terça-feira, 20 de setembro de 2016

A IMPORTÂNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO.

A IMPORTÂNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO.


Por Everton Edvaldo.
"Eu, na verdade, vos batizo em água, na base do arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo, e em fogo." (Mateus 3.11)
Introdução: O batismo no Espírito Santo é um dos assuntos mais discutidos dentro da cristandade atual. Desde o advento do Movimento Pentecostal, esta doutrina tem sido ensinada com bastante ênfase pelos pentecostais. Porém, podemos notar que muitas igrejas, ditas pentecostais, já não estão no mesmo ritmo em que começaram. Alguns crentes não têm o entendimento correto sobre o que é o batismo e por que devemos buscá-lo. Com isso, ele acaba sendo confundido com outras coisas ou distorcido. Neste artigo, pretendo abordar a importância do batismo no Espírito Santo para os nossos dias, dentro de uma perspectiva bíblica e pentecostal. Boa leitura!
I- O QUE É O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO.
A expressão "batismo no Espírito Santo" é frequentemente usada nas igrejas pentecostais. Porém, o que é o batismo no Espírito Santo?
É uma doutrina bíblica. Antes de tudo, é preciso dizer que é uma doutrina bíblica. A alusão a esse batismo, pode ser constatada nas Escrituras tanto direta quanto indiretamente. Por exemplo, discorrendo acerca de Jesus aos judeus, João Batista declarou: "...ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo." (Mt 3.11; cf. Mc 1.8; Lc 3.16). O próprio Jesus disse em Atos 1.5: "Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias." Vale salientar que "a preposição 'com' é a partícula grega ‘en’, que pode ser traduzida como ‘em’ ou ‘com’. Por isso, muitos preferem a tradução 'sereis batizados no Espírito Santo." (STAMPS, p. 1626). A expressão ainda aparece em Atos 11.16 por intermédio do apóstolo Pedro.
Existem várias outras expressões na Bíblia que se referem a essa experiência incomparável com o Espírito Santo, porém, "batismo no Espírito Santo" é a mais comum dentro do Pentecostalismo.
O batismo no Espírito Santo é um presente de Deus para os salvos, capacitando-os para fazer sua obra e revestindo-os de poder espiritual. Segundo o pastor e teólogo Antonio Gilberto: "O batismo com o Espírito Santo é um revestimento de poder, com a evidência física inicial das línguas estranhas para o ingresso do crente numa vida de profunda adoração e eficiente serviço a Deus (Lc 24.49; At 1.8; 10.46; 1 Co 14.15,26). (GILBERTO, p. 29).
Diferente do que muitos pensam, o batismo no Espírito Santo não é a mesma coisa que conversão. Conforme pontua a Bíblia de Estudo Pentecostal: "O batismo no Espírito Santo é uma obra distinta e à parte da regeneração, também por Ele efetuada. Assim como a obra santificadora do Espírito é distinta e completiva em relação à obra regeneradora do mesmo Espírito, assim também o batismo no Espírito complementa a obra regeneradora e santificadora do Espírito. [...] Ser batizado no Espírito significa experimentar a plenitude do Espírito (cf. At 1.5; 2.4). Este batismo teria lugar somente a partir do dia de Pentecostes. Quanto aos que foram cheios do Espírito Santo antes do Pentecostes (e.g. Lc 1.15, 67), Lucas não emprega a expressão 'batizados no Espírito Santo'. Este evento só ocorreria depois da ascensão de Cristo (At 1.2-5; Lc 24.49-51, Jo 16.7-14)." (STAMPS, p. 1627).
É bem verdade que no momento da conversão, o Espírito Santo vem habitar dentro do crente, porém o batismo é uma experiência distinta do novo nascimento. O livro de Atos dos Apóstolos confirma este entendimento. Quando foram batizados no Espírito Santo, os discípulos que ali estavam reunidos, já eram salvos (cf Atos 2.1-18). Os pentecostais acreditam que esse batismo ocorre geralmente após a regeneração e sempre acompanhado pela evidência inicial do falar em outras línguas. Essa é a posição pentecostal tradicional de teólogos como José Gonçalves, Gunnar Vingren, Samuel Nyström, Nemuel Kessler, Gilberto Malafaia, Raimundo de Oliveira, Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Eurico Bergstén, Stanley Horton, entre outros.
O batismo é um mergulho glorioso! O teólogo Eurico Bergstén afirma que: "Ser batizado com o Espírito Santo significa ser imerso na plenitude do Espírito." (BEGSTÉN, p.16). O pastor Elienai Cabral também compartilha desse entendimento: "Ser batizado no Espírito é uma experiência distinta que equivale a ser mergulhado na fonte do Espírito." (MESQUITA, v. 3, p. 35-36).
II- PODER DO ALTO PARA FAZER A OBRA DE DEUS.
De acordo John W. Wyckoff: "Os pentecostais acreditam firmemente que o propósito primário do batismo no Espírito Santo é o poder para o serviço." (HORTON, p. 457). A História do Cristianismo está repleta de relatos de homens e mulheres que eram comprometidos em fazer a obra de Deus. Fazer a obra de Deus exige esforço, tempo e dedicação daquele que se dispõe a fazê-la, porém, aquele que se dispõe a fazê-la, necessita de poder do alto para desenvolvê-la. Em João 15.5, Jesus revela que sem ele nada podemos fazer. Que fique claro que Ele é o principal arquiteto desta obra. Aleluia!
O Pastor José Wellington Bezerra da Costa nos informa que "... quando um repórter perguntou a Daniel Berg quando esteve no Brasil pela última vez, antes de passar para o Senhor, qual o segredo do crescimento das Assembleias de Deus no Brasil, ele simplesmente respondeu: "É o Espírito Santo. É o Espírito Santo que batiza crentes e eles saem pregando o Evangelho e ganhando almas para Jesus. É esse o segredo." (MESQUITA, v. 3, p. 219). Ou seja, o batismo é uma capacitação divina para trabalharmos para Jesus.
Segundo Eurico Bergstén: "O grande objetivo do batismo com o Espírito Santo é suprir os crentes de poder do alto para serem testemunhas do Senhor." (BEGSTÉN, p. 41). Os discípulos foram revestidos de poder para pregar o evangelho com mais ousadia e autoridade.
Essa foi uma promessa feita pelo próprio Senhor Jesus: "Eis que envio sobre vós, a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder." (Lucas 24.49).
Conforme escreveu Elienai Cabral: "...O Espírito reveste o crente com poder para que este faça a vontade de Deus; para fazer a sua obra. Que podemos fazer sem o "poder do Espírito"? Nada! Precisamos do poder de encorajamento, de renúncia, de amor, para fazermos a obra de Deus. Os discípulos de Jesus, enquanto não foram revestidos do poder, estavam medrosos, assustados, com medo de morrer e acovardados. (...) Este poder capacita o crente a fazer bem a obra de Deus. Dá-lhe condições de vencer os obstáculos morais, físicos, materiais e espirituais." (MESQUITA, v.3, p. 35-36).
É necessário deixar claro que a extensão desta promessa não se limitou apenas aos discípulos, mas a todos os salvos. Foi exatamente isso que ensinou o apóstolo Pedro em seu sermão no dia do Pentecostes: "Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar." (Atos 2.39).
Nesse ponto contribui Francisco Pereira do Nascimento: "A promessa do batismo no Espírito Santo, não é uma promessa limitada, como o Inimigo tem espalhado, porém é uma promessa que se estende de geração em geração sobre aqueles que aceitam Jesus como único e suficiente Salvador." (MESQUITA, v. 2, p. 27).
III - MANIFESTAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS.
Sim, o batismo no Espírito Santo promulga a manifestação da multiforme sabedoria de Deus no meio da sua igreja. Segundo o pastor Antonio Gilberto: "O batismo com o Espírito Santo abre caminho para a manifestação dos dons espirituais, segundo a vontade e propósitos do Senhor." (GILBERTO, p. 7).
Deus capacita seus servos com dons para atender todas as necessidades eclesiásticas. De acordo com Carl Henry: "Negligenciar a doutrina da obra do Espírito... cria uma igreja confusa e incapacitada." (HORTON, p. 462). Uma igreja onde não existe a atuação do Espírito Santo é uma igreja morta. Lamentavelmente, a Igreja tem vivido dias difíceis, onde muitos cristãos têm desprezado os dons espirituais. Uma geração incrédula pode ser percebida não só nas igrejas como também nas redes sociais. Todos os dias, os opositores do Pentecostalismo ridicularizam, zombam e desrespeitam as manifestações carismáticas.
Entretanto, não devemos desanimar! Não é do desejo de Deus que a chama pentecostal se apague. Através dos dons espirituais, o Nome Dele tem sido engrandecido e glorificado em nosso meio. Diariamente, muitas pessoas têm sido abençoadas com curas, libertações, batismo, salvação, sabedoria, etc. Por que essas coisas têm acontecido? Porque Deus não mudou! Ele operou no passado e também opera no presente. A maneira como Deus age no meio do seu povo é contagiante! Ele pode fazer coisas gloriosas através dos seus instrumentos!
Se as nossas igrejas deixarem de se interessar pelas bênçãos do Espírito Santo, o mundanismo irá prevalecer sobre nós.
Sendo a Igreja um corpo, é de se esperar que nela haja vida e dinamismo. O batismo no Espírito Santo concede essa bênção! John W. Wyckoff pontua uma coisa interessante acerca das pessoas batizadas:
"As pessoas batizadas no Espírito Santo e revestidas pelo seu poder afetam o restante do corpo de crentes. Menzies afirma que 'o batismo no Espírito Santo fica sendo a entrada para um modo de adoração que abençoa os santos de Deus reunidos. Esse batismo é a entrada para numerosos ministérios no Espírito, chamados dons do Espírito, inclusive muitos ministérios espirituais." (HORTON, p. 458).
IV- FORÇA PARA RESISTIR AOS ATAQUES DO MALIGNO.
Diariamente, a Igreja é bombardeada com investidas malignas. O diabo trabalha para esfriar as igrejas, apagar o fogo do Espírito, destruir famílias, proclamar pregações antropocêntricas e desviar os fiéis. Diante disso, precisamos estar revestidos pelo Espírito Santo a fim de sairmos vitoriosos!
Segundo Eurico Begstén: " A necessidade de poder divino continua a mesma, pois o poder do Maligno não mudou, nem ficou mais brando. Pelo contrário, a Bíblia diz que nos últimos dias o inimigo '...tem grande ira, sabendo que já lhe resta pouco tempo' (Ap 12.12b). Nos tempos do fim, as doutrinas dos demônios teriam mais adeptos (1 Tm 4.1). Os discípulos na Igreja Primitiva resistiram e venceram as forças do mal com o poder recebido através do batismo com o Espírito Santo, e dos dons espirituais que o acompanhavam (At 8.9-12; 13.8-12; 16.17-18; 19.13-17). Os salvos têm hoje a mesma necessidade de poder." (BEGSTÉN, p. 21).
Deus quer nos dar poder para repreender as tempestades espirituais! Deus quer nos dar poder para expulsar os demônios! Ele também quer nos dar poder para colocar as mãos sobre os enfermos e eles serem curados!
Conclusão: Embora muitos tentem distorcer a doutrina do batismo no Espírito Santo, a Bíblia é bem clara quanto ao assunto, isto é, Jesus quer batizar todos os salvos no Espírito Santo, porém essa bênção precisa ser buscada. O Senhor está com as mãos estendidas, assim como no dia de Pentecostes. É Ele quem batiza o crente. Que possamos buscar essa dádiva com sinceridade e de todo coração, em nome de Jesus. Amém!

BIBLIOGRAFIA:

BEGSTÉN, Eurico. Lições Bíblicas- A pessoa e a Obra do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
GILBERTO, Antonio. Lições Bíblicas- As Doutrinas Bíblicas Pentecostais. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática. 9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
MESQUITA, Antônio. Mensageiro da Paz- Os artigos que marcaram a história e a teologia do movimento Pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.


sexta-feira, 9 de setembro de 2016

PROFECIAS OU “PROFETADAS”?

PROFECIAS OU “PROFETADAS”?

Por Thiago Fidelis
INTRODUÇÃO

O dom de profecia, enumerado por Paulo na lista de I Coríntios 12.8-10, nunca foi tão banalizado como nos tempos modernos. Envaidecidos pela falsa espiritualidade, crentes imaturos têm feito uso irresponsável deste dom extraordinário do Espírito. Neste cenário, onde impera o antropocentrismo e a pobreza bíblica, sobra criatividade na tentativa de oferecer à plateia um evangelho raso e nada sacrificial. Os ditos profetas, tomados pela carnalidade, agitam as multidões com mensagens falsamente inspiradas, distanciando o culto de sua proposta maior: exaltar a Deus, em Cristo Jesus, no poder do Espírito.
Em resposta a este fenômeno, apreciaremos a importância do dom de profecia para hoje, iniciando com sua definição bíblica, criticando a falsa manifestação profética neopentecostal, destacando sua finalidade e finalizando com as regras para o uso equilibrado do dom.

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A outro, poder para operar milagres; a outro, profecia...”
(I Coríntios 12.10, NVI)
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I – O QUE É O DOM DE PROFECIA?
Segundo o Dicionário Vine, o termo profecia (do grego: προφητεία = propheteia) significa “a declaração da mente e do conselho de Deus” (formado de pro, “adiante, antecipado”, e phemi. “falar”. [1]
Em outras palavras, uma profecia é uma mensagem de inspiração divina que revela antecipadamente a vontade de Deus para pessoas ou situações específicas. De maneira soberana, Deus, através da profecia, se comunica com o homem, para edificar, exortar e consolar (I Co 14.3).
O dom de profecia se expressa no Novo Testamento de maneira distinta do Antigo e, ainda no Novo, não deve ser confundido com o dom ministerial de profeta (Ef 4.11).
No Antigo Testamento, a profecia se manifestava através do ofício profético, quando pouquíssimos homens foram levantados para apregoar a reconciliação entre a humanidade caída e o Senhor (cf. Jr 1.5; Is 6.8; Ez 3.17). O profeta do Antigo Testamento era um homem que, além de transmitir a mensagem de Deus, tinha outras atribuições de ordem nacional. Na unção dos reis, eram os profetas que tinham a incumbência de derramar o azeite santo da unção sobre a cabeça dos governantes (1 Sm 16.1; 1 Rs 19.16). [2]
Já no Novo Testamento, encerra-se o ofício profético e  encontram-se  o dom espiritual de profecia e o dom ministerial de profeta. Para esclarecer este ponto, é preciso diferenciar os textos de I Coríntios 12.10 e Efésios 4.11. Escrevendo aos coríntios, Paulo exorta a que se buscasse “com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (I Co 14.1), uma demonstração clara da abundância e da disponibilidade do dom para todos os que o buscam. Entretanto, o mesmo não se aplica ao texto de Efésios, uma vez que o “dom de profeta”, (4.11) é dado apenas a “uns”, visando “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério” (v. 12). 
Por seu caráter sobrenatural, a profecia deve ser uma manifestação espontânea da parte de Deus através de Seus profetas. Ao contrário do que se vê em muitas igrejas, ditas pentecostais, a Bíblia não apoia a entrega manipulada de profecias. Deus fala como, quando e por quem quer!
Uma vez definida a profecia, nos sentidos vetero e neotestamentário, prossigamos em nossa reflexão com uma crítica ao que não é profecia.
               
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“Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora.”
(I João 4.1)

II – ATO PROFÉTICO E CONFISSÃO POSITIVA: PROFÉTICOS?
Como previu Paulo, os últimos dias são tempos trabalhosos em que a sã doutrina é afrontada por homens que dão ouvidos a doutrinas de demônios (I Tm 4.1), que manipulam as Escrituras a bel-prazer, preferindo a palha seca das heresias em lugar da infalível e penetrante Palavra de Deus.
Nas últimas décadas, com o avanço do Neopentecostalismo, ventos de doutrina tem feito confusão entre o falso e o verdadeiro Pentecostalismo. Do pacote herético neopentecostal destaco duas heresias gravíssimas: o ato profético e a confissão positiva.
Segundo o movimento Reavivamento Europa, atos proféticos:
“São ações realizadas por homens, profetas de Deus com determinado sentido profético, com intuito de profetizar com ações e símbolos. São sinais que apontam para o reino espiritual e que tem consequências no reino físico. São ações expressas em atitudes e palavras.” [3]
Supostamente guiados pelo Espírito, homens organizam reuniões, congressos e campanhas, mobilizando milhares de pessoas, a fim de “trazer à existência” novas realidades espirituais, através de “sete voltas ao redor de Jericó”, declarações de posse territorial do Senhor Jesus (leia-se: “O Brasil é do Senhor Jesus”) e “transmissões de geração”, apenas para citar alguns exemplos. Envoltos em rituais carregados de símbolos e linguagem triunfalista, os difusores deste movimento, ainda que o neguem veementemente, não encontram amparo bíblico para suas práticas e, ao invés de clamar pela intervenção do Pai, como povo seu (II Cr 7.14), arrogantemente se colocam na posição de “semi-deuses”, no afã de resolver prática e miraculosamente problemas financeiros, sociais e morais de nações inteiras ou setores específicos da sociedade.
Semelhantemente, difundem a perniciosa doutrina da confissão positiva que, resumidamente, é a autoridade dada por Deus aos seus filhos para “profetizar” vitórias sobre suas vidas. Como em atos proféticos, a confissão positiva supostamente provoca o mover de Deus. Representado por conferencistas de renome, tais como os norte-americanos Morris Cerullo e Kenneth Hagin (in memoriam) e os brasileiros Renê Terra Nova e Valnice Milhomens, o movimento “Palavra da Fé” sistematiza esta doutrina pela distinção dos termos logos e rhema. Para eles, logos é a Palavra de Deus propriamente dita, enquanto o rhema é a mensagem “profética”, proferida pelos crentes, autorizada por Deus e cumprida por Ele mesmo, quando estes têm liberdade para “declarar” ou “decretar” suas bênçãos.
O Pentecostalismo Clássico, ramificação ortodoxa do Cristianismo, deve rejeitar abertamente estas práticas, pois, como crentes na atualidade do dom de profecia, os pentecostais encontram apoio para o uso equilibrado e cristocêntrico da profecia. As heresias do ato profético e da confissão positiva, assevero, em nada tem que ver com as Escrituras e sequer representam o Pentecostalismo defendido pela Assembleia de Deus e demais igrejas pentecostais históricas (incluo aqui o Pentecostalismo de “segunda onda”, a saber, as igrejas “renovadas”).

“Mas quem profetiza o faz para a edificação, encorajamento e consolação dos homens.
(I Coríntios 14:3, NVI)
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III – FINALIDADE DO DOM DE PROFECIA

Discorrendo sobre o uso da profecia no culto público, Paulo destacou três finalidades deste dom: edificar, exortar e consolar. Didaticamente, vamos definir tais finalidades.
No original grego, “edificar” (oikodomeõ – οίκοδομέω) significa literalmente “construir uma casa” [...] É usado metaforicamente no sentido de “edificar”, promovendo o crescimento espiritual e o desenvolvimento do caráter dos crentes através do ensino ou do exemplo, sugerindo tal progresso espiritual como resultado de trabalho paciente. (VINE, p. 583)
A edificação que a profecia promove é a transmissão de ensino, a fim de fazer crescer os que a recebem. O Espírito Santo, utilizando esta operação, anuncia à Igreja verdades espirituais que, obviamente, só poderiam ser ditas sob seu impulso. Notamos, contudo, uma má interpretação cessacionista acerca deste ponto. Para os anti-pentecostais, a profecia fere o Sola Scriptura (“Somente as Escrituras”), pois colocaria as manifestações espirituais em pé de igualdade com as Escrituras. Negamos que isso seja verdade. Embora o Espírito que inspirou as Escrituras seja o mesmo que usa os crentes em profecia, a mensagem profética não equivale à Palavra de Deus, pois, enquanto a profecia é temporal, a Palavra é eterna. Enquanto uma diz respeito exclusivamente a pessoas específicas, a Bíblia guia, infalivelmente, a Igreja do Senhor, em todos os tempos e circunstâncias. Saiba mais no próximo tópico.
Exortar, do grego “parakaleõ” (παρακαλέω), “chamar uma pessoa” (formado de para: “para o lado", e kaleõ: "chamar”), denota: (a) “chamar, pedir, invocar"; (b) “admoestar, exortar, instigar” a pessoa a buscar algum curso de conduta (sempre prospectivo, olhando para o futuro [...]) (VINE, p. 635).
A exortação profética cumpre o papel de alertar ou orientar a Igreja acerca de situações futuras, isto é promessas condicionais ou convocação à reconciliação. Desta forma, uma exortação é o conjunto de palavras de despertamento e reflexão, vindos do Senhor, a fim de que Sua Noiva se posicione em relação aos mistérios revelados através do profeta. Quantas vezes não vimos Deus utilizar servos cheios do Espírito para alertar e consertar a Igreja?
Por fim, consolar, do grego “paramutheomai” (παραμυθέομαι), denota “falar ternamente com”. Enquanto a exortação diz respeito às coisas futuras, a consolação é a atuação profética nas lembranças e provações vividas. É através da consolação que o Divino Consolador, pelos profetas, verte o bálsamo da paz sobre nossos inquietos corações. Quando cansados pelos percalços do estreito caminho da fé, Deus acha por bem nos tocar com suas Doces Consolações, dando-nos a certeza de que Ele, como Pai Amoroso, tem sempre o melhor para nós. Aleluia!
Pela edificação, Deus nos faz crescer; pela exortação, nos aproxima dEle; pela consolação, nos acalenta.


“Que fareis, pois irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.”
(I Coríntios 14.26, ARC)
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IV – DO USO EQUILIBRADO DA PROFECIA
A Bíblia, nosso infalível manual de fé, regula perfeitamente o dom de profecia. Analisemos, pois, algumas orientações:
a)  Toda profecia deve ser testada (I Co 14.29; I Ts 5.20,21)
É preciso ter muita prudência ao ouvir e aprovar uma profecia, mormente por causa dos desvios doutrinários modernos. No meio evangélico circula o jargão “Não toqueis no ungido”. Distorcendo completamente o sentido de textos como I Crônicas 16.21-22 e I Samuel 24.6, falsos pentecostais “matam e morrem” por manipuladores de mente que lhes entrega mensagens agradáveis aos ouvidos e lhes ilude com promessas que o Senhor jamais fez. “Não desprezeis as profecias”, disse Paulo. E, assim como nos orienta o apóstolo, não é correto negligenciar as profecias, mas ouvir tudo com bastante discernimento e, finalmente, dar crédito ao que vier da parte de Deus.
b)  A Igreja deve estar atenta ao cumprimento das profecias
A profecia inspirada por Deus reflete o caráter verdadeiro de quem a mandou entregar: o Senhor, pois, Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem para que se arrependa. O que fala se cumpre e o que fala, confirma. (Nm 23.19)
Não se deve testar uma profecia observando o status do profeta, muito menos sua habilidade em emocionar a igreja, senão conferindo o cumprimento de suas palavras. Deus é fiel ao que diz e vela para cumprir Sua Palavra! (Jr 1.12)
c)   Toda profecia deve glorificar a Deus e Sua Palavra
A Lei Mosaica condenava à morte todo profeta que levasse o povo a servir a outros deuses (Dt 13.1-3,5). Semelhantemente, no Novo Testamento, falsas profecias trazem morte e condenação sobre aqueles que nelas confiam (II Pe 2.1).
A palavra profética, como já destacamos, nos aproxima do Senhor e nos leva a cumprir sua vontade. As profecias são espontâneas e Deus só se manifesta através delas quando Ele julga necessário.
Lembro-me de uma profecia que recebi alguns anos atrás pela qual o Senhor, entre outras coisas me dizia: “Coma a Palavra.”
Como pode ter sido esta mensagem falsamente inspirada, se apenas me provocou mais desejo de buscar ao Senhor e provocou tantos avanços em minha espiritualidade? Se não fora o Senhor quem falou, quem o disse?
Somente a frieza da tradição poderia tentar restringir o mover do Espírito ao primeiro século e nega-Lhe o direito de continuar operando no meio do Seu povo.

CONCLUSÃO
Ainda hoje, Deus tem prazer em derramar dons espirituais sobre a Igreja. Porém, a Noiva do Cordeiro não pode vacilar no uso destas dádivas, uma vez que as recebeu para seu próprio crescimento. Jamais deveríamos rejeitar a atualidade do dom da profecia, pois negaríamos a nós mesmos uma poderosa ferramenta de impacto, iluminação e refrigério. Assim, rechacemos os engodos do Cessacionismo e do Neopentecostalismo. Que preguemos a Palavra, que utilizemos os dons!


Sobre o autor: Thiago Fidelis é bacharelando em Relações Internacionais (Faculdade Damas) e membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Recife – PE, onde coopera com a mocidade nos departamentos de evangelismo, ensino e música.
 Bibliografia
[1] VINE, W.E; UNGER, Merrill F.; WHITE JR., William. Dicionário Vine. Rio de Janeiro, CPAD, 2002. p. 902
[2] RENOVATO, Elinaldo. Dons espirituais & ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro, CPAD, 2014. p. 83
Acessado em: 06/09/16


sábado, 3 de setembro de 2016

POR QUE DEVO ESTUDAR A TEOLOGIA PENTECOSTAL?

POR QUE DEVO ESTUDAR A TEOLOGIA PENTECOSTAL?
Por Everton Edvaldo.
Revisado por Thiago Fidelis  

Introdução: Sem dúvida alguma, o Movimento Pentecostal trouxe e ainda traz, uma renovação espiritual muito grande para o Cristianismo. A extensão dessa renovação, tem sido sentida no mundo inteiro, desde o século passado. Isto acontece porque Deus tem revestido seus servos gloriosamente para levar a mensagem do evangelho aos perdidos. Uma coisa interessante é que o Pentecostalismo não é um "modismo teológico", como alguns tentam classificar. Na verdade, "o Pentecostalismo é um movimento legitimamente bíblico e que, historicamente, não se restringiu à Igreja Primitiva. Não é, portanto, um modismo sueco ou norte-americano." [01] No Brasil, o Movimento Pentecostal se propagou em todos os estados do país. Desde cedo, seus líderes se preocuparam em investir no ensino das Escrituras. Nessa época, alguns nomes se tornaram conhecidos como por exemplo: Gunnar Vingren, Frida Vingren, Samuel Nystrom, Nils Kastberg, Otto Nelson, Nels Nelson, Joel Carlson, Eurico Bergstén, Orlando Boyer, N. Lawrence Olson, John Peter Kolenda, João Kolenda, Ruth Doris Lemos, entre outros. Eles usaram todos os recursos possíveis e disponíveis, como jornais (Boa Semente, O Som Alegre, Mensageiro da Paz), folhetos, hinos e livros para compartilhar com os novos convertidos aquilo que criam. Dessa forma, os pilares da teologia pentecostal, pouco a pouco, foram se sistematizando. Atualmente, existe uma vastidão de obras acadêmicas abordando, de forma honesta, a teologia pentecostal. É verdade que em língua portuguesa, muitas obras ainda não foram traduzidas, porém aquilo que temos já é o suficiente para, no mínimo, conhecermos os seus fundamentos. A realidade é que, embora se tenha à disposição uma sólida teologia pentecostal, muitos desprezam o seu estudo. Infelizmente, esse desinteresse é praticado não só pelos opositores do pentecostalismo, como também por boa parte dos próprios pentecostais. Partindo desse pressuposto, pretendo abordar alguns motivos que estimulem o estudo dessa teologia. Boa leitura!
I- A TEOLOGIA PENTECOSTAL É CENTRADA NAS SAGRADAS ESCRITURAS.
Isso mesmo! Levamos a sério o ensino bíblico no que diz respeito às verdades centrais da fé. Gunnar Vingren já dizia desde cedo: "Buscai a verdade, porque 'Se conhecerdes a Verdade, ela, vos libertará'." [02] A teologia pentecostal dá forte ênfase à soteriologia, pneumatologia e escatologia, doutrinas cruciais para os crentes primitivos. Gunnar Vingren deixa claro essa preocupação com o ensino teológico ao dizer: "Em o Som Alegre anunciaremos as promessas gloriosas incluídas no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, a salvação completa e perfeita de todos os pecadores e tudo o que pertence à nova vida do cristão: o batismo no Espírito Santo, os dons espirituais, e a próxima e gloriosa vinda do Senhor." [03] É preciso deixar claro que essas doutrinas são importantes no contexto pentecostal, mas não diminuem o valor das demais doutrinas cristãs.
Qualquer teologia que não estiver centrada nas Escrituras estará à disposição do maligno para prejudicar o Cristianismo. No caso do Pentecostalismo, qualquer pessoa pode constatar que sua teologia tem raízes profundas na Bíblia. Nela, Deus é descrito como Aquele que atuou no passado, porém não se limitou aos tempos antigos. Cremos que Deus continua operando de forma maravilhosa na vida daqueles que creem, conforme prometeu Jesus em Marcos 16.17,18: "E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados."
Existe um mito circulando de que o Pentecostalismo põe a experiência pessoal acima das Escrituras. Isso não é verdade! A Bíblia é a principal regra de fé da teologia pentecostal!
II- A TEOLOGIA PENTECOSTAL ENCARA DE MANEIRA SÉRIA, A PRÁTICA DAQUILO QUE PROFESSA.
A teologia pentecostal leva a sério a praticidade daquilo que professa. Não estou dizendo que os teólogos que não são pentecostais não pratiquem aquilo que professam. O que quero dizer é que quando se trata de praticidade, a teologia pentecostal se destaca notavelmente. Embora os pentecostais não priorizem as experiências pessoais em detrimento da centralidade da Palavra de Deus, ensinamos que as experiências são consequências naturais daquilo que cremos e vivemos. Uma igreja que está alicerçada numa teologia morta, jamais terá membros espiritualmente saudáveis. Quando estudamos os basilares da fé pentecostal, e procuramos praticar aquilo que aprendemos, ficamos entusiasmados com os resultados!
Muitos cristãos têm medo de estudar teologia por pensar que não existe conexão entre Teologia e prática. Ora, isto não é verdade. Por outro lado, as pessoas que creem assim formularam esse conceito através do contato com alguma teologia que atrofia a vida espiritual. Por causa disso, frases como "Se você fizer Teologia, vai se tornar um cético", "Se você fizer Teologia, vai apagar o fogo do Espírito Santo em sua vida", "Quem faz teologia esfria", "A letra mata" são comuns no meio evangélico.
Qualquer teologia que resulte em algo danoso à fé cristã deve ser descartada e repudiada, pois não estará contribuindo saudavelmente para o evangelho de Cristo. É de se esperar que uma teologia autenticamente bíblica deva produzir frutos abundantes. Eu concordo com Elienai Cabral quando pontua que:
"Não haverá boa e frutífera teologia sem uma boa espiritualidade. Quando se separa teologia e a trata apenas como uma ciência religiosa, nada pode produzir de conhecimento real de Deus. A teologia não pode perder o seu sentido original que 'defini-se como o conhecimento sapiencial e pessoal da revelação divina'. Devemos resgatar a teologia e trazê-la de volta para a vida da igreja, redescobrindo a finalidade da teologia na relação espiritual do crente. Para isto precisamos zelar e preservar a ligação íntima entre teologia e espiritualidade." [04]
Voltando à teologia pentecostal, podemos constatar os resultados da mesma, todos os dias.
Em um artigo intitulado: "Prioridades e doutrinas pentecostais", Thomas F. Zimmerman nos apresenta alguns princípios que norteiam a vida de um pentecostal. Estarei reproduzindo seu raciocínio logo abaixo:
1) Os pentecostais mantêm um ponto de vista elevado das Escrituras.
2) O pentecostalismo é parte importante na ortodoxia teológica.
3) Os pentecostais honram o Pai, o Filho e o Espírito Santo igualmente.
4) Os pentecostais encaram seriamente a Grande Comissão.
5) Os pentecostais procuram corresponder ao Espírito Santo em adoração a Deus.
6) O pentecostalismo mantém, por vezes, um espírito de cooperação com organizações evangélicas. [05]
Sendo assim, vale a pena estudar uma teologia que reflete positivamente naquele que crê e a pratica.
III- CONHECENDO A TEOLOGIA PENTECOSTAL PODEREMOS COMBATER AS HERESIAS COM MAIS PROPRIEDADE.
Muita coisa tem sido vendida na praça usando-se o termo "pentecostal". Alguns crentes associam a Teologia pentecostal à ignorância bíblica. Nossa teologia é vista como rasa, irrelevante e em casos mais graves, como um modismo teológico. Essas inverdades precisam cair por terra. Infelizmente, tais críticas são feitas por dois grupos de pessoas: as que desconhecem a teologia pentecostal, e as que conhecem, porém insistem em deturpá-la. Atualmente, os ataques procedem mais intensamente por meio das redes sociais. Os opositores do pentecostalismo se utilizam de páginas no Facebook e canais no YouTube para zombar, distorcer e ridicularizar nossa fé. Além disso, o liberalismo, a teologia da prosperidade e o sincretismo teológico, são males que precisam ser combatidos!
As heresias são ferramentas malignas produzidas para minar as raízes do evangelho. Se a raiz for atingida, a queda será inevitável. É por isso que muitas igrejas estão mortas espiritualmente. Trocaram o bom perfume de Cristo por doutrinas estranhas que não trazem edificação.
Não estamos imunes aos falsos ensinos, contudo, devemos estar preparados para combatê-lo! O passarinho pode até pousar em nossa cabeça, mas não pode fazer ninho.
Conclusão: Durante muito tempo, os pentecostais foram taxados de analfabetos em questões de conhecimento bíblico. A realidade desse entendimento passou, porém, me parece que o estereótipo ainda continua. Para reverter esse quadro, é urgente que estejamos preparados para desmascarar a mentira e expor a verdade. No Brasil, o movimento pentecostal cresceu e gerou muitos frutos. Entretanto, nas últimas décadas, temos sentido um declínio espiritual alarmante. A chama não pode apagar! É preciso voltar às origens, abandonar os falsos ensinos e propagar a nossa herança pentecostal!
BIBLIOGRAFIA:
[01] Lições Bíblicas. Movimento Pentecostal- As doutrinas da nossa fé. 2 Trimestre de 2011. Rio de Janeiro. CPAD, 2011. Pág. 43.
[02] MESQUITA. Antônio Pereira de. Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. Pág. 22.
[03] HORTON. Teologia Sistemática- Uma pespectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. Pág. 37.
[04] CABRAL. Elienai. Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro, CPAD, 2011. Pág. 82.
[05] MESQUITA. Antônio Pereira de. Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro, CPAD, 2004. Pág. 27-31.