Por que uma pessoa perdoada não estaria disposta a perdoar outros com uma dívida relativamente menor? Este é o mesmo cenário descrito por Jesus na parábola do servo mau (ou implacável) em Mateus 18:23-35. A falta de perdão é incompatível com a salvação. Aquele que não perdoa prova que não está presentemente submetendo-se a Cristo pela fé.
Para ser claro, este texto não prova que aquele que não é perdoado foi anteriormente perdoado. Pode ser que Jesus esteja falando de incrédulos que oram por perdão, mas não estão dispostos a perdoar o próximo. Tais orações não serão ouvidas por Deus. No entanto, Jesus está falando aos seus seguidores neste Sermão da Montanha. É provável que alguns de seus seguidores ainda não foram salvos pela fé, mas certamente alguns deles foram. Devemos pensar que Jesus tem apenas os falsos seguidores em mente aqui?
4. Não responder em obediência às palavras de Cristo e, portanto, não construir a sua vida sobre uma base firme.
Mateus 7:26-27 afirma: "E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será como um homem insensato que construiu a sua casa na areia. E caiu a chuva, e vieram as inundações, e os ventos sopraram e bateram contra aquela casa, e ela caiu, e grande foi a queda dela."
Essa passagem destaca a importância de responder em obediência às palavras de Cristo e de construir a nossa vida sobre uma base firme. Jesus compara aquele que ouve suas palavras e não as pratica a um homem insensato que construiu sua casa na areia, que não pode resistir às tempestades da vida. Julgamento. Nossa casa cairá, e grande será essa queda. O resultado não parece ser meramente superficial ou a perda de recompensas, mas é catastrófico (devastador).
5. Não estar disposto a mostrar misericórdia e perdoar seu irmão de coração.
Mateus 18:32-35 afirma: "Então, seu senhor o chamou e lhe disse: 'Servo mau! Eu te perdoei toda aquela dívida porque você me implorou. E você não deveria ter tido misericórdia do seu semelhante, como eu tive misericórdia de você?' E, com raiva, seu senhor entregou-o aos carcereiros, até que pagasse toda a sua dívida. Assim também o meu Pai celestial fará com cada um de vocês, se vocês não perdoarem seu irmão de coração."
Esta parábola foi contada em resposta à pergunta de Pedro sobre o perdão. A questão é que a misericórdia e o perdão para com os outros são a resposta apropriada daqueles que foram perdoados por Deus. Negar essa mesma misericórdia e perdão aos outros é totalmente inaceitável. A indignação do rei era justificada porque o seu servo havia de fato sido perdoado. Se o servo não tivesse sido realmente perdoado, o rei não teria respondido como fez. É evidente que aquele que foi perdoado foi salvo (verdadeiramente perdoado), mas no final foi julgado como um incrédulo porque não produziu o fruto adequado de alguém perdoado. Sua falta de vontade de perdoar os outros mostrou que ele não continuava em um relacionamento restaurado com o rei, mas se afastou do rei e esqueceu a misericórdia que recebeu.
Mais uma vez, Jesus dirige esta advertência a Pedro e aos discípulos que foram salvos e perdoados pela fé em Cristo. Ele não está dirigindo esta advertência no versículo 35 aos falsos mestres. E as consequências desta incredulidade, caracterizada pela falta de perdão, são mais do que a perda de recompensa. O perdão do servo foi revogado porque estava condicionado a um relacionamento restaurado e continuado com o rei, com base na recepção fiel da misericórdia do rei.
Se você reconhece que este aviso é para os crentes e que devemos o levar a sério, mas, ao mesmo tempo, você acredita que já está salvo e não pode se tornar como o servo ímpio que não perdoava, então como esse conhecimento (de que não pode se tornar como o servo mau) não pode minar a urgência do aviso?
6. Afastar-se em tempos de provação ou permitir que os cuidados, as riquezas e os prazeres da vida sufocar-nos espiritualmente.
Lucas 8:13-14 afirma: "E os que estão sobre a rocha são aqueles que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria. Mas estes não têm raiz; eles creem por um tempo, e na hora de provação desaparecem. E o que caiu entre os espinhos são os que ouvem, mas à medida que seguem seu caminho, são sufocados pelos cuidados, riquezas e prazeres da vida, e o seu fruto não amadurece."
A deficiência aqui descrita não estava na qualidade da fé (crer), mas na sua longevidade e maturidade (falta de perseverança). A falta de frutos na época da colheita foi uma falha na maturidade, não uma falha em ouvir e acreditar inicialmente. Em última análise, a única fruta que importa ao fazendeiro é aquela que pode ser colhida e utilizada. Fruta que fica bem na videira, mas nunca chega à maturidade, é inútil. Assim, o fruto desta analogia é melhor visto como uma colheita no dia do julgamento, em vez de boas obras progressivas ao longo do caminho de nossa santificação.
Alguns discordam de que o 2º e o 3º solos produzam algum fruto. Eles argumentam que uma fé baseada apenas na emoção (alegria) carece das raízes fornecidas apenas por um coração regenerado (boa terra) e, portanto, este tipo de "fruto" é melhor descrito como uma fé falsa, como os demônios que acreditam (Tiago 2:19). E da mesma forma, a falta do fruto da maturidade é uma indicação de falsa fé, uma vez que a maturidade é um resultado necessário da fé genuína, não uma progressão opcional. Ainda assim, o texto diz que essas pessoas têm frutos. O problema não é a falta de fruto, mas a falta de amadurecimento.
Um incrédulo pode dar frutos? Eu não acho. Um crente pode dar frutos e nunca amadurecer? Esta é uma questão crítica no debate. Creio que muitos destes textos alertam que tal cenário é descritivo de incredulidade, não apenas de falta de maturidade. Se equipararmos maturidade a perseverança, o problema é agravado: se a maturidade é um resultado inevitável de uma genuína fé, então não há necessidade de persegui-la. Isso acontecerá quer cooperemos ou não. Nós poderíamos chamar isso de santificação monérgica. No entanto, muitos calvinistas reconhecem que a nossa santificação após a salvação é de fato um processo sinérgico. Devemos cooperar com o Espírito Santo para amadurecer. Eles afirmam que se não amadurecermos, perderemos nossas recompensas (embora não seja a nossa vida eterna). Mas outros textos que usam esta analogia agrícola deixam claro que as plantas infrutíferas são destruídas pelo fogo, elas são inúteis para o agricultor (por exemplo, João 15:6; Hebreus 6:7-8).
Aqui está o ponto principal da parábola, tal como eu a vejo: Jesus está explicando aos seus discípulos por que eles veem resultados diferentes em evangelismo e discipulado. Ele não está apenas explicando a causa de um aspecto, mas está nos equipando para nos prepararmos estrategicamente para os obstáculos que enfrentaremos no ministério. A conclusão de sua parábola parece ser: "Enraíze sua fé e evite os espinhos", em vez de "Espero que você receba raízes e que outra pessoa elimine os espinhos, porque não há nada que você possa fazer sobre isso". Para ser justo, um calvinista não diria isso dessa forma. Eles diriam: "Enraíze sua fé e evite os espinhos, sabendo que é Deus quem opera vontades e obras em você". Mas, essencialmente, o calvinista também está dizendo: "Faça a sua parte para evitar cair, mesmo sabendo que isso é impossível". Isso parece intelectualmente problemático.
7. Olhar para trás, para sua antiga vida com a intenção de retornar a ela.
Lucas 9:61-62 afirma: "61 Outro ainda disse: 'Eu te seguirei, Senhor, mas deixe-me primeiro dizer adeus àqueles em minha casa.' 62 Jesus lhe disse: 'Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é digno do reino de Deus.'"
A expressão de Jesus "mão no arado" parece significar obediência fiel a Ele. Ser claro, Jesus está falando com alguém que ainda não havia colocado a mão no arado, ainda não estava salvo. Jesus está falando hipoteticamente no sentido de que, se o homem quiser segui-lo, deve envolver um compromisso para toda a vida, e não apenas temporário. Não devemos pensar em nossa salvação como um compromisso de um momento, mas antes um compromisso contínuo. Isto poderia ser argumentado que olhar para trás não significa perder o reino, mas é simplesmente inapropriado para aqueles que estão no reino. Mas o sentido me parece mais forte. Isto não é um texto definitivo, mas sugere uma consequência grave para quem colocou a mão no arado, se ele olhar para trás. E, novamente, se este for apenas um cenário hipotético sem nenhuma potencialidade, então como é útil?
8. Não continuar a permanecer em Cristo.
João 15:6 afirma:"6 Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará; e os ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados."
O tempo verbal para "permanecer" (particípio presente) descreve uma ação contínua, como a perseverança requer. A consequência final é o fogo final e eterno, e não a perda da recompensa. Como pode alguém com falsa fé ser caracterizado como sempre permanecendo em Cristo? Para continuarmos cumprindo, nós devemos ter sido permanentes. Jesus está falando especificamente aos 11 apóstolos (não a Judas). Se Jesus acha que eles precisam ouvir este aviso, então não deveríamos alertar todos os seguidores de Jesus, não apenas os falsos como Judas? Você pode dizer: "Sim, porque não podemos infalivelmente discernir entre os verdadeiros e os falsos crentes". Mas Jesus podia, e também advertiu aqueles que foram genuinamente salvos.
9. Ser atraído por falsos mestres.
Atos 20:29-30 afirma: "29 Eu sei que depois da minha partida virão lobos ferozes entre vós, não poupando o rebanho; 30 e dentre vós mesmos surgirão homens falando coisas distorcidas, para atrair os discípulos atrás delas."
Estes certamente poderiam incluir falsos discípulos, mas apenas uma posição presumida os limitaria a tal categoria. A leitura natural é que os discípulos (verdadeiros e falsos) são pelo menos potencialmente sendo afastados. Mas, na realidade, os falsos discípulos já estão longe e só revelando suas verdadeiras cores. Somente os verdadeiros discípulos podem ser verdadeiramente afastados, posicionalmente falando. Este texto não diz que estes lobos terão sucesso, mas se for impossível afastar um crente genuíno, e os falsos crentes já estão afastados, qual é o propósito desta afirmação? Por que deveríamos nos preocupar? No entanto, a escolha da metáfora (feroz lobos) sugere que deveríamos realmente estar preocupados.
Infelizmente, alguns podem rapidamente rotular a mim e a outros que questionam a doutrina da perseverança inevitável como um desses lobos, sem primeiro considerar cuidadosamente o que as Escrituras dizem. Eles confiam na interpretação daqueles que lhes ensinaram a doutrina, em vez de estudarem as Escrituras por si mesmos. Eles não apenas arriscam a complacência com essa abordagem, mas também condenam erroneamente seus irmãos em Cristo como incrédulos. Pois certamente esses lobos não estão salvos. Para ser justo, também acredito que aqueles que ensinam a Perseverança Inevitável estão errados e, portanto, ensinam algo falso, mas eu não os considero lobos. Este é um debate entre crentes. Minha preocupação é que a doutrina da Perseverança Inevitável pode levar à complacência, mas se meus irmãos que acreditam nisso forem cuidadosos, eles podem evitar a armadilha. Mas, na minha opinião, a melhor maneira de evitar a armadilha é abandonar totalmente a doutrina.
10. Ignorar a revelação ao deixar de honrar a Deus ou dar graças, mas em vez disso entregar-se a coisas fúteis e pensamentos imprudentes que levam a um coração escurecido, à rejeição de Deus, à imoralidade sexual, perversão e idolatria. Deus, por sua vez, responde em julgamento, entregando-nos aos impuros desejos do nosso coração.
Romanos 1:21-25: Porque, embora conhecessem a Deus, não o honraram como Deus, nem lhe deram graças a ele, mas eles se tornaram fúteis em seus pensamentos, e seus corações tolos foram escurecidos. Dizendo-se sábios, tornaram-se tolos, e trocaram a glória do Deus imortal por imagens semelhantes ao homem mortal e pássaros e animais e répteis. Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à impureza, à desonra de seus corpos entre si, porque trocaram a verdade sobre Deus como uma mentira e adoraram e serviram a criatura em vez do Criador, que é abençoado para sempre! Amém.
Este não é um aviso no sentido mais estrito, mas certamente um conto de advertência! Eu não estou sugerindo que essas pessoas foram salvas inicialmente, mas este texto estabelece um princípio de que ninguém, não importa a sua posição, está imune às consequências de ignorar o seu Criador. Devemos pensar que os crentes estão isentos desta consequência? Embora os calvinistas possam admitir que, hipoteticamente, este princípio poderia ser aplicado aos crentes, eles insistem, na prática, que é impossível. Como então esta posição promove a urgência no crente? Não é rejeitar o princípio como irrelevante?
Nota 1: Este texto é uma tradução do artigo de Dana Steele que pode ser lido no original aqui.
Nota 2: O artigo continua na parte 3 que esta sendo traduzida.