terça-feira, 21 de novembro de 2017

O BELÍSSIMO SALMO 139

O BELÍSSIMO SALMO 139 



Por: Anderson de Paula
Revisão: Alef Brid


1. Introdução – Preciosidade do Salmo 139

O presente estudo visa apresentar exegeticamente este Salmo para que possamos ter um entendimento correto das lições contidas nele que indubitavelmente são importantíssimas para todos os cristãos. Este Salmo mostra a grandiosidade de Deus ao revelar a Onisciência[i], Onipresença[ii] e Onipotência[iii] de Deus.  

 1.1- A coroa de todos os Salmos!

“A coroa de todos os Salmos!” É titulo que o erudito rabino Aben Ezra (1093-1167) [iv] dá a este Salmo. Isso é apropriado, pois em seus 24 versos, esse Salmo nos mostra um Deus maravilhoso! Vemos nesses versos a grandeza de um Deus que não está preso ao tempo e ao espaço, pois é poderoso para saber de tudo e isso antecipadamente. É desse jeito que o erudito Oesterley (1866-1950) [v] entende o Salmo quando diz:

“No que diz respeito à Natureza Divina, a Onisciência e a Onipresença, esse salmo se destaca como “a perola mais preciosa do Saltério.” Diz-se que existem escritos paralelos na Babilônia e em outros escritos sagrados do passado, mas na literatura religiosa do mundo primitivo, esse Salmo é singular”.

Assim, entendemos que o Salmo realmente merece um estudo acurado, pois se trata de um Salmo que traz maravilhosas instruções para todos os amantes de teologia.

1.2. Salmo de instrução

O Dr. Stanley Ellisen[vi] entende que o Salmo é de instrução, pois traz maravilhosos ensinos a todos os amantes de teologia. Isso se torna evidente ao se olhar o esboço do salmo. O salmo nos apresenta a Onisciência de Deus do verso 1 – 6; sua Onipresença dos 7 – 12 e a sua Onipotência no milagre da gestação humana dos 13 – 16. Em seguida, o salmista faz um relato maravilhado sobre a Grandiosidade Divina e a limitação da mente humana nos 17- 18. Finalmente, ele termina mostrando sua indignação contra os homens violentos e faz um pedido para Deus examinar a sua conduta e dirigi-lo pelo caminho eterno dos 19 - 24. Partiremos agora para os ensinamentos deste belíssimo Salmo.

 2. A Onisciência de Deus

“SENHOR, Tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a Tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir.” Salmos 139:1-6.

A palavra Onisciência é a junção de duas palavras latinas: “o(m)ni” (tudo) e “ciência” (conhecimento). Assim, Onisciência significa “saber tudo”. Deus conhece tudo de maneira exaustiva, isto é, sabe todos os detalhes de todas as coisas que existem. Deus tem total conhecimento de Si mesmo, do tempo e espaço (pois esta fora do Cronos[vii]).

O primeiro ensinamento que temos nesse Salmo é exatamente em relação ao atributo incomunicável[viii] de Deus que é a Onisciência: Deus conhece todas as coisas e conhece antecipadamente. O salmista reconhece que Deus sabe cada mínimo detalhe de sua vida. Ele mostra que Deus conhece o ser humano por completo. Seus pensamentos, intenções e ações (quando esta em publico ou sozinho) são conhecidos de Deus. Tal conhecimento deixa o salmista atônito, o fazendo reconhecer a grandiosidade do conhecimento de Deus e a limitação do conhecimento humano. Vamos estudar esse atributo apresentado nessas palavras, pois é crucial para um entendimento adequado desse Salmo.

2.1. Deus conhece a Si mesmo

            O primeiro objeto de conhecimento de Deus é Ele mesmo, pois Ele existe antes que todas as coisas existissem e o próprio tempo foi criado por Ele. O teólogo medieval Tomás de Aquino[ix] acertadamente fala sobre o autoconhecimento de Deus:

“Deus conhece a Si mesmo perfeitamente. Algo é perfeitamente conhecido quando seu potencial a ser conhecido é completamente percebido e não há potencialidade não realizada em Deus, visto que Ele é realidade completa – Pura Existência. Portanto, Deus se conhece perfeitamente. O seu autoconhecimento é completamente real.” [1]

            Deus conhece a si mesmo e uma vez que não existe “por realizar” em Deus, Ele tem autoconhecimento perfeito de Si mesmo.

2.2. Deus conhece infinitamente todas as coisas

 O teólogo Holandês Jacó Armínio foi preciso na sua definição da doutrina da Onisciência ao declarar:

“Ele conhece as coisas substanciais e acidentais de todo o tipo; as ações e emoções, os modos e circunstancias de todas as coisas; palavras e ações externas, pensamentos, opiniões, deliberações e determinações internas e as entidades da razão, quer sejam complexas ou simples. Todas essas coisas, sendo conjuntamente atribuídas à compreensão de Deus, levam à conclusão justa de que Deus conhece as coisas infinitamente.[2]

Armínio é preciso em falar que Deus conhece as coisas de maneira infinita, ou seja, o conhecimento de Deus é exaustivo! É como infinito que o molinista/wesleyano W.L Craig define o conhecimento de Deus ao falar do Salmo que estamos estudando:

“Nenhum numero finito pode servir para enumerar o que Deus conhece; seu conhecimento é infinito. O sentido final do versículo 18 é que é impossível chegar ao fim do conhecimento de Deus.” [3]

            Assim, fica evidente que Deus conhece infinitamente não apenas a Si mesmo, mas também a tudo que criou, incluindo todas as coisas do tempo. Deus conhece todas as coisas que já aconteceram (passado), que estão acontecendo (presente) e que vão acontecer (futuro). Isso é uma verdade claramente demonstrada nas Escrituras e, portanto, importantíssima para o nosso estudo.

2.3. Deus conhece o Passado, Presente e Futuro.

Irineu (125 – 202 D.C) diz:

“Olha para aquele que esta a cima dos tempos, para aquele que não tem tempos” [4]

            Sempre foi defendido na historia da Igreja que Deus é atemporal[x] e isso é crucial para entender a Onisciência de Deus (principalmente no que diz respeito ao conhecimento do futuro - presciência). Deus não está preso ao tempo, pois o próprio tempo foi criado por Ele. Conforme bem declarou Agostinho (354-430):

“O mundo não foi feito no tempo, mas junto com o tempo. Pois o que é feito no tempo é feito depois de um período de tempo e antes de outro, isto é, depois de um tempo passado e antes de um tempo futuro. Mas, poderia não ter havido tempo passado, visto que não houve nada criado por cujos movimentos e mudanças de tempo pudessem ser medidas.” [5]

            Deus é o criador de tudo que existe no tempo, mas Ele é criador também do tempo. O tempo começou com a criação, antes dela não existia tempo. Em Deus não existe passado ou futuro, Ele é imutável e um Ser imutável como Deus vive um eterno presente, mas esse Deus criou criaturas temporais para viverem dentro do tempo e é aqui que vamos concentrar nosso assunto.

2.4. Deus conhece o passado

            Agora, que deixamos claro que Deus não está preso ao tempo, podemos continuar a falar do conhecimento que Deus tem do passado, presente e futuro (vamos apenas dar uma breve “pincelada” no passado e presente para nos concentrar no futuro - presciência - que é o ensinamento principal desta primeira parte do Salmo).

Deus tem total conhecimento da Historia do Universo, Ele sabe de todos os acontecimentos que já aconteceram em seus mínimos detalhes. Ele conhece o que foi tratado em reuniões secretas e todos os segredos que os homens escondem. A Bíblia é muito clara em afirmar essa verdade, pois em Salmos esta escrito:

“Tu conta as minhas vagueações; põe as minhas lagrimas em teu odre. Não estão elas no teu livro?” Salmo 56:8.

            É claro que Deus não esquece nada para que precise anotar. Quando a Bíblia fala que Deus não se lembra de nossos pecados não esta dizendo que Deus esqueceu como uma pessoa com problemas de memoria, mas esta falando do perdão de Deus aos arrependidos. Deus também não precisa de livros para não esquecer algo ou para rever suas notas, mas quando a palavra de Deus fala a respeito dessas coisas, está falando que nada que acontece (ou aconteceu) escapa ao conhecimento de Deus e um dia Ele jugará os homens pelos seus atos. Portanto, entendemos que Deus conhece de fato o passado, pois nada escapa do seu conhecimento.

 2.5. Deus conhece o presente

            Da mesma maneira que Deus conhece o passado, Ele tem total conhecimento do presente. Ele sabe o que esta acontecendo com todos neste exato momento e está vendo o que os homens estão fazendo ou pensando. Conhece o que o amado leitor esta pensando neste exato momento. As Escrituras muitas vezes descrevem Deus como olhando para sua criação e observando seus atos e tudo que acontece com ela. É o que diz em Jó 28:24:

“Porque Ele perscruta as extremidades da terra, e vê tudo debaixo dos céus”.

            Deus não apenas conhece o que se passa com as coisas criadas, mas também tem total entendimento delas. Ele entende as leis que regulam as estrelas e os céus, Ele entende a vida no mais profundo do mar, Ele entende o nascimento e a morte. Ele entende e governa o magnífico reino animal. Além disso, Deus conhece todos os assuntos humanos. Ele entende sociologia, biologia, psicologia, antropologia, politica e tudo que se pode conhecer, Ele conhece!  Podemos dizer com certeza que Deus tem sabedoria e compreensão total de toda a obra criada.

2.6. Deus conhece o futuro (presciência)

            Durante todo o curso da Historia da Igreja sempre foi defendendo que Deus conhece o futuro e sua presciência é simples, ou seja, Deus sabe o que vai acontecer sem que tenha que determinar, mas nos dias contemporâneos surgiu uma gama de teologias que contrariam a ideia de uma presciência simples[xi]. O Dr. Norman Geisler diz o seguinte sobre o assunto:

“O debate contemporâneo, entretanto, tem mudado a paisagem teológica desta doutrina. Hoje, o conhecimento ilimitado de Deus é supostamente limitado; a sua Onisciência já não é o conhecimento de tudo. Se concordarmos com isso, ficaremos com a visão contraditória da Onisciência limitada. O ataque à Onisciência tradicional parte de fora e de dentro do evangelicalismo.” [6]

            O que Geisler quer dizer com “Onisciência limitada”? E quem é este envolvido neste “debate contemporâneo?” As respostas estão na maneira como se entende o conhecimento que Deus tem do futuro: “Presciência de Deus”, pois todos os cristãos acreditam que Deus conhece todas as coisas, mas divergem no que diz respeito ao conceito de conhecimento do futuro. Segue nos próximos comentários a explicação de Onisciência limitada e ilimitada (Onisciência tradicional):

a) Onisciência limitada

            É qualquer visão que limite o conhecimento de Deus, como por exemplo, os deterministas. Eles entendem que Deus conhece o futuro porque Ele determinou cada ato do ser humano, pois do contrario não conheceria. Isso coloca uma limitação na presciência de Deus de não poder saber caso suas criaturas forem livres. Além disso, coloca o conhecimento de Deus a um mero escritor que só sabe o final do livro porque foi Ele quem escreveu. Outro exemplo são os que creem na tese do Teísmo Aberto, asseverando que Deus conhece o futuro, mas como possibilidade e não de fato, pois o futuro ainda não existe para que Deus possa conhecer. Nessa visão, Deus é reduzido a um pai que fala para o filho escolher entre uma bola ou um vídeo game. O pai sabe que o filho vai escolher um dos dois porque só tem essas possibilidades para escolher. Assim é Deus nesta visão! Deus só pode conhecer as possibilidades do futuro, mas não o futuro de fato.  Essas duas visões são exemplos claros de Onisciência limitada, pois ambas colocam uma limitação no conhecimento que Deus tem de futuro.

b) Onisciência tradicional (ou ilimitada),

 É exatamente o contrario do que foi dito acima! Onisciência ilimitada é a doutrina que entende que Deus não tem qualquer limitação em Seu conhecimento mesmo que suas criaturas sejam livres, Ele sabe tudo sem precisar determinar. Podemos citar os arminianos e os molinistas como os que creem na Onisciência ilimitada e, assim, deixar claro quais são as escolas que divergem sobre esse tema. Os arminianos e os molinistas acreditam que Deus tem o conhecimento do futuro de maneira simples, ou seja, Ele conhece as decisões livres finais de cada criatura. Assim, podemos dizer que deterministas e teístas abertos limitam o conhecimento de Deus, enquanto os arminianos e molinistas entendem que não existe limitação no conhecimento Divino nem mesmo em relação ao futuro. O erudito Dr. Jack Cottrell nos da um exemplo claro de presciência tradicional (ou simples) ao refutar o Teísmo Aberto:

 “Digamos que eu peço a você para assistir comigo um vídeo de um sermão que eu já assisti antes. Então, eu digo em um determinado ponto do vídeo: “eu sei exatamente o que o pregador vai dizer em seguida. Não há dúvida sobre isso. Ele vai dizer isso e aquilo.” E, assim, no vídeo, as palavras são ditas conforme eu predisse. Será que o meu “pré-conhecimento” destas palavras, de alguma maneira, afetou a liberdade do pregador quando as proferiu? Nem um pouco. Minha certeza, quanto ao que acontecerá no vídeo, de maneira nenhuma afeta a integridade do sermão conforme originalmente pregado. Na verdade, minha certeza é dependente do sermão conforme pregado. O pré-conhecimento de Deus funciona de maneira similar, exceto, que Ele vê a realidade dos eventos antes que eles aconteçam, ao invés de ver após o acontecimento. Porém, o pré-conhecimento de Deus não afeta a contingência dos eventos mais do que o meu conhecimento, após-o-fato, afeta um evento passado.

É um fato verdadeiro que todos os eventos futuros, incluindo as escolhas do livre arbítrio, são certas de acontecer, conforme pré-conhecidas; porém, não é o pré-conhecimento que as torna certas; elas apenas são certas. Então, o que os tornam certas? Os próprios atos, conforme previstos por Deus, da Sua perspectiva da eternidade. Todos concordariam que os eventos passados são certos. O que os tornam certos? O simples fato de que eles já aconteceram; da maneira como aconteceram. Os próprios atos os tornaram assim. Este mesmo princípio estabelece a certeza dos eventos futuros pré-conhecidos. Sua certeza não é definida pelo pré-conhecimento de Deus; pelo contrário, o pré-conhecimento de Deus é definido pela realidade dos próprios eventos. O fato de que Deus os vê “antes do tempo”, da Sua perspectiva de eternidade, significa que eles vão acontecer conforme Deus os vê; porém, eles vão acontecer por causa das genuínas escolhas livres dos sujeitos envolvidos.”[7]

            Em suma, a onisciência tradicional ensina que Deus o conhecimento de Deus do futuro não é causativo, pois Deus não está preso ao tempo e por isso pode constatar infalivelmente as decisões livres finais de suas criaturas.

3. A Onipresença de Deus

“Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da Tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás. Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar, mesmo ali a Tua mão direita me guiará e me susterá. Mesmo que eu dissesse que as trevas me encobrirão, e que a luz se tornará noite ao meu redor, verei que nem as trevas são escuras para Ti. A noite brilhará como o dia, pois para Ti as trevas são luz.” Salmos 139:7-12

            O segundo atributo incomunicável de Deus, que vemos neste salmo, é o atributo da Onipresença. Ao declarar “Para onde poderia eu escapar do seu Espirito?” O salmista esta mostrando que é impossível estar em algum lugar em que Deus não esteja. Isto significa que Deus é o único que pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Não existe criatura que possa estar em todos os lugares. Mesmo os anjos e demônios não possuem tal capacidade e só podem estar em um único lugar dentro do tempo. Foi maravilhado com esse atributo que o sábio Salomão disse:
           
"Mas será possível que Deus habite na terra com os homens? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem conter-te. Muito menos este templo que construí!”
2ª Crônicas 6:18

            O sábio Salomão entendia que Deus não pode ser contido dentro de qualquer coisa, pois Ele é infinito e esta em todos os lugares! O doutor Eduardo Joiner acertadamente fala sobre esse atributo de Deus:

“Ele existe em todo o espaço infinito, pela essência de seu Ser: Isso se comprova através da seguinte pergunta feita por Ele mesmo: “Não encho Eu o céu e a terra?"– diz o Senhor?” (Jr 23.24). Na língua hebraica “os céus e a terra” significam o universo inteiro. Este universo, segundo a própria declaração de Deus, está cheio de sua Presença.” [8]

            Assim, fica claro que Deus está presente em todos os lugares do universo e é impossível escapar da Sua Presença. O salmista mostra essa verdade ao declarar, citando vários lugares como “as extremidades do mar” ou ate mesmo “os céus” que é impossível fugir da presença de Deus, pois Deus preenche todos os espaços, ate mesmo o espaço ocupado pelos ímpios.

3.1. A Onipresença de Deus alcança salvos e ímpios

            Deus está em todos os lugares e contempla tanto a justos como a ímpios e se comporta de maneira peculiar em cada um deles. Para o teólogo pentecostal pr. Walter Brunelli existem três razões pelas quais Deus está presente na vida de uma pessoa, seja ela salva ou ímpia, ele diz:

“Para sustentar, para punir e para abençoar. No caso dos ímpios, a presença de Deus tem como finalidade sustentar e às vezes punir” [9]

a) A Presença de Deus para sustentar e punir: Deus sustenta os ímpios, pois deseja que todos se arrependam e cheguem ao conhecimento da Verdade (1ª Tm 2.4). Porém, quando o ímpio insiste em sua maldade não ouvindo as advertências bíblicas, cairá no juízo de Deus que punirá toda a maldade que os ímpios praticam, pois suas maldades não podem ser escondidas da Onipresença de Deus (Amós 9.1-4).

b) A presença de Deus para sustentar e abençoar: Na vida do salvo está a benção do Senhor. Deus nos sustenta com sua maravilhosa Graça para que não pereçamos e nos abençoa em todas as áreas de nossa vida. É essa a certeza que Davi tinha quando disse:

“E agora foste servido abençoar a casa do teu servo, para que permaneça para sempre diante de ti; porque tu, Senhor, a abençoaste, ficará abençoada para sempre.” 1ª Crônicas 17:27

            O crente pode descansar, pois sabe que esta sendo sustentado e abençoado por estar na Presença de Deus. Deus está em toda a parte! Para o salvo isso é belíssimo, mas para o ímpio é terrível, pois não se sabe nem o dia, nem a hora em que Ele dirá: “Basta, apartem-vos de mim, vos todos que praticam a iniquidade.” Lc 13.27

4. A Onipotência de Deus

“Pois possuíste os meus rins; cobriste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as Tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra. Os Teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no Teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia.” Salmos 139:13-16

            Chegamos enfim, na parte mais controversa do Salmo, pois é essa parte que os deterministas gostam de usar para apoiar seu sistema teológico. Entretanto, mostraremos que essa parte não esta falando de determinismo, mas da Onipotência de Deus demonstrada através do milagre da gestação. Antes, porém, vamos definir o que é Onipotência.
           
            Onipotência é o Poder de Deus de fazer todas as coisas que são objeto do seu Poder com ou sem uso de meios. O termo hebraico para Onipotência é shaddai; no grego, pantokratõr. Isso significa que não existe lei alguma no universo que impeça do Ser Onipotente fazer tudo que queira.

4.1. A Onipotência esta em harmonia com seus outros atributos

            O fato de Deus ser Onipotente significa que não existem limites para Seu Poder. Nas Sagradas Escrituras essa verdade está claramente revelada nas palavras do mestre Jesus, que disse:

“Jesus olhou para eles e respondeu: Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis". Mateus 19:26

            Porem, precisamos entender que a Onipotência de Deus está em harmonia com seus outros atributos. É dessa maneira que o Dr. Eduardo Joiner define a Onipotência de Deus:

“Deus é capaz de fazer todas as coisas que podem ser feitas, mas ao mesmo tempo todos os atributos se harmonizam, e o poder infinito jamais pode ser exercido de maneira a produzir uma contradição a natureza divina. Isto, porem, não indica imperfeição alguma neste atributo, mas mostra a sua excelência.” [10]

            Deus pode fazer tudo que deseja, mas só deseja o que é concernente com a sua natureza que é Boa, Justa e Perfeita. A bíblia diz que Deus não pode mentir (Tito 1:2), isto porque a natureza de Deus é verdadeira e não pode fluir a mentira de um Deus que é a Verdade. Os atributos de Deus sempre agem em harmonia com a sua natureza e nunca de maneira desordenada! É impossível um Deus justo cometer a injustiça simplesmente porque é Onipotente, pois apesar de Deus ser Onipotente, seu Poder está ligado aos seus outros atributos. É por isso que o atributo da Onipotência de Deus deve infundir no ímpio um grande temor, pois a Justiça de Deus punirá justamente suas maldades (Sl 9.17).

            O justo, por outro lado, pode ter grande alegria em seu coração porque o Deus da promessa é todo poderoso para cumpri o que prometeu. Foi confiando na Onipotência de Deus que Davi disse:

 “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei temor? O Senhor é o meu forte refúgio; de quem terei medo? Quando homens maus avançarem contra mim para destruir-me, eles, meus inimigos e meus adversários, é que tropeçarão e cairão. Ainda que um exército se acampe contra mim, meu coração não temerá; ainda que se declare guerra contra mim, mesmo assim estarei confiante.” Salmos 27:1-3

            É exatamente por Deus ser Todo Poderoso, Justo e Amoroso que podemos confiar em suas promessas e, enquanto os ímpios devem temer o castigo proveniente da Justiça do Deus Todo Poderoso, nós podemos descansar neste mesmo Deus Onipotente.

            Agora que mostramos a definição de Onipotência e que ela esta em harmonia com os outros atributos de Deus, podemos entrar nos versos 13 ao 16 em que o salmista usa o milagre da vida para ilustrar o Poder de Deus. É muito importante essa parte de nosso estudo, pois esses versos têm instruções maravilhosas para a nossa edificação.

4.2. A Onipotência demonstrada através do milagre da vida

            O milagre da vida é algo realmente espantoso. É incrível (ou como diria o salmista: Admirável e maravilhoso) como a gestação de uma criança ocorre! Somos no começo sem forma (exatamente como o salmista relata: “No ventre informe...”). Depois, começamos a ser formados interna e externamente. O nosso coração e todos os órgãos internos, nossos braços e pernas começam a aparecer e vamos tomando forma até tudo estar perfeito para o nascimento. O salmista atribui a sua formação no ventre ao poder de Deus quando diz:
           
“Pois Tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu Te louvarei, porque de um modo tão admirável e maravilhoso fui formado; maravilhosas são as Tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não Te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e esmeradamente tecido nas profundezas da terra.” Salmos 139:13-15
           
            É muito interessante o salmista dizer que Deus o entreteceu no ventre de sua mãe. A palavra “entretecer” significa tecer, fiar, entrançar, entrelaçar e etc. Essa palavra mostra a ideia de um alfaiate que vai tecendo seus pontos até formar um traje de gala. Essa comparação não deixa duvidas de que a Bíblia ensina que é Deus quem dá o desenvolvimento no ventre materno. Quando o salmista diz que os seus ossos não foram encobertos, está dizendo que Deus estava presente em sua criação. O milagre da vida só é possível graças à Onipotência de Deus. É importante analisar esse contexto para ter um entendimento verdadeiro do verso seguinte que é muito deturpado por algumas corretes teológicas, principalmente os deterministas. O verso 16 diz:

“Os Teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no Teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia.” Salmos 139:16

            Quando o Salmo diz que essas coisas foram escritas não está se referindo aos seus atos ou de qualquer pessoa, mas está falando diretamente do assunto tratado desde o verso 13 até agora. Podemos fazer a pergunta: Quais coisas foram escritas no livro que em contínuo foram formadas? O texto é claro quando remete isso ao milagre da gestação (os seus olhos viram meu corpo ainda informe). Essa parte mostra claramente o Poder de Deus na criação do ser humano e também a sua Onisciência em saber que o salmista viria a existir. O Hebraísta Dr. Carlos Augusto Vailatt cita o “Argumento do Paralelismo Sinonímico Hebraico” para expressar essa verdade que apresentamos até aqui. Ele diz:

“Sabe-se que uma das características da poesia hebraica é o paralelismo sinonímico. Nesse tipo de recurso literário, a segunda parte de um versículo bíblico repete a mesma ideia da primeira parte com expressões distintas, mas sinônimas. Tendo isso em mente, a expressão “dias foram formados quando nem um deles havia” (Sl 139:16b) parece estar compondo um paralelismo sinonímico com “O meu embrião viram os teus olhos [...]” (Sl 139:16a). Desse modo, a criação do salmista como embrião no útero materno (v.16a) equivale à formação dos dias de vida do salmista, os quais, antes da sua criação, evidentemente ainda não existiam. Portanto, a tônica do Salmo 139:16 é criacionista e não determinista. O que está em vista aqui é a ação maravilhosa de Deus na criação do salmista e não a discussão sobre a determinação de cada um de seus anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos de vida terrena.” [11]

            Assim, fica evidente que o sentido do verso 16 é criacionista e não determinista, pois nada no Salmo indica algo relacionado a Deus determinar todas as ações do ser humano, pois mostra claramente o Poder de Deus na criação do Salmista.

5. A Grandiosidade Divina e a limitação do homem

“E quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grandes são as somas deles! Se as contasse, seriam em maior número do que a areia; quando acordo ainda estou contigo.” Salmos 139:17,18

            Aqui vemos o relato maravilhado do Salmista diante da Grandiosidade de Deus! As Suas obras são magnificas e mostram a sua Grandiosidade. Não tem como o salmista não ficar perplexo diante das maravilhas que acaba de ressaltar. Quando o salmista diz que os pensamentos do Senhor são preciosos, está declarando que é impossível mensurar o Poder e a Sabedoria de Deus. Não são apenas as obras das mãos de Deus que são maravilhosas, mas também seus pensamentos na vida de uma pessoa de fé são objetos de constante admiração. Seus pensamentos são inumeráveis, totalmente impossíveis de contar, além de insondáveis. É impossível ao homem chegar ao Poder e Sabedoria do Altíssimo.

6. A certeza da Justiça Divina e um pedido para ser guiado por Deus

“Ó Deus, Tu matarás decerto o ímpio; apartai-vos, portanto de mim, homens de sangue. Pois falam malvadamente contra Ti; e os Teus inimigos tomam o Teu nome em vão. Não odeio eu, ó Senhor, aqueles que Te odeiam, e não me aflijo por causa dos que se levantam contra Ti? Odeio-os com ódio perfeito; tenho-os por inimigos. Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.” Salmos 139:19-24

a) A certeza da justiça Divina: o Salmista está convicto que Deus sabe de todas as maldades dos ímpios e que nada do que eles fazem pode escapar da Onipresença e Onisciência de Deus. Também está convicto de que Ele é Todo Poderoso para punir os maus. Assim, expressa sua confiança na Justiça Divina ao falar: “Tu mataras decerto o ímpio...” e mesmo que suas maldades sejam habilidosamente disfarçadas e encobertas a fim de escondê-las do mundo. Por mais que o ímpio pense que esta prosperando, por fim, a Justiça de Deus o alcançará. Assim funciona a Justiça de Deus! Ela pune os homens que agem malevolamente. É nessa visão que o teólogo Martthew Henry comenta essa parte do Salmo. Segue:

“O motivo pelo qual Deus os punirá é porque eles O afrontaram malvadamente e o desafiaram: Falaram malvadamente contra Ti e devem ser chamados a prestar contas por todas as suas duras palavras.” [12]
           
Vemos aqui que a punição de Deus é justa, pois esses homens fizeram o que era mal aos olhos do Senhor e o salmista confia que esses ímpios receberão o justo castigo por seus atos.

b) Um pedido para ser guiado por Deus: os pedidos do Salmista são: para Deus o sondar, ver se existe nele algum caminho mau e o guiar pelo Caminho Eterno. É um apelo humilde (que todo o servo do Senhor deve ter em relação aos seus atos e pensamentos) para que Deus mostrasse se existia algo errado com o Salmista, se ele tinha algum pensamento perverso e se ele estava andando no caminho certo. O pedido é para que ele seja guiado no correto caminho que leva a Salvação.

Conclusão:

            O nosso estudo mostrou que o Salmo 139 é cheio de ensinamentos da Grandiosidade de Deus e da maneira como devemos nos portar diante de tamanha Grandeza. O Salmista nos ensinou (inspirado pelo Espirito Santo) que Deus conhece todas as coisas e nada escapa de sua Onisciência, que Ele está em todos os lugares de maneira que não se pode escapar da sua Presença e que Ele é Todo Poderoso e não existe limitação em seu Poder, mas que esse Poder está em perfeita harmonia com seus outros atributos (Justiça, Amor, Verdade e etc.). Aprendemos com tudo isso, que precisamos ser humildes e sempre pedir a Deus para nos examinar e nos mostrar se existe ainda em nós algum caminho mau, pois Ele sabe de todas as coisas e, precisamos estar sempre sendo guiados no Caminho Eterno.

À DEUS SEJA A GLÓRIA!

  
             
             
 









[1] Suma Teológica 1, 14.3 ( citado em TS. Norman Geisler página 710)
[2] Works of Arminio 1,404 CPAD edição de 2015.
[3] O único Deus sábio, Editora Sal Cultural – Primeira edição 2016, página 21
[4] AVIE,3, em roberts and Donaldson, ANF,1 ( ctado em TS Geisler, Norman, página 627)
[5] IBIRD, pag. 630.
[6] TS Geisler Norman, página 707.
[7] Site deusamouomundo.com, acesso em 21 de novembro de 2017 link: http://deusamouomundo.com/onisciencia/a-presciencia-de-deus-anula-o-livre-arbitrio-humano/
[8] Manual Prático de Teologia de Eduardo Joiner, página 64. 2ª edição, Janeiro de 2017, Editora Central Gospel.
[9] TS Walter Brunelli, Volume 1, página 360 editora Central Gospel, 1ªedição Abril/2016
[10] Manual Prático de Teologia, Eduardo Joiner, editora Central Gospel, página 63/ 2ª Edição, Janeiro de 2007 
[11] Dr. Carlos A. Vaillat, em sua página de facebook.
[12] Comentário Bíblico Antigo Testamento de Matthew Henry, página 689 comentário do Salmo 139.  




[i] Atributo incomunicável de conhecer todas as coisas e conhecer antecipadamente.

[ii] Atributo incomunicável de estar em todos os lugares e ao mesmo tempo.

[iii] Atributo incomunicável de poder  todas as coisas.

[iv] Abraham ben Meir ibn Ezra (em hebraico: אברהם אבן עזרא, também conhecido por Abenezra) (1092 ou 1093-1167), foi um importante escritor judeu da idade média. Nasceu em Tudela, no antigo reino Navarra (hoje, Espanha). E faleceu, por volta de 1167, em sítio incerto, mas muito provavelmente em Calahorra, com outros a dizer que foi em Roma ou na Terra Santa. Foi um sábio e rabino espanhol. Cultivou todas as ciências, e mais particularmente a astronomia. Os seus comentários sobre o Antigo Testamento são notáveis por uma grande ousadia de opiniões. Aben-Ezra deu o seu nome a uma cratera lunar.

[v] Rev. William Oscar Emil Oesterley (Calcutá 1866-1950) foi um teólogo da Igreja da Inglaterra e professor de hebraico e antigo testamento no King's College, Londres, desde 1926. [1] Seus muitos livros abrangem uma ampla gama de tópicos do comentário da Bíblia E a doutrina cristã, o judaísmo e o antigo Israel a assuntos mais gerais, como a dança sagrada.

[vi] Stanley Ellisen, professor de literatura Bíblica e chefe da divisão de Estudos Bíblicos no Western Seminary (EUA).

[vii] Tempo constituído de passado, presente e futuro.

[viii] Atributos que não são transmitidos a suas criaturas.

[ix] Ele foi o mais importante proponente clássico da teologia natural e o pai do tomismo. Sua influência no pensamento ocidental é considerável e muito da filosofia moderna foi concebida como desenvolvimento ou oposição de suas ideias, particularmente na ética, lei natural, metafísica e teoria política. Ao contrário de muitas correntes da Igreja na época [5], Tomás abraçou as ideias de Aristóteles - a quem ele se referia como "o Filósofo" - e tentou sintetizar a filosofia aristotélica com os princípios do cristianismo. As obras mais conhecidas de Tomás são a "Suma Teológica" (em latim: Summa Theologiae) e a "Suma contra os Gentios" (Summa contra Gentiles). Seus comentários sobre as Escrituras e sobre Aristóteles também são parte importante de seu corpus literário. Além disso, Tomás se distingue por seus hinos eucarísticos, que ainda hoje fazem parte da liturgia da Igreja.

[x] Não este preso ao tempo- passado, presente e futuro.
[xi] Conhecimento da Historia sem a necessidade de determinar o futuro

domingo, 12 de novembro de 2017

E as crianças? (1ª Samuel 15.2)

E as crianças? (1ª Samuel 15.2)



Essa pergunta foi feita quando debati em um programa de TV com um calvinista que a usou para interromper uma resposta que eu estava dando sobre Jacó e Esaú. Na época (devido às interrupções) tive menos de 30 segundos para responder e por isso me comprometi a voltar debater o tema. Logo a baixo transcrevo a resposta que daria se o tempo fosse propício.

A meu ver, a morte das crianças cumpre dois papéis:

1 - Tratou-se de um ato de Justiça porque Deus disse que visitaria a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que Lhe aborrecessem (Números 14:18). Além de punir duplamente os pais ímpios, ao verem a morte de seus filhos, o Senhor ainda executou a Sua Reta Justiça.

2 - Tratou-se também de um ato de misericórdia porque Deus disse que das crianças é o Reino dos Céus (Mateus 19:14). Com tal afirmação, Deus estabeleceu uma clara diferenciação de condição de julgamento entre adultos e crianças, até porque a quem muito é dado, muito lhe será cobrado (Lucas 12: 48). Dessa forma, a morte das crianças, nos vários episódios registrados na Bíblia, na verdade representa uma ação de misericórdia da parte de Deus. Certamente, se crescessem naquelas condições, elas seriam ímpias como seus pais e morrendo enquanto adultas, receberiam a justa condenação. Podemos lembrar que quando seus pais eram mortos também há misericórdia na morte de crianças, especialmente os bebês, pois se vivessem poderiam morrer à míngua ou ser vendidos como escravos.
Quando alguém cita a morte de crianças como uma justificativa para os supostos decretos de Deus, eu me recordo do acontecimento fatal envolvendo Caim e Abel.
A primeira coisa que me vem à mente é o duplo castigo dos pais deles (Adão e Eva). Eles tinham plena consciência de que o assassinato de um dos filhos era culpa direta das suas desobediências, as quais trouxeram o pecado para o mundo, e com ele, a morte.
Em segundo lugar, fico meditando sobre quem, de fato, foi mais bem aventurado: Caim ou Abel? Caim viveu muitos anos sobre a face da terra, longe de seus pais e de Deus, e levou sobre si a mancha do assassinato do seu irmão. Teve uma vida maldita e terminou sua carreira com o seguinte título da parte de Deus: ERA DO MALIGNO (1ª João 3:12). Já Abel viveu poucos anos sobre a face da terra, mas foi tido como JUSTO pelo Senhor (Mateus 23: 35 e Hebreus 11: 4), fazendo parte da galeria dos heróis da fé.
Para terminar cito o anabatista Menno Simons:

“A SALVAÇÃO DAS CRIANÇAS

Apesar de que as crianças não tem fé e nem recebem o batismo, não pense que por isso estão perdidas. Oh não! São salvas porque tem a promessa do próprio Senhor que delas é o Reino de Deus. Não por meio de algum elemento, cerimônia, nem rito exterior, mas somente pela graça de Jesus Cristo. E é sabido que cremos sinceramente que a graça se estende até elas, e que além disso, são aceitas diante de Deus, puras e santas, herdeiras de Deus e da vida eterna. Com base nesta crença, todos os cristãos devem estar seguros e regozijar-se ante a certeza de que suas crianças são salvas. Se morrerem antes de chegar à idade do entendimento e de poder ouvir e crer, estarão sob a promessa de Deus e serão salvas, e isto não por outros meios, mas pela preciosa promessa da graça dada pelo Senhor Jesus. (Lucas 18:16). Mas se, tendo chegado à idade da compreensão, ouvem e creem, devem ser batizadas. Se não aceitam ou não creem na Palavra uma vez que chegaram nesta época da vida, sejam ou não batizadas, estarão perdidas, como Cristo mesmo ensinou. (Marcos16: 16). Visto que, se sob a Antiga Dispensação as crianças eram recebidas no pacto de Deus mediante a circuncisão, e os da Nova Dispensação por meio do batismo como Ele afirma, daí se desprende irrefutavelmente que as crianças que morreram antes do oitavo dia e aquelas que não foram circuncidadas no deserto (Josué 5:5) assim como todas as mulheres, não pertenciam a Igreja ou congregação Israelita e, portanto não tinham parte na graça, pacto ou promessa. O mesmo deveria aplicar-se as crianças que morrem antes de terem sido batizadas. Oh abominação espantosa!”
Fonte: Biografia de Menno Simons, página 80.



sábado, 4 de novembro de 2017

O Evangelho Inútil



O Evangelho Inútil
Por Georges Nogueira


Quando O Espírito Santo de Deus capacitou os discípulos que se reuniam em oração para a festa judaica da colheita, Ele os capacitou para falarem outras línguas. Falando em outras línguas, aqueles homens se puseram a conversar com homens piedosos, vindos de “todas as nações debaixo do céu”.

Naquele momento, o Senhor capacitava seus apóstolos, seus profetas, seus missionários para levar a Boa Nova do Evangelho a todo o mundo. Imediatamente, Pedro começou uma exposição do Evangelho para aqueles judeus que lá estavam, vindos dos lugares mais remotos. Pedro explicou a esses judeus que Deus havia feito daquele mesmo Jesus a quem eles haviam crucificado “o Senhor e Cristo”. Como a Palavra de Deus nunca volta vazia, muitos se interessaram e, tendo questionado sobre o que deveriam fazer, obtiveram de pronto a resposta de Pedro: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”.

A Palavra de Deus nos revela que naquele dia quase três mil foram batizados, dentre os que “aceitaram a palavra” de Pedro. (At 2.1-41). Essa é a narrativa do Espírito de Deus agindo no homem para levar outros homens perdidos a Deus.

Sou um pentecostal. Essa narrativa deveria ser o relato quotidiano do que acontece em minha Igreja. Mas não é o que vejo. Recapitulando para efeito de comparação:

Na Igreja de Atos:

1 – O Espírito Santo capacitou os discípulos a falarem em outras línguas, para que pudessem alcançar os homens de todas as nações;

2 – Um dos discípulos se colocou prontamente a expor a boa nova do Evangelho do Cristo;

3 – Esse mesmo discípulo lembrou aos ouvintes de sua depravação total;

4 – O apóstolo exortou os ouvintes ao arrependimento, e convidou-os a que se batizassem em nome de Jesus Cristo.

5 – Quase três mil foram batizados naquele mesmo dia, sendo salvos da condenação eterna, transformados e libertos pelo precioso sangue vertido na cruz do calvário.

Na igreja de hoje:

1 – O “ispírito santu” capacita os cristãos a, pulando e gritando, falarem em línguas que talvez possam alcançar os extra-terrestres, porque em nenhum lugar do planeta terra existe um idioma em que “Olambashuria” ou “balabacanta” signifiquem alguma coisa;

2 – Na sequência, um pastor se coloca a prontamente a expor as maravilhosas bênçãos financeiras que o “deus do ouro e da prata” tem para oferecer a todo aquele que semeia uma oferta generosa;

3 – O pastor, ou bispo, ou apóstolo, ou patriarca, ou deputado-empresário, exorta os ouvintes ao arrependimento, lembrando-lhes sempre do capítulo três de Malaquias, instando aos ouvintes para que deixem de roubar o dízimo do senhor;

4 – Este mesmo líder amado do item acima conclama aos ouvintes para que recebam a “unção poderosa requentada na fogueira santa do monte Sinai e resfriada com a água sagrada do Jordão na fé dos trezentos e dezoito do balacobaco poderoso para o desencapetamento total derrubando os gigantes no poder do código do líder”. Distribui os carnês para que cada ouvinte se torne “Parceiro ministerial de deus no módulo gold platinum plus hyper mega magamalabares gideão góspel da muléstia vip cinco estrelas master”. Você pode pagar a mensalidade com o cartão de crédito da Igreja, e com isso ganhar cinco por cento de desconto na mensalidade da TV por assinatura da igreja.

5 – Pelo menos cinco mil devem contribuir com uma semente de seiscentos e dez naquele dia, e outros mil e quinhentos com a semente de mil para que se resgate um milhão de almas do purgatório do Serasa (acho que é isso mesmo).

Como consequência dos eventos narrados em Atos, temos uma Igreja que é descrita da seguinte maneira:

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (At 2.42-47).
Como consequência dos eventos comuns nos “cultos” de hoje, temos uma “igreja” que é descrita da seguinte maneira:

E perseveram na idolatria aos “líderes”, e na ignorância, sendo utilizados como massa de manobra por políticos inescrupulosos, financiando aviões e todo tipo de conforto para sujeitos que se autodenominam “apóstolos ou bispos e bispas ou patriarcas”. Em cada alma há temor do devorador, e por isso mantêm seus carnês em dia, e muitos prodígios de gente caindo no chão, conversando com anjos imaginários e falando em línguas que não existem são feitos por intermédio dos paipóstolos. Todos os que crêem vão ao encontro, mas não têm nada em comum, porque tem sempre um mais santo do que o outro, dependendo do prestígio de sua profissão, do status do sobrenome de sua família ou da proximidade que mantém com o seu “líder” ou com a família deste. Alguns vendem suas propriedades e bens, doando tudo para a “igreja” para depois entrarem na justiça porque sua doação não foi multiplicada por cem. Ninguém dá a mínima para o “irmão” que passa por alguma necessidade, por que se o “deus do ouro e da prata” não o abençoou, é porque ele deve estar vivendo em pecado. Mensalmente, lotando a igreja sempre nos cultos de ceia, perseveram “thuthucos” e “thuthucas” no templo, aqueles sempre de olho nas pernas e nos decotes das últimas, porque ninguém mais precisa se vestir com decência que isso é coisa de gente antiga e não faz parte dos “projetos do coração de deus”, e esta nova geração é livre para fazer o que quiser naquele que primeiro nos amou. Partem o pão na casa dos mais abastados, e tomam as refeições uns dos outros, se empurrando, se atropelando e se acotovelando nas filas de cada jantar promovido pela “igreja”, porque todo mundo sabe que “crente adora um arroz e uma coca-cola”, e porque cada um se acha superior aos outros na hora de “pegar o rango”, uns porque são obreiros, outros porque são da família do pastor, outros porque têm vinte anos naquela igreja, e outros simplesmente porque sabem que quem chega por último “pega resto”, louvando sempre ao “deus do ouro e da prata”, Jeová girê, e contando com a antipatia de toda a sociedade por sua arrogância, por sua pretensa superioridade, por sua gritaria inútil, por sua hipocrisia e porque simplesmente não transparecem nenhuma das qualidades do Cristo ressuscitado em seu caráter. Enquanto isso, acrescenta-lhes o sinhozinho, dia a dia, os que vão sendo enganados.

Que Deus tenha misericórdia de nós. Que possamos nos livrar de todo o engano e voltar ao culto saudável e cristocêntrico que tem o poder de converter e salvar almas