Tradução: Macia Elias
"Dizer que a bondade de Deus pode ser diferente da bondade do homem, o que isso quer dizer, com uma pequena mudança da fraseologia, é que é possível que Deus não seja bom?" perguntou o filósofo John Stuart Mill. Infelizmente, esta redefinição da natureza de Deus ocorre como consequência lógica da teologia Calvinista. O caso pode ser esclarecido ao comparar o Calvinismo com panteísmo.
Antes de detalhar esses pontos de conexão, é importante definir os termos. O Calvinismo se refere aos movimentos teológicos Cristãos que procura enfatizar o conceito de "soberania", assim reduzindo Deus ao que o teólogo e filósofo Ortodoxo Oriental David Bentely Hart chama de "um puro esforço da vontade". Panteísmo é a crença de que o universo inteiro é uma expressão de Deus.
Não sou o primeiro a associar o Calvinismo ao panteísmo. Jonathan Edwards, pregador do sermão determinista "Pecadores nas Mãos de um Deus Irado", foi acusado de ser um panteísta. Muitos críticos, Cristãos e não-Cristãos, tem lançado ataques aos modelos de teologia Calvinistas usando semelhantes linhas de pensamento, incluindo um do fundador do movimento Universalista Unitariano, William Ellery Channing. O que eu quero focar é como tanto o Calvinismo como o panteísmo redefine "bom" e "mau".
Na cosmovisão Calvinista, tudo é como Deus assim o desejou. Por uma questão de coerência, aqueles da posição Reformada tem que acreditar que o mundo existe tal como é porque Deus quis trazer para si mesmo o tanto de glória que fosse possível. Dessa forma, nesse sistema, a definição de "bom" é relegada ao que quer seja porque de alguma forma promove gloria a Deus. Isto é o que Calvino argumenta na Institutas. Um panteísta tem semelhantes dificuldades para obter uma definição de bom.
Um exemplo concreto ilustra esse princípio. Para um panteísta, coisas como o surto de uma doença ou um desastre natural que levam a uma massa de casualidades não pode ser objetivamente ruim. Pode ser doloroso de uma perspectiva subjetiva, mas não há nenhuma base para caracterizar isso como mau. Isto porque a bactéria que promove a doença ou o elemento físico envolvido no desastre natural são somente uma expressão de Deus como uma pessoa, uma árvore, ou um "lindo" pôr do sol. De forma similar, o Calvinista não pode dizer que a doença ou os desastres naturais são objetivamente ruins porque eles expressam a vontade de Deus, designados para promover a maior glória possível a Ele. Este problema é descrito naquilo que o próprio Calvino escreve. Enquanto ele tenta proteger Deus de qualquer culpabilidade moral pelo pecado e o mal, ele também admite, "O que Satanás faz, a Escritura afirma ser de um outro ponto de vista do trabalho de Deus." Obras e eventos que parecem contraditórias aos mandamentos e natureza de Deus são automaticamente enxertados na sua vontade.
Na verdade, a estrutura Calvinista tem uma extraordinária semelhança com o yin e o yang. Estes símbolos Chineses tem a intenção de mostrar que todas as coisas são interdependentes e complementares. Este conceito é "Cristianizado" por Edwards quando ele argumenta, "Não haveria nenhuma manifestação da graça de Deus ou de verdadeira bondade, se não houvesse pecado a ser perdoado, de ser salvo da miséria." Ambos extremos são necessários para que Deus receba a glória que merece.
A esse respeito, Calvinismo e panteísmo criam cada um, impacto semelhante: eles desestabilizam qualquer definição objetiva de bom e tornam a realidade do mal ilusória. Por meio dessa ruptura de definição do mal, a definição de bom torna-se arbitrária e fluída.
A alternativa a esse problema criado por estas cosmovisões é reconhecer o mal como uma consequência lógica do pecado. É totalmente separado de Deus em um nível ontológico. A oportunidade para pecar é uma condição necessária para um relacionamento significativo baseado em amor mútuo. A responsabilidade de pecar cai sobre aquele que o comete e as consequências são a separação de Deus.
Calvinistas e panteístas ficam paralisados ao descrever "bom", resignando-se a definir o que meramente "é". Na realidade, o significado de bom necessita estar ancorado na inteira natureza de Deus. Em resposta, os Calvinistas apontam uma lacuna epistêmica entre a humanidade e Deus, declarando que nós, como humanos, não podemos compreender a natureza dele. Entretanto, esta não é uma distinção apropriada. Além do seu imenso amor pela criação e seu desejo de reconciliação e intimidade, ele revelou a si mesmo ao mundo por meio da natureza, a Sagrada Escritura e pelo seu Filho. A fim de verdadeiramente e acertadamente começar a compreender e definir o que é bom, deve-se começar com a inteira natureza de Deus como o padrão definitivo. Para se fazer determinações morais a respeito do mundo, deve-se meticulosamente comparar situações e eventos com o caráter de Deus.
Se "bom" é determinado por algo que não a natureza de Deus, cai-se numa falha que é conhecida como o Dilema de Eutífron. Esse enigma diz que a moralidade é inteiramente arbitrária (ex. Deus poderia facilmente criar um mundo onde mentir seria virtuoso e a monogamia uma perversão) ou o padrão de bom existir independentemente de Deus o que poderia levar a sérias dúvidas a respeito de sua deidade e justiça.
No Calvinismo, a definição de "moral" e "bom" tornam-se arbitrárias. Elas são aquelas coisas que dá a Deus a maior glória. Os reprovados em certo sentido são "bom" porque a condenação deles é um pré requisito para a demonstração da graça de Deus. Os eleitos são também "bom" porque eles destacam a misericórdia de Deus.
Somente em uma abordagem que usa a natureza de Deus como medida é possível categorizar bom e mal de uma maneira adequada. Rejeitar essas interpretações Calvinistas a respeito do mundo evita cair nas armadilhas do panteímo e no Dilema de Eutrífon.
Sobre o autor: Wesley Wlaker é seminarista na Rawlings School of Divinity at Liberty University e membro ativo na Igreja Anglicana na América do Norte.
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