segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

“Vamos falar sobre Jesus” Nosso Profeta, Sacerdote e Rei.


“Vamos falar sobre Jesus” Nosso Profeta, Sacerdote e Rei.

Recentemente uma pessoa me censurou por não falar suficientemente sobre Jesus. Bom, em minha própria defesa, minha total e completa razão para criticar o Calvinismo (assim como outras teologias errôneas) é Jesus. Jesus como Deus encarnado, a perfeita e compreensível revelação de Deus, o caráter e vontade de Deus, forma o fundamento e o centro de toda a minha teologia. Eu pensei ter deixado isso claro, mas aparentemente não explícito o suficiente para ele. Então deixe-me dizer isso novamente: Para mim Jesus Cristo é Deus e Salvador, a perfeita revelação de Deus na humanidade, a “face humana de Deus”, o divino na humanidade, o mediador entre Deus e a humanidade, o fundamento e centro de todo o pensamento e fé Cristã, a chave para compreender a história e toda a realidade incluindo a mim mesmo como pecador salvo pela graça. Essa é a minha confissão como um teólogo Cristão. É claro, muito mais poderia e deveria ser dito, tem sido dito (por mim) e será dito.

Um aspecto da minha declarada espiritualidade Pentecostal-Pietista é a centralidade de Jesus Cristo não somente como Deus, Senhor e Mestre, mas também como amigo. Com certeza, ele é um amigo único, diferente de qualquer outro amigo, mas não obstante, também e ao mesmo tempo,  amigo daqueles que obedeçam ao seu mandamento que é amar a ele e uns aos outros. Nenhum de nós faz isso perfeitamente, mas ele continua sendo nosso amigo na medida que nós buscamos essa disposição e atitude de coração. E essa é uma condição que ele nos dará se nós pedirmos a ele.

            Eu cresci em uma igreja grande e extensa família (de várias denominações!) que cantava e falava frequentemente a respeito de Jesus nosso amigo. Jesus era membro de nosso domicílio. Ele sempre estava lá, assistindo, esperando, ouvindo, até falando. Intimidade com Jesus era parte e parcela do nosso ethos espiritual. Desde muito cedo eu conheci Jesus não somente como amigo, mas também como Senhor e Salvador.

            Eu cresci tendo conversas com Jesus; eu ainda faço isso. Várias manhãs eu acordo com um hino ou uma canção gospel em minha mente e coração, até mesmo em meus lábios, e daí se inicia uma conversa com Jesus que se prolonga pelo dia todo. “Amizade com Jesus, companheirismo divino. Ó que abençoada e doce comunhão; Jesus é meu amigo.” Isto está  no coração da minha espiritualidade e declarada teologia. Este amigo meu é alguém que revela o coração de Deus para mim e eu o conheço como alguém que nunca criaria uma pessoa para o tormento eterno. Ele não é “bacana”, mas ele é bom; ele não é “uma boa”, mas ele é amável. Ele me dá conforto e aflição na medida certa – como um verdadeiro e bom amigo. Eu tenho dificuldades com Cristãos que não conhecem ou não querem conhecer essa intimidade com Jesus que repousa no centro da minha espiritualidade Cristã. A mera ortodoxia não me interessa; e nem a “relevância para cultura”. Ambas tem algum valor, mas elas não são cruciais para se conhecer a Deus da maneira que Deus deseja ser conhecido – em comunhão por meio do que Emil Brunner chamou “O encontro Eu-Tu“.

            Eu respeito os companheiros Cristãos de espiritualidade mais litúrgica e contemplativa, mas eu nunca entendi a adoração litúrgica ou misticismo deles. Eu não os estou diminuindo, mas confesso ficar confuso e perplexo com eles. Eles não reforçam minha espiritualidade que gira quase exclusivamente em torno da devoção conversional – “relacionamento pessoal com Jesus.”

            Um aspecto da tradição e teologia Reformada que se associa bem com minha espiritualidade centrada em Jesus é compreender Jesus como profeta, sacerdote e rei. Quando criança eu primeiro me deparei com esses “três ofícios de Cristo” no hino “Louve ele, louve ele...profeta e sacerdote e rei.” Mais tarde, no seminário, eu encontrei esta designação para compreensão “da obra de Cristo” primeiro no volume dois da Dogmática de Brunner e depois nas Institutas de Calvino.

            Meu amigo Jesus é também, e antes de ser meu amigo pessoal, o exclusivo escolhido e ungido profeta para a humanidade – mais do que qualquer profeta anterior, nele é Deus revelando a si mesmo à humanidade. Ele é maior do que qualquer mero profeta humano e ainda cumpre esse ofício perfeitamente já que eles (de Moisés até João Batista) cumpriram o ofício imperfeitamente. Como meu amigo divino-humano, Jesus funciona como profeta para mim por meio da sua vida de perfeita obediência à vontade de Deus e condenatória, desafiadora voz corretiva, encorajando e conduzindo-me. Eu conheço sua voz profética primeiro e primordialmente pela Escritura, o “berço que o sustém (Lutero), mas eu também ouço sua voz profética na pregação do evangelho, nos testemunhos dos companheiros Cristãos, na voz dos críticos sociais pedindo por justiça, nos trabalhos da literatura devocional e na “ainda, e pequena voz” que fala comigo me corrigindo, encorajando e dirigindo em meu próprio coração e mente. Meu amigo Jesus é também, e antes de ser meu amigo pessoal, o exclusivo escolhido e ungido sacerdote para a humanidade – mais do que qualquer sacerdote humano (mediador) antes ou após ele. Ele voluntariamente ofereceu a sua vida para e por todos os pecadores, reconciliando-nos com Deus através da sua vida e morte sacrificial. A sua morte expiatória é o centro de todas as coisas – incluindo a própria história. Sem ela eu e todas as pessoas estaríamos perdidos; por causa dela todos temos esperança de liberdade e vida abundante. Amo meditar a respeito da cruz, cantar a respeito da cruz, ouvir pregação sobre a cruz e até ver re-encenações da cruz em “peças de teatro sobre a paixão” que eram mais comuns quando eu era criança.

            Meu amigo Jesus é também, e antes de ser meu amigo pessoal, o exclusivamente escolhido e ungido rei para a humanidade – mais do que qualquer governante humano, senhor ou comandante. Jesus ressuscitou, vencendo o medo da morte para todos que confiam nele, e irá voltar à terra como messias trazendo perfeita paz, justiça e prosperidade para todas as pessoas. No ínterim, “o tempo entre os tempos” o “já mas não ainda” ele é rei por direito e intervém com poder sobre o pecado, morte e o maligno quando a igreja ora. O hino “Um dia” expressa lindamente estes três ofícios do meu amigo Jesus.

Um dia encheram-se os céus de louvores, quando no mundo reinava o mal. Cristo desceu e nasceu de uma virgem, para trazer-nos o amor divinal.
Vivo, ele amou-me; na cruz, salvou-me; e o meu pecado na tumba deixou. E, ressurreto, justificou-me; um dia, em glória, Jesus voltará.
Um dia Cristo subiu ao Calvário, onde o pregaram na cruz de amargor; em grande angústia, por nós rejeitado, para remir-nos morreu o Senhor. 
Um dia a tumba não mais o reteve, glória a Jesus, Santo Filho de Deus! Ressuscitou, conquistou a vitória e, junto ao Pai, intercede nos céus.
Um dia, ao som da gloriosa trombeta, Cristo Jesus em poder voltará. Entre os remidos de todos os tempos, em grande glória o Senhor reinará.

Este hino do evangelista e teólogo J. Wilbur Chapman expressa minha fé e o centro da minha vida espiritual. Também expressa a estória no coração da minha teologia – a verdadeira estória de Deus conosco no homem Jesus que ainda vive como o perfeito profeta de Deus, sacerdote e rei vivendo em e conosco por meio de nossa fé nele.
            Isto poderia ser o suficiente para unir todos os Cristãos evangélicos; meu desejo é que pudesse ser assim, que fosse assim. Infelizmente, existem aqueles Cristãos evangélicos para os quais isso nunca é o bastante. Para alguém ser considerado verdadeiro, autêntico e completo Cristão essa pessoa deve adotar toda teologia sistemática deles. Esta é a teologia Sistemática de Charles Hodge – mesmo quando eles não a conheçam pelo nome. (Seus líderes teológicos a conhecem, mas a fazem parecer como sendo simplesmente a “Bíblia” e “Os Evangelhos”).


            Então, do outro lado, existem os Cristãos evangélicos que se colocam acima” de toda “conversa banal” de Jesus como “amigo” como intrinsecamente trivial. À luz de João 15 (e minha própria espiritualidade) eu simplesmente não entendo essa perspectiva. Jurgen Moltmann, um teólogo alemão que muito me influenciou, enfatiza o desejo de Deus em ser nosso amigo através de Jesus Cristo. Todo conceito pode ser e é banalizado por alguém, em algum lugar. Nossa tarefa, minha tarefa, é recuperar bons conceitos bíblicos que tem sido banalizados por outros e evitar que eu faça o mesmo que eles. Estou certo que existem alguns que fazendo essa leitura acham que eu mesmo o banalizei em minha própria espiritualidade e testemunho, mas tudo o que posso dizer a eles é que eles não são meus juízes. Ele é meu amigo e juiz. Eu descansarei nele e serei julgado por ele.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Calvinismo, Panteismo e a bondade de Deus.

Calvinismo, Panteísmo e a bondade de Deus.


Por: Wesley Walker
Tradução: Macia Elias
 

"Dizer que a bondade de Deus pode ser diferente da bondade do homem, o que isso quer dizer, com uma pequena mudança da fraseologia, é que é possível que Deus não seja bom?" perguntou o filósofo John Stuart Mill. Infelizmente, esta redefinição da natureza de Deus ocorre como consequência lógica da teologia Calvinista. O caso pode ser esclarecido ao comparar o Calvinismo com panteísmo.

    Antes de detalhar esses pontos de conexão, é importante definir os termos. O Calvinismo se refere aos movimentos teológicos Cristãos que procura enfatizar o conceito de "soberania", assim reduzindo Deus ao que o teólogo e filósofo Ortodoxo Oriental David Bentely Hart chama de "um puro esforço da vontade". Panteísmo é a crença de que o universo inteiro é uma expressão de Deus.
    Não sou o primeiro a associar o Calvinismo ao panteísmo. Jonathan Edwards, pregador do sermão determinista "Pecadores nas Mãos de um Deus Irado", foi acusado de ser um panteísta. Muitos críticos, Cristãos e não-Cristãos, tem lançado ataques aos modelos de teologia Calvinistas usando semelhantes linhas de pensamento, incluindo um do fundador do movimento Universalista Unitariano, William Ellery Channing. O que eu quero focar é como tanto o Calvinismo como o panteísmo redefine "bom" e "mau".


    Na cosmovisão Calvinista, tudo é como Deus assim o desejou. Por uma questão de coerência, aqueles da posição Reformada tem que acreditar que o mundo existe tal como é porque Deus quis trazer para si mesmo o tanto de glória que fosse possível. Dessa forma, nesse sistema, a definição de "bom" é relegada ao que quer seja porque de alguma forma promove gloria a Deus. Isto é o que Calvino argumenta na Institutas. Um panteísta tem semelhantes dificuldades para obter uma definição de bom.


    Um exemplo concreto ilustra esse princípio. Para um panteísta, coisas como o surto de uma doença ou um desastre natural que levam a uma massa de casualidades não pode ser objetivamente ruim. Pode ser doloroso de uma perspectiva subjetiva, mas não há nenhuma base para caracterizar isso como mau. Isto porque a bactéria que promove a doença ou o elemento físico envolvido no desastre natural são somente uma expressão de Deus como uma pessoa, uma árvore, ou um "lindo" pôr do sol.
De forma similar, o Calvinista não pode dizer que a doença ou os desastres naturais são objetivamente ruins porque eles expressam a vontade de Deus, designados para promover a maior glória possível a Ele. Este problema é descrito naquilo que o próprio Calvino escreve. Enquanto ele tenta proteger Deus de qualquer culpabilidade moral pelo pecado e o mal, ele também admite, "O que Satanás faz, a Escritura afirma ser de um outro ponto de vista do trabalho de Deus." Obras e eventos que parecem contraditórias aos mandamentos e natureza de Deus são automaticamente enxertados na sua vontade.

    Na verdade, a estrutura Calvinista tem uma extraordinária semelhança com o yin e o yang. Estes símbolos Chineses tem a intenção de mostrar que todas as coisas são interdependentes e complementares. Este conceito é "Cristianizado" por Edwards quando ele argumenta, "Não haveria nenhuma manifestação da graça de Deus ou de verdadeira bondade, se não houvesse pecado a ser perdoado, de ser salvo da miséria." Ambos extremos são necessários para que Deus receba a glória que merece.


    A esse respeito, Calvinismo e panteísmo criam cada um, impacto semelhante: eles desestabilizam qualquer definição objetiva de bom e tornam a realidade do mal ilusória. Por meio dessa ruptura de definição do mal, a definição de bom torna-se arbitrária e fluída.


    A alternativa a esse problema criado por estas cosmovisões é reconhecer o mal como uma consequência lógica do pecado. É totalmente separado de Deus em um nível ontológico. A oportunidade para pecar é uma condição necessária para um relacionamento significativo baseado em amor mútuo. A responsabilidade de pecar cai sobre aquele que o comete e as consequências são a separação de Deus.


    Calvinistas e panteístas ficam paralisados ao descrever "bom", resignando-se a definir o que meramente "é". Na realidade, o significado de bom necessita estar ancorado na inteira natureza de Deus. Em resposta, os Calvinistas apontam uma lacuna epistêmica entre a humanidade e Deus, declarando que nós, como humanos, não podemos compreender a natureza dele. Entretanto, esta não é uma distinção apropriada. Além do seu imenso amor pela criação e seu desejo de reconciliação e intimidade, ele revelou a si mesmo ao mundo por meio da natureza, a Sagrada Escritura e pelo seu Filho. A fim de verdadeiramente e acertadamente começar a compreender e definir o que é bom, deve-se começar com a inteira natureza de Deus como o padrão definitivo. Para se fazer determinações morais a respeito do mundo, deve-se meticulosamente comparar situações e eventos com o caráter de Deus.


    Se "bom" é determinado por algo que não a natureza de Deus, cai-se numa falha que é conhecida como o Dilema de Eutífron. Esse enigma diz que a moralidade é inteiramente arbitrária (ex. Deus poderia facilmente criar um mundo onde mentir seria virtuoso e a monogamia uma perversão) ou o padrão de bom existir independentemente de Deus o que poderia levar a sérias dúvidas a respeito de sua deidade e justiça.


    No Calvinismo, a definição de "moral" e "bom" tornam-se arbitrárias. Elas são aquelas coisas que dá a Deus a maior glória. Os reprovados em certo sentido são "bom" porque a condenação deles é um pré requisito para a demonstração da graça de Deus. Os eleitos são também "bom" porque eles destacam a misericórdia de Deus.


    Somente em uma abordagem que usa a natureza de Deus como medida é possível categorizar bom e mal de uma maneira adequada. Rejeitar essas interpretações Calvinistas a respeito do mundo evita cair nas armadilhas do panteímo e no Dilema de Eutrífon.

Sobre o autor: Wesley Wlaker é seminarista na Rawlings School of Divinity at Liberty University e membro ativo na Igreja Anglicana na América do Norte.