quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Serie: Armínio calvinista? Uma analise dos argumentos que tentam provar o suposto calvinismo de Armínio. Segundo argumento: O argumento da Carta de Beza e o Poema de Arminio.

Segundo argumento: A carta de Beza e o poema de Armínio



Texto: Pr. Anderson de Paula
Revisão: Jefferson G. Acunha-Acuña

 O próximo argumento a ser analisado diz respeito à carta de recomendação de Beza ao pastorado de Armínio e ao poema que Armínio escreveu elogiando a  genialidade de seu professor. Antes de entrarmos na refutação  faz-se necessário apresentar  tanto a carta de Beza como o poema de Armínio. Tendo feito isto, apresentar-se-á o entendimento dos defensores da “calvinicidade” de Armínio sobre esses dois escritos, primeiro pela análise da carta de Beza e, posteriormente, pela análise do poema de Armínio.

Carta de Beza indicando a Armínio

“Resumindo tudo, então, em poucas palavras: que saibais vós que desde a época em que Armínio retornou a nós de Basileia, tanto sua vida como seu aprendizado tem nos sidos tão aprovados, que esperamos o melhor dele em todos os aspectos, caso ele firmemente persista no mesmo curso; o que, pela benção de Deus, não duvidamos que persista; pois, entre outros dotes, Deus lhe dotou com um intelecto apto tanto à apreensão quanto e discriminação das coisas. Se tal, de agora em diante, for regulado pela piedade, a qual ele parece assiduamente cultivar, só resta a esse poder de intelecto, quando consolidado pela idade madura e pela experiência, produzir os mais ricos frutos. Tal é nossa opinião de Armínio – um jovem digno de nossa gentileza e liberalidade.”[1]

O poema de Armínio em homenagem a Beza

O Retrato de T. Beza

“Por que estás maravilhado ao olhar a face do homem
que te é permitido ver apenas em desenho?
Tu nunca serias capaz de imaginar por ti mesmo,
não importa quão atentamente tu visses com admiração a mente maravilhosa
que os escritos do homem retratam.
Que tu possas ao mesmo tempo vê-la
e, ao ver, moldar sua mente à dele.”[2]

Os textos supracitados serviriam de base, pois, ao segundo argumento dos defensores da “calvinicidade” de Arminio. É de extrema importância olhar de modo crítico, para que se possa entender se, mediante a sua correta interpretação, elas realmente provariam o suposto calvinismo de Armínio.

2.1 Análise da Carta de Beza

É muito interessante que Beza, o sucessor de Calvino, tenha recomendado Armínio, o qual iria se constituir no principal antagonista da doutrina calvinista.
Para autores e estudiosos como Caspar Brandt (1653-1696), a carta de recomendação de Beza poderia ser considerada como prova de um suposto posicionamento calvinista por parte de Armínio, sustentado pelo teólogo ao menos até o ano de 1585, ano de escrita da carta.

Para Caspar Brandt (1653-1696)[3]  ao citar essas referencias conclui da seguinte maneira:

“Nada apareceu a Armínio como maior relevância, enquanto em Genebra, do que conciliar o interesse e a afeição de Beza em seu favor, tanto quanto esperava, por meio de suas conversas e comunicações, para se tornar não apenas um homem mais erudito e educado, mas também, melhor e mais sábio. Pois, com a máxima seriedade, esse teólogo excedia seus companheiros em persuasão de fala, e em presteza e perspicuidade de discurso; ao mesmo tempo em que seu aprendizado e suas realizações  na sagrada literatura eram profundos e extraordinários. Com ouvidos atentos, Armínio bebia em suas palavras; com ávida assiduidade, ele se prendia ao que era dito; e, com intensa admiração, ele escutava sua exposição do nono capitulo de Romanos[4]

A passagem supracitada tem levado alguns autores a aderirem às observações de Brandt. No entanto, segundo Bangs (1922-2002), tal carta não poderia ser usada para provar a calvinicidade de Armínio, sendo tão-somente um elogioso documento de caráter recomendatório. De fato, este autor pede ao leitor que:

“... Observe bem que Beza recomenda Armínio por sua habilidade e diligência, mas nada é dito sobre sua teologia e nem mesmo por sua piedade. Ele expressa esperança de que o crescimento continuado produzirá “os mais ricos frutos”. Nada é dito a cerca da predestinação. Armínio semelhantemente, elogia  Beza por uma mente brilhante que é digna de emulação por parte do Aluno. Nada a cerca da predestinação.[5]

Nota-se que Armínio é elogiado por sua habilidade e sua diligência, o que apenas demonstra que o teólogo era um aluno aplicado e dedicado aos estudos, além de ser destacadamente inteligente e perspicaz, em comparação com os seus colegas. Porém, observe-se que Beza não o elogia por sua Teologia, não tendo feito menção alguma a quaisquer posicionamentos teológicos assumidos pelo seu pupilo, o que, definitivamente, invalida a tese de que, pela carta de Beza, poder-se-ia concluir que Armínio teria sido calvinista. De fato, o próprio Armínio nos seus escritos, tendo abordado as controvérsias teológicas nas quais esteve envolvido, jamais mencionou em nenhuma linha sequer algo acerca de uma mudança de posicionamento teológico da sua parte. Ademais, nos seus escritos, teceu severas críticas à predestinação sustentada por Calvino e Beza, tal como nos seus debates, através de cartas, com Francisco Junius (1545-1602), nos quais, acerca da predestinação calvinista, afirma que:   

“Uma teologia pela qual Deus é considerado, necessariamente, o autor do pecado deve ser repudiada por todos os cristãos e, na verdade, por todos os homens, pois nenhum homem pensa que o ser a quem considera divino é mau, no entento, segundo a teoria de Calvino e Beza, Deus é, necessariamente, considerado o autor do pecado, portanto, essa teoria deve ser repudiada.”[6]

Estes debates demonstram claramente que Armínio jamais fora adepto da predestinação calvinista, não se achando neles (tampouco nas obras completas de Armínio) nada que comprove uma suposta mudança do seu posicionamento acerca da questão. Ao contrário, o que se poderia supor seria que Beza, na sua carta, ao expressar o desejo de que o seu aluno mais brilhante viesse a produzir os “mais ricos frutos”, estivesse se referindo a uma esperada adesão do seu aluno ao seu ponto de vista soteriológico.


1.2 Analise do poema de Arminio para Beza.


O poema escrito por Armínio tampouco fornece qualquer base para que se afirme ter sido o aluno (Armínio) tão calvinista quanto o seu professor (Beza), demonstrando simplesmente a gratidão de Armínio a Beza, professor cuja mente lhe parecia brilhante. Pelo poema, pode-se perceber também quão fascinante era, para Armínio, poder ver com os seus próprios olhos um dos homens que, juntamente com Calvino, reformaram a cidade genebrina. Não há, desta forma, nada no aludido poema que se refira à predestinação, às suas controvérsias ou mesmo a alguma suposta concordância entre “aluno” e “mestre” – supô-lo, pois, seria algo por demais pretencioso, senão fantasioso.

Bangs (1922-2002) evidencia com clareza a não adesão de Armínio à Teologia de Beza ao dizer que:

“Jacobus Triglandius, crítico veemente dos primeiros remonstrantes, tentou sustentar que Armínio e Uitenbogaert esconderam de Beza as suas verdadeiras opiniões. Não há necessidade para essa hipótese; na verdade, há evidência disponível contrária a ela. As visões de Uiternbogaert (amigo íntimo de Armínio) eram conhecidas durante sua estada em Genebra e, em um período tão tardio quanto 1595, Beza e Vorstius mantinham relações cordiais.”[7]

Desta forma, as palavras de Bangs comprovam o fato de que as posições de Armínio e de ao menos um dos seus amigos já eram conhecidas na Genebra de Beza, o que, contudo, não impediu que Armínio admirasse o seu professor e tampouco que o seu professor achasse nele brilhantismo acadêmico.

Conclusão.

Pelo presente estudo, demonstrou-se que não se pode utilizar a carta de Beza e o poema de Armínio à Beza para se construir argumentos pelos quais se pudesse afirmar que Armínio teria sido um calvinista. Ao analisar tais documentos, pode-se aprender uma lição de cordialidade cristã: pessoas de posicionamentos teológicos distintos podem se admirar, apreciar e respeitar-se mutuamente.









[1] Teodoro de Beza para Amsterdã,Carta de 3 de Junho de 1585, citado em Bangs pagina 84
[2] The Lafi of Arminius, pagina 44, 45.
[3] Escritor do livro The Lafi of Arminius
[4] The Lafi of Arminius pagina 44 – 45 (também citado em Bangs, Carl, um estudo da historia holandesa pagina 85).
[5] Bangs, Arminio, um estudo da reforma Holandesa, pagina 86
[6] Obras de Arminio volume 3 pagina 96, 97.
[7] Bangs, Carl Um estudo da reforma Holandesa (ano, etc.), página 86.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Serie: Armínio calvinista? Uma analise dos argumentos que tentam provar o suposto calvinismo de Armínio. (primeira parte)

Armínio calvinista? Uma analise dos argumentos que tentam provar o suposto calvinismo de Armínio.


Por: Pr. Anderson de Paula
Revisao e edição: Prof. Jefferson G. Acunha-Acuña

                    Muito se tem discutido sobre o fato de Armínio ter sido ou não calvinista. Atualmente, há uma série de afirmações, nos meios digitais, enfatizando a “calvinocidade” de Armínio. Os argumentos usados são vários, no entanto, teriam validade? Armínio teria sido um ex-calvinista, tendo abandonado as suas convicções soteriológicas iniciais após ter estudado as teses de Coornhert? Ou, ainda, teria Armínio morrido calvinista, como apontam alguns estudiosos? Neste breve trabalho, serão apresentados e refutados os principais argumentos que apontam para um suposto calvinismo de Armínio.

Primeiro argumento: Arminio era calvinista até ser chamado pelo consistório de Amisterdã para refutar Coornhert, mas após Arminio ter analisado os escritos de Coornhert, acabou concordando com este autor, abandonando o calvinismo.

É muito importante analisar o contexto no qual surgiu essa ideia acerca de Armínio ter abandonado o seu calvinismo. As primeiras biografias de Armínio foram feitas no seu funeral por Petrus Bertius, seu amigo e, posteriormente, pelo remonstrante Caspar Brandt. Ambos descrevem o caso de Coornhert, tecendo comentários sobre o suposto abandono de Armínio da soteriologia calvinista. Bertius menciona que:

“Certos bons irmãos que pertenciam a igreja de Delft tinham circulado um panfleto intitulado ‘Uma resposta a Alguns dos argumentos aduzidos por Beza e Calvino, de um tratado concernente a predestinação, acerca do nono capitulo de Romanos’. Martinus Lydius, um ex-ministro em Amsterdã e desde 1583 um professor na nova academia ou universidade em Franeker, na Frísia, enviou uma cópia a Arminio, com um pedido para que este, que acabara de voltar de Genebra, defendesse Beza. Isso Arminio ficou satisfeito em fazer e se propôs a fazer um estudo detalhado, completo em preparação para essa tarefa. Quando Arminio estava planejando uma refutação e acuradamente pesando os argumentos de ambos os lados e comparando os mesmos com a Escritura, Ele, Arminio, foi vencido pela força da verdade a quilo que avia sido incumbido de refutar...”[1]

Este relato de Bertius vem sendo usado por vários estudiosos para endossar a afirmação de que em algum momento Armínio teria sido calvinista. Bangs[i] (1922-2002), no entanto, afirma não haver comprovação da data em que teria ocorrido o debate citado por Bertius. Ademais, para além de Bertius e Brandt, não há outra fonte segura na qual tenha sido citado tal debate.

A opinião de Carl O. Bangs


É muito importante colocar que Bangs relata o evento supracitado chamando-o de “conto”, mencionando alguns fatos históricos do que havia coletado na sua pesquisa, mostrando o porquê de discordar do suposto calvinismo de Armínio. Desta forma, Bangs afirma que:

“Por trás desse ‘conto’ de Bertius existem alguns ‘fatos’. Os escritores de Delft eram dois ministros, Arent (Arnold) Cornelisz. e Reynier Donteklok. Em 1578, em Leiden, eles haviam debatidos questões sobre predestinação e a sentença de morte para hereges com o crítico do calvinismo, o humanista Dirck Volckertsz Coornhert. Foi sob esta pressão que eles sentiram necessidade de modificar o calvinismo rígido de Beza. O livro que eles escreveram, a saber, Responsio ad argumenta quaedam Bezae ET Calvini ex tractatu de praedestinatione in cap. IX ad Romanos, havia aparecido em 1589. Foi uma dentre outras várias tentativas de refutar o problemático (para os calvinistas) Coornhert. Na verdade, de acordo com Caspar Brandt, o próprio Consistório de Amsterdã pediu a Armínio pera escrever uma refutação e o fracasso de Armínio em escrever tal refutação foi causado pela intervenção de Lydius com seu pedido para uma refutação dos ministros de Delft. Os escritores posteriores geralmente, de maneira descuidada, misturam estas histórias para, às vezes, afirmar que Armínio estava tentando refutar Coornhert e que passou para o lado do humanismo de Coornhert”.[2]

De fato, pediu-se a Armínio que refutasse Coornhert, o que, no entanto, de modo algum provaria o calvinismo de Armínio, pois Coornhet era humanista, o que por si só poderia ter sido motivo para que Armínio aceitasse refutá-lo. Porem vamos continuar a mostrar a opinião de Bangs:

“Antes de tentar avaliar a história, outra prova disponível deveria ser considerada. Em março de 1591 Armínio escreveu uma carta para seu velho amigo e professor na Basileia, Grynaeus. ‘Há muita controvérsia entre nós acerca da predestinação, pecado original e livre-arbítrio’, ele diz. Alguns se referem ao decreto da predestinação para aqueles que ainda não caíram, na verdade nem ainda criados (supralapsarianismo), em todo o caso tornando alguns homens já responsáveis pela condenação. Isso nos leva a pergunta do livre-arbítrio. Ele atua nos não regenerados? Na conversão o livre-arbítrio é ativo ou passivo? Se é passivo, ele tem o poder de efetuar a conversão; se ativo, ele vem antes ou segue após o agir divino? Mas as conclusões sobre o livre-arbítrio se apoiam em visões do pecado original. Armínio relata que estão debatendo se o que vem primeiro é a culpa ou a depravação. Então ele faz uma declaração surpreendente: ‘Nossos oponentes, que são numerosos aqui, negam completamente o pecado original’. Os oponentes de Armínio rejeitam o pecado original e eles são muitos. Quem são eles? Fica óbvio que Armínio aqui não está se referindo aos oponentes como sendo os calvinistas. Seus oponentes são os simpatizantes do humanista Coornhert (que faleceu em 27 de outubro de 1590), os então denominados “Libertinos” que se aliaram aos calvinistas em oposição política à Espanha, mas que se opunham aos calvinistas em questões de dogma...”[3] 

Armínio escreve uma carta endereçada ao seu professor na Basileia ...sobre a negação do pecado original por parte dos seus oponentes, os quais, logicamente, não eram calvinistas. Contudo, o posicionamento dos seus oponentes provaria a suposta posição calvinista por parte de Armínio? Ora, não se pode estender uma posição singular de discordância a todas as possíveis discordâncias que poderiam existir entre dois ou mais indivíduos, portanto, o fato de Armínio dizer que os seus oponentes não aceitavam o pecado original não seria prova de um suposto calvinismo da sua parte, podendo, no máximo, servir como comprovação da sua postura protestante reformada. Nesta mesma linha de raciocínio, Bangs afirma que:


“Mas o que dizer do próprio Armínio? Se seus oponentes eram os humanistas, ele era calvinista? Se calvinista, ele era supralapsário ou sublapsário? Ele diz a Grynaeus que ele estava estudando diligentemente as Escrituras e que havia chegado a uma afirmação que não o desviaria e nem o levaria a enganar a outras pessoas. ‘Creio que nossa salvação repousa unicamente em Cristo que obtemos a fé para perdão de pecados e a renovação de vida somente através da graça do Espírito Santo’. É uma posição que não é libertina [ou seja, não é a posição de Coornhert], não é supralpsária e nem é sublapsária. A disposição da carta é de surpreender que tais sutilezas sejam levantadas e que uma ou outra posição deva ser mantida como a verdadeira doutrina. É entre esse fogo cruzado de várias opiniões que ele busca instrução de Grynaeus; na verdade, parece que ele busca apoio contra todas as posições propostas”[4]

Arminio discordava tanto dos humanistas, como também do calvinismo. Ao dizer que “nossa Salvação repousa em Cristo” e que “a fé e a renovação da vida é possível apenas pela Graça do Espirito Santo”, Armínio posiciona-se contra o humanismo, o que não comprova a suposição de ter sido calvinista. Nada nesta carta sugere uma aceitação do calvinismo por Armínio, mostrando apenas que o teólogo estava sob “fogo cruzado”, disposto tanto a refutar aos humanistas quanto aos calvinistas “da predestinação”.

Em 1591 Arminio prega sobre o sétimo capítulo de Romanos e a sua análise do texto incomoda a muitos ministros calvinistas, atraindo para si a ira deles. É interessante notar que neste mesmo ano Armínio escreve ao seu professor a carta citada por Bangs, o que reitera a sua discordância dos grupos humanista e calvinista. Acerca deste fato, Bangs diz que:  

“Por fim, há algumas evidências negativas ou argumentos significativos do silêncio em relação a história de Bertius acerca de uma transição teológica em 1591. Primeiro não existe evidência clara de que Armínio jamais tenha aceitado a doutrina beziana de predestinação e seus pontos relacionados. Segundo, Armínio não diz ter experimentado uma transição teológica. Ele constantemente retrata a si mesmo como ensinando uma posição primitiva na igreja e que é amplamente defendida entre pastores reformados nos Países Baixos. “Ele vê seus oponentes como inovadores, não ele”.[5]

                  Portanto, não há sequer uma prova documental de uma suposta mudança de posicionamento soteriológico por parte de Armínio, pela qual se poderia afirmar que a sua posição teria sido a de Beza. Desta forma, deve-se aceitar tal ideia como sendo uma espécie de mito, pois Armínio constantemente afirmava ensinar à igreja uma soteriologia cristã primitiva, defendida por vários pastores nos Países Baixos de então. As citações acima do seu biógrafo Bangs deixam claro, pois, o posicionamento não calvinista de Armínio. Deste modo, Bangs ainda afirma que:

“Todas essas evidências nos levam a uma conclusão: a saber, que Armínio não estava de acordo com a doutrina de predestinação de Beza quando ele iniciou seu ministério em Amsterdã; na verdade, ele provavelmente jamais concordou com ela. A questão jamais havia sido levantada de maneira nítida para ele, todavia, até os eventos que foram relatados aqui, no momento que ele tomou uma posição específica contra tanto as posições calvinistas propostas, o supralapsarianismo e o sublapsarianismo”[6]

“Todavia, uma objeção deve ser feita. Por que pediram para que Armínio refutasse Coornhert e os ministros de Delft? No caso de Lydius pode ter sido falta de informação. Ele poderia facilmente ter presumido que o recente aluno do famoso Beza era discípulo do mesmo. Os ministros de Amsterdã, por outro lado, ou principalmente Plancius, podem ter escolhido Armínio pela hostilidade, esperando coloca-lo em uma posição difícil, pois eles fizeram uso dessa tática em pelo menos uma ocasião depois dessa. Seja lá qual foi o motivo, o resultado foi obtido”[7]

Assim, entende-se que o argumento da possível mudança teológica de Arminio não passaria de um mito carente de comprovação histórica. Ao afirmá-lo, no entanto, não se pretende jamais menosprezar as tentativas de se provar o suposto calvinismo de Armínio, porém, até hoje, não se achou registro histórico ou biográfico que pudesse comprovar tal tese, conforme Bangs e outros teólogos que já se dedicaram a pesquisar esta questão.



[1] Bangs, Arminio, Um Estudo da Reforma Holandesa. Pagina 57 e 58, lançado em português  pela editora Reflexao em 2015.
[2] Ibird, Pagina: 58
[3] Ibird, Pagina: 58 e 58
[4] Ibird, pagina 59
[5] Ibird, pagina 60
[6] Ibird, pagina 60
[7] Ibird, pagina 61



[i] Carl O. Bangs é o maior biografo de Arminio e, é tido como referencia no meio acadêmico. Seu livro “Arminio um estudo da reforma Holandesa” é fonte de consulta para obras de respeitados historiadores.

domingo, 2 de outubro de 2016

A BÍBLIA É INERRANTE OU INFALÍVEL?


A BÍBLIA É
INERRANTE OU INFALÍVEL?
ROGER OLSON


 Recentemente me pediram para explicar a diferença entre inerrância bíblica e infalibilidade bíblica. Afirmo a infabilidade da Bíblia, mas nego sua inerrância. A explicação completa daria um livro, então esse será um breve resumo da explicação.

Compreender a diferença entre os dois conceitos, ao menos como eu entendo, requer compreender a diferença entre duas interpretações da inspiração da Bíblia. Alguns teólogos evangélicos (e outros) afirmam que a inspiração (theopneustos) refere-se às palavras da Bíblia – que elas são de alguma forma “expiradas” por Deus. Na verdade, isto é uma metáfora, mas a questão é que para eles a inspiração bíblica mencionada em 2 Timotéo 3:16 refere-se às próprias palavras da Escritura. Outros teólogos evangélicos (e outros) afirmam que a inspiração refere-se aos autores humanos da Escritura. Em outras palavras, 2 Timotéo 3:16, especialmente à luz de 2 Pedro 1:21, expressa o processo pelo qual o Espírito Santo expirou nos autores da Bíblia as ideias que o Espírito queria que eles tivessem e comunicassem. 

Assim, em suma, há uma subjacente diferença de opinião entre teólogos acadêmicos quanto a inspiração e como a mesma trabalhou produzindo a Escritura. A primeira opinião, que enfatiza a inspiração das palavras, é conhecida como “inspiração verbal plenária.” O segundo ponto de vista, que enfatiza a inspiração dos autores, é conhecida como “inspiração dinâmica.” Os defensores da inspiração dinâmica argumentam que a inspiração verbal plenária não pode ser distinguida do ditado divino e que não explica, por exemplo, desejos ofensivos do Apóstolo Paulo que seus oponentes Judaizantes nas igrejas da Galácia fossem cortados (Gálatas 5:12) ou os Salmos imprecatórios. Que também não pode explicar as frases inacabadas de Paulo. Em outras palavras, de acordo com os partidários da inspiração dinâmica, o fenômeno da Escritura não dá apoio à inspiração verbal plenária.

Muitos, não todos, defensores da inspiração verbal plenária também afirmam a inerrância da Bíblia, mas apenas nos autógrafos originais – que já não existem (até onde se sabe). Eles reconhecem que existem erros, discrepâncias nos melhores manuscritos e em todas as Bíblias conhecidas. Outros argumentam que estes não são erros verdadeiros e que eventualmente serão explicados e que, nesse ínterim, devemos desconsiderá-los e aguardar por mais esclarecimentos obtidos dos estudos bíblicos. O The Chicago Statement on Inerrancy, produzido pelo International Council on Biblical Inerrancy, liderado dentre outros por James Montgomery Boice (que foi meu professor de homilética no seminário e pastor da Tenth Presbyterian Church of Philadelphia) atestou a “inerrância bíblica.” Muitos de nós, teólogos evangélicos estudiosos da Bíblia, consideram suprimir a inerrância, de forma que no Statement, “inerrância” não seja mais o termo para se referir a exatidão da Escritura. Em outras palavras, acreditamos que seu sentido e significado comum, aquilo que a maioria das pessoas modernas pensam do que significa “inerrância”, seja diferente até mesmo do que os autores e signatários do Statement quiseram dizer. Além disso, muitos evangélicos conservadores que defendem a inerrância bíblica admitem que somente os autógrafos originais, os manuscritos produzidos por exemplo, pelos profetas e apóstolos, eram inerrantes. Aqueles de nós que têm dificuldades com a palavra “inerrância” para com a exatidão e autoridade da Bíblia, se preocupam, sendo o caso, como dizem os defensores da inerrância – que a autoridade bíblica exige inerrância bíblica – assim sendo, nenhuma Bíblia é autoritativa. É uma questão lógica.

A The National Association of Evangelicals Statement of Faith não afirma a inerrância Bíblica; ela afirma a infabilidade bíblica – por justa razão. Para muitos dos fundadores, especialmente aqueles na tradição Wesleyana, não ancorados teologicamente no escolatiscismo Reformado da Old School Princentonn Theology (ex., Francis Turrentin, Charles Hodge e Benjamin Breckenridge Warfield), a inerrância não era uma vaca sagrada e raramente era usada para descrever a autoridade e exatidão da Bíblia. Assim, o Statement of Faith afirma a infabilidade da Bíblia – um termo mais amplo que todos os evangélicos podem afirmar. Para a maioria das pessoas, pessoas nos bancos e muitos púlpitos, a “inerrância bíblica” significa algo que até mesmo seus estudiosos bíblicos e teólogos não tencionam dizer. Mas eles não sabem disso. Elas, as pessoas nos bancos e púlpitos, pensam que “inerrância” significa que nossas melhores traduções da Bíblia, ou ao menos os melhores textos da Bíblia em línguas originais, não contém nenhum erro ou discrepâncias de qualquer tipo. Por trinta e oito anos tenho por hábito ler para os alunos de teologia as designações de “inerrância” expressas no Chicago Statement e nos livros textos de proeminentes teólogos evangélicos conservadores e peço para eles comentá-los. (Um proeminente teólogo evangélico conservador diz que a “inerrância bíblica” é compatível com “o uso inerrante de fontes errantes” por autores bíblicos!). Os alunos quase escarneceram da pessoa que definiu “inerrância” com essa expressão quando foi assim descrita. Eles afirmam que esta – “inerrância” como explicada e qualificada pelo Chicago Statement e por lideranças acadêmicas evangélicas conservadoras e teólogos – não é o que seus pastores, pais, professores de Escola Bíblica Dominical os ensinaram sobre “nossa Bíblia inerrante”. O que foi ensinado a eles é que “inerrância” significa que não há discrepâncias de qualquer tipo nas Bíblias que temos hoje – desde que sejam boas traduções.

O problema que aponto aqui é que existe uma tremenda diversidade de opiniões entre os evangélicos conservadores a respeito da “inerrância bíblica”. Um ponto divergente é aquele entre os acadêmicos evangélicos conservadores que afirmam e defendem o conceito e seus próprios leitores. Suspeito que, se os leitores realmente soubessem o que seus próprios acadêmicos evangélicos conservadores e teólogos realmente querem dizer por “inerrância bíblica” eles ficariam chocados e desolados. 

E ainda, até mesmo entre os acadêmicos evangélicos conservadores de mais alto nível e teólogos, não há entendimento uniforme sobre “inerrância bíblica.” As definições, descrições e qualificações variam enormemente entre eles. Uma vez enviei a Carl F. H. Henry, o “decano dos teólogos evangélicos” e forte defensor da inerrância bíblica, uma cópia de um ensaio de duas páginas definindo “inerrância bíblica” escrito (não copyrighted) por um outro bastante conhecido teólogo evangélico conservador. Não mencionei o nome dele; simplesmente pedi a Henry se ela achava adequado. Ele respondeu (e eu ainda guardo sua carta) que não é adequada. E ambos eram membros com boa reputação na Evangelical Theological Society que exige para afiliação em seus quadros que seus membros afirmem a inerrância bíblica! 

Então o que significa “infabilidade bíblica” e como se difere da “inerrância bíblica?” Eu compreendo que alguns filósofos evangélicos argumentam que elas são linguisticamente idênticas; eu discordo. Anos atrás, lembro (eu não tenho mais o livro) que li um livro de um teólogo-acadêmico evangélico Reformado chamado Harry R. Boer com o título Above the Battle: the Bible and its Critics publicado em 1977 – um ano após o livro bomba de Harold Lindsell The Battle for the Bible ter sido publicado. (Lindsell argumentou que a afirmação da inerrância bíblica é necessária para a autêntica fé evangélica – algo que até mesmo Carl Henry negou!) Boer, eu lembro, foi o primeiro teólogo que conheci (enquanto eu estava no seminário) que diferenciou inerrância bíblica e infabilidade bíblica. Desde então tenho lido outros.

Quando digo que a Bíblia é “infalível” eu quero dizer que ela não pode falhar em comunicar a verdade de que precisamos de Deus para sermos salvos e transformados. Quero dizer que é a única mensagem inspirada de Deus para a humanidade que infalivelmente revela a identidade de Deus, caráter e vontade e caminho para a salvação. “Infalível” significa “incapaz de falhar”. Em outras palavras, para mim, quando eu digo que a Bíblia é “infalível”, eu quero dizer que ela é “perfeita com respeito ao propósito”. John Piper, em um ensaio que pode ser acessado em seu web site, define inerrância desse modo – como “perfeita com respeito ao propósito.” Eu acho que esta não é uma boa definição ou descrição de inerrância. Inerrância implica muito mais que isso – pelo menos para a pessoa no banco. Acho que minha opinião sobre a autoridade e exatidão da Escritura não é muito diferente da de muitos evangélicos conservadores que afirmam e defendem a “inerrância bíblica!” A nossa diferença (naqueles casos) tem a ver com semântica. Penso que “inerrância” comunica uma ideia da Bíblia que não é verdadeira quanto ao seu real fenômeno e a maioria dos evangélicos conservadores sabem disso e assim eles  designam “inerrância” a morte enquanto insistem na palavra como um tipo de chibolete para decidir quem está “com” e quem “está fora” do seus círculo de evangélicos.  A ironia é que até mesmo dentro do círculo aprovado por eles existe tremenda diversidade de opiniões a respeito do que “inerrância” significa!

Alguns anos atrás, eu troquei uma longa série mensagens de e-mails com o decano de um seminário evangélico muito conservador. Como isso aconteceu é para mim uma anedota. O então presidente da ETS me convidou para falar na sessão plenária da assembleia anual nacional da ETS que aconteceria no ano seguinte. Após lhe explicar que eu nunca havia sido membro do ETS e que não afirmava a inerrância bíblica, mas que eu afirmava a inspiração e a infabilidade, ele, mesmo assim, fez-me o convite. Eu aceitei. Então, passei a receber dele mensagens de e-mails que ele enviava para o comitê executivo do ETS – cuja a maioria dos membros eu conheço. Eles, os membros do comitê executivo, não notaram que o presidente incluiu meu endereço de e-mail entre os deles nessas trocas de mensagens. Ele anunciou que eu falaria na plenária do próximo congresso nacional do ETS. Os membros do comitê,  responderam a mensagem do presidente com “responder a todos”, não notando que eu estava entre os “todos”, e protestaram contra o convite do presidente – alegando que eu, dentre outras coisas, sou um “Barthian” e não um verdadeiro evangélico, etc. Alguns de seus comentários a meu respeito eram inverídicos e injustos. Um dos mais agressivos foi de um membro do Wheaton College. Meu antigo colega e decano da faculdade e seminário onde eu havia ensinado foi outro que falou somente coisas ásperas sobre mim e minha orientação teológica. Então, eu teclei “responder a todos” e desafiei o que eles diziam a meu respeito. É claro, eu fui imediatamente removido da lista de correspondentes. Apenas um membro do comitê, o então vice-presidente e presidente-eleito do ETS, continuou a conversa comigo. Ao final de uma longa série de e-mails a respeito da autoridade e exatidão bíblica, nós concordamos que acreditamos nas mesmas coisas sobre autoridade e exatidão bíblica. Nosso único desacordo foi se “inerrância” é o termo correto para o que nós dois acreditamos. Então eu perguntei para ele se eu poderia me juntar ao ETS, considerando que ele, vice-presidente e futuro presidente, e eu concordamos com a exatidão e autoridade da Bíblia. Ele disse não. Para mim aquilo provou que “inerrância” é, entre a maior parte dos acadêmicos e teólogos evangélicos, um mero chibolete, um “vigilante de portão”. (Nota: o convite foi retirado pelo presidente da ETS a pedido do comitê executivo.)

Agora um nível mais profundo de descrição teológica que necessariamente envolve um grau de especulação. Eu passei a acreditar que a diferença mais marcante entre os evangélicos a respeito da Bíblia, levando alguns a brigar pela palavra “inerrância” a ponto de dividir os evangélicos, tem a ver com as diferentes percepções do propósito da Bíblia. Alguns evangélicos conservadores parecem ver o principal propósito da Bíblia como um comunicado informativo. É para eles, seguindo a opinião de Charles Hodge, “dados brutos” que a teologia sistemática deve explorar. “Revelação” para Carl Henry e para muitos evangélicos conservadores, é um “evento mental.” Deles tenho a noção que a Bíblia não é – ainda - uma teologia sistemática-sistematizada e logo que a correta teologia sistematizada for criada, o uso da Bíblia seja apenas para leitura devocional e prova de texto. Suspeito, embora ache que eles negariam isso, que para muito deles uma teologia sistemática correta apenas diz o que a Bíblia diz e cumpre totalmente o seu propósito, de forma que a Bíblia em si mesma não possui mais nenhum valor. A correta e completa teologia sistemática substitui a Bíblia ou é a Bíblia – apenas organizada de forma diferente.

Outros evangélicos, e eu me incluo entre eles, enxerga o propósito da Bíblia como transformação espiritual – nos levando para a comunhão da salvação com Deus. Ela funciona infalivelmente como único meio inspirado por Deus, instrumento de revelação da identidade, caráter e vontade de Deus para nós com o propósito de transformar nossas vidas. Sim, ela contém informações, mas também sempre tem “nova luz” para lançar enquanto o Espírito Santo a usa e junto com nossa fé para continuamente transformar-nos à imagem de Jesus Cristo. Implica em doutrinas, mas não é um livro de doutrinas. Criamos doutrinas baseadas nela, mas para refutar usos indevidos da Escritura por heréticos e fanáticos, porém ela não é essencialmente destinada a ser um manual de doutrinas. É principalmente destinada a ser uma grande História, um “teodrama” na qual Deus é o personagem principal, que pode nos levar a comunhão de transformação com Deus. 

“infabilidade” como descrito acima, “perfeita com respeito ao propósito”, serve melhor para a compreensão da Bíblia do que “inerrância.” Se a Bíblia contém alguns erros, algumas discrepâncias, eles não afetam o seu poder de transformar vidas por meio da fé plena na comunhão com Deus, isso não é importante.

Tradução: Marcia Elias
Fonte: http://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.patheos.com%2Fblogs%2Frogereolson%2F2015%2F11%2Fis-the-bible-inerrant-or-infallible%2F&h=ZAQElAUy9

terça-feira, 20 de setembro de 2016

A IMPORTÂNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO.

A IMPORTÂNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO.


Por Everton Edvaldo.
"Eu, na verdade, vos batizo em água, na base do arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo, e em fogo." (Mateus 3.11)
Introdução: O batismo no Espírito Santo é um dos assuntos mais discutidos dentro da cristandade atual. Desde o advento do Movimento Pentecostal, esta doutrina tem sido ensinada com bastante ênfase pelos pentecostais. Porém, podemos notar que muitas igrejas, ditas pentecostais, já não estão no mesmo ritmo em que começaram. Alguns crentes não têm o entendimento correto sobre o que é o batismo e por que devemos buscá-lo. Com isso, ele acaba sendo confundido com outras coisas ou distorcido. Neste artigo, pretendo abordar a importância do batismo no Espírito Santo para os nossos dias, dentro de uma perspectiva bíblica e pentecostal. Boa leitura!
I- O QUE É O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO.
A expressão "batismo no Espírito Santo" é frequentemente usada nas igrejas pentecostais. Porém, o que é o batismo no Espírito Santo?
É uma doutrina bíblica. Antes de tudo, é preciso dizer que é uma doutrina bíblica. A alusão a esse batismo, pode ser constatada nas Escrituras tanto direta quanto indiretamente. Por exemplo, discorrendo acerca de Jesus aos judeus, João Batista declarou: "...ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo." (Mt 3.11; cf. Mc 1.8; Lc 3.16). O próprio Jesus disse em Atos 1.5: "Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias." Vale salientar que "a preposição 'com' é a partícula grega ‘en’, que pode ser traduzida como ‘em’ ou ‘com’. Por isso, muitos preferem a tradução 'sereis batizados no Espírito Santo." (STAMPS, p. 1626). A expressão ainda aparece em Atos 11.16 por intermédio do apóstolo Pedro.
Existem várias outras expressões na Bíblia que se referem a essa experiência incomparável com o Espírito Santo, porém, "batismo no Espírito Santo" é a mais comum dentro do Pentecostalismo.
O batismo no Espírito Santo é um presente de Deus para os salvos, capacitando-os para fazer sua obra e revestindo-os de poder espiritual. Segundo o pastor e teólogo Antonio Gilberto: "O batismo com o Espírito Santo é um revestimento de poder, com a evidência física inicial das línguas estranhas para o ingresso do crente numa vida de profunda adoração e eficiente serviço a Deus (Lc 24.49; At 1.8; 10.46; 1 Co 14.15,26). (GILBERTO, p. 29).
Diferente do que muitos pensam, o batismo no Espírito Santo não é a mesma coisa que conversão. Conforme pontua a Bíblia de Estudo Pentecostal: "O batismo no Espírito Santo é uma obra distinta e à parte da regeneração, também por Ele efetuada. Assim como a obra santificadora do Espírito é distinta e completiva em relação à obra regeneradora do mesmo Espírito, assim também o batismo no Espírito complementa a obra regeneradora e santificadora do Espírito. [...] Ser batizado no Espírito significa experimentar a plenitude do Espírito (cf. At 1.5; 2.4). Este batismo teria lugar somente a partir do dia de Pentecostes. Quanto aos que foram cheios do Espírito Santo antes do Pentecostes (e.g. Lc 1.15, 67), Lucas não emprega a expressão 'batizados no Espírito Santo'. Este evento só ocorreria depois da ascensão de Cristo (At 1.2-5; Lc 24.49-51, Jo 16.7-14)." (STAMPS, p. 1627).
É bem verdade que no momento da conversão, o Espírito Santo vem habitar dentro do crente, porém o batismo é uma experiência distinta do novo nascimento. O livro de Atos dos Apóstolos confirma este entendimento. Quando foram batizados no Espírito Santo, os discípulos que ali estavam reunidos, já eram salvos (cf Atos 2.1-18). Os pentecostais acreditam que esse batismo ocorre geralmente após a regeneração e sempre acompanhado pela evidência inicial do falar em outras línguas. Essa é a posição pentecostal tradicional de teólogos como José Gonçalves, Gunnar Vingren, Samuel Nyström, Nemuel Kessler, Gilberto Malafaia, Raimundo de Oliveira, Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Eurico Bergstén, Stanley Horton, entre outros.
O batismo é um mergulho glorioso! O teólogo Eurico Bergstén afirma que: "Ser batizado com o Espírito Santo significa ser imerso na plenitude do Espírito." (BEGSTÉN, p.16). O pastor Elienai Cabral também compartilha desse entendimento: "Ser batizado no Espírito é uma experiência distinta que equivale a ser mergulhado na fonte do Espírito." (MESQUITA, v. 3, p. 35-36).
II- PODER DO ALTO PARA FAZER A OBRA DE DEUS.
De acordo John W. Wyckoff: "Os pentecostais acreditam firmemente que o propósito primário do batismo no Espírito Santo é o poder para o serviço." (HORTON, p. 457). A História do Cristianismo está repleta de relatos de homens e mulheres que eram comprometidos em fazer a obra de Deus. Fazer a obra de Deus exige esforço, tempo e dedicação daquele que se dispõe a fazê-la, porém, aquele que se dispõe a fazê-la, necessita de poder do alto para desenvolvê-la. Em João 15.5, Jesus revela que sem ele nada podemos fazer. Que fique claro que Ele é o principal arquiteto desta obra. Aleluia!
O Pastor José Wellington Bezerra da Costa nos informa que "... quando um repórter perguntou a Daniel Berg quando esteve no Brasil pela última vez, antes de passar para o Senhor, qual o segredo do crescimento das Assembleias de Deus no Brasil, ele simplesmente respondeu: "É o Espírito Santo. É o Espírito Santo que batiza crentes e eles saem pregando o Evangelho e ganhando almas para Jesus. É esse o segredo." (MESQUITA, v. 3, p. 219). Ou seja, o batismo é uma capacitação divina para trabalharmos para Jesus.
Segundo Eurico Bergstén: "O grande objetivo do batismo com o Espírito Santo é suprir os crentes de poder do alto para serem testemunhas do Senhor." (BEGSTÉN, p. 41). Os discípulos foram revestidos de poder para pregar o evangelho com mais ousadia e autoridade.
Essa foi uma promessa feita pelo próprio Senhor Jesus: "Eis que envio sobre vós, a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder." (Lucas 24.49).
Conforme escreveu Elienai Cabral: "...O Espírito reveste o crente com poder para que este faça a vontade de Deus; para fazer a sua obra. Que podemos fazer sem o "poder do Espírito"? Nada! Precisamos do poder de encorajamento, de renúncia, de amor, para fazermos a obra de Deus. Os discípulos de Jesus, enquanto não foram revestidos do poder, estavam medrosos, assustados, com medo de morrer e acovardados. (...) Este poder capacita o crente a fazer bem a obra de Deus. Dá-lhe condições de vencer os obstáculos morais, físicos, materiais e espirituais." (MESQUITA, v.3, p. 35-36).
É necessário deixar claro que a extensão desta promessa não se limitou apenas aos discípulos, mas a todos os salvos. Foi exatamente isso que ensinou o apóstolo Pedro em seu sermão no dia do Pentecostes: "Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar." (Atos 2.39).
Nesse ponto contribui Francisco Pereira do Nascimento: "A promessa do batismo no Espírito Santo, não é uma promessa limitada, como o Inimigo tem espalhado, porém é uma promessa que se estende de geração em geração sobre aqueles que aceitam Jesus como único e suficiente Salvador." (MESQUITA, v. 2, p. 27).
III - MANIFESTAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS.
Sim, o batismo no Espírito Santo promulga a manifestação da multiforme sabedoria de Deus no meio da sua igreja. Segundo o pastor Antonio Gilberto: "O batismo com o Espírito Santo abre caminho para a manifestação dos dons espirituais, segundo a vontade e propósitos do Senhor." (GILBERTO, p. 7).
Deus capacita seus servos com dons para atender todas as necessidades eclesiásticas. De acordo com Carl Henry: "Negligenciar a doutrina da obra do Espírito... cria uma igreja confusa e incapacitada." (HORTON, p. 462). Uma igreja onde não existe a atuação do Espírito Santo é uma igreja morta. Lamentavelmente, a Igreja tem vivido dias difíceis, onde muitos cristãos têm desprezado os dons espirituais. Uma geração incrédula pode ser percebida não só nas igrejas como também nas redes sociais. Todos os dias, os opositores do Pentecostalismo ridicularizam, zombam e desrespeitam as manifestações carismáticas.
Entretanto, não devemos desanimar! Não é do desejo de Deus que a chama pentecostal se apague. Através dos dons espirituais, o Nome Dele tem sido engrandecido e glorificado em nosso meio. Diariamente, muitas pessoas têm sido abençoadas com curas, libertações, batismo, salvação, sabedoria, etc. Por que essas coisas têm acontecido? Porque Deus não mudou! Ele operou no passado e também opera no presente. A maneira como Deus age no meio do seu povo é contagiante! Ele pode fazer coisas gloriosas através dos seus instrumentos!
Se as nossas igrejas deixarem de se interessar pelas bênçãos do Espírito Santo, o mundanismo irá prevalecer sobre nós.
Sendo a Igreja um corpo, é de se esperar que nela haja vida e dinamismo. O batismo no Espírito Santo concede essa bênção! John W. Wyckoff pontua uma coisa interessante acerca das pessoas batizadas:
"As pessoas batizadas no Espírito Santo e revestidas pelo seu poder afetam o restante do corpo de crentes. Menzies afirma que 'o batismo no Espírito Santo fica sendo a entrada para um modo de adoração que abençoa os santos de Deus reunidos. Esse batismo é a entrada para numerosos ministérios no Espírito, chamados dons do Espírito, inclusive muitos ministérios espirituais." (HORTON, p. 458).
IV- FORÇA PARA RESISTIR AOS ATAQUES DO MALIGNO.
Diariamente, a Igreja é bombardeada com investidas malignas. O diabo trabalha para esfriar as igrejas, apagar o fogo do Espírito, destruir famílias, proclamar pregações antropocêntricas e desviar os fiéis. Diante disso, precisamos estar revestidos pelo Espírito Santo a fim de sairmos vitoriosos!
Segundo Eurico Begstén: " A necessidade de poder divino continua a mesma, pois o poder do Maligno não mudou, nem ficou mais brando. Pelo contrário, a Bíblia diz que nos últimos dias o inimigo '...tem grande ira, sabendo que já lhe resta pouco tempo' (Ap 12.12b). Nos tempos do fim, as doutrinas dos demônios teriam mais adeptos (1 Tm 4.1). Os discípulos na Igreja Primitiva resistiram e venceram as forças do mal com o poder recebido através do batismo com o Espírito Santo, e dos dons espirituais que o acompanhavam (At 8.9-12; 13.8-12; 16.17-18; 19.13-17). Os salvos têm hoje a mesma necessidade de poder." (BEGSTÉN, p. 21).
Deus quer nos dar poder para repreender as tempestades espirituais! Deus quer nos dar poder para expulsar os demônios! Ele também quer nos dar poder para colocar as mãos sobre os enfermos e eles serem curados!
Conclusão: Embora muitos tentem distorcer a doutrina do batismo no Espírito Santo, a Bíblia é bem clara quanto ao assunto, isto é, Jesus quer batizar todos os salvos no Espírito Santo, porém essa bênção precisa ser buscada. O Senhor está com as mãos estendidas, assim como no dia de Pentecostes. É Ele quem batiza o crente. Que possamos buscar essa dádiva com sinceridade e de todo coração, em nome de Jesus. Amém!

BIBLIOGRAFIA:

BEGSTÉN, Eurico. Lições Bíblicas- A pessoa e a Obra do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
GILBERTO, Antonio. Lições Bíblicas- As Doutrinas Bíblicas Pentecostais. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática. 9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
MESQUITA, Antônio. Mensageiro da Paz- Os artigos que marcaram a história e a teologia do movimento Pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.


sexta-feira, 9 de setembro de 2016

PROFECIAS OU “PROFETADAS”?

PROFECIAS OU “PROFETADAS”?

Por Thiago Fidelis
INTRODUÇÃO

O dom de profecia, enumerado por Paulo na lista de I Coríntios 12.8-10, nunca foi tão banalizado como nos tempos modernos. Envaidecidos pela falsa espiritualidade, crentes imaturos têm feito uso irresponsável deste dom extraordinário do Espírito. Neste cenário, onde impera o antropocentrismo e a pobreza bíblica, sobra criatividade na tentativa de oferecer à plateia um evangelho raso e nada sacrificial. Os ditos profetas, tomados pela carnalidade, agitam as multidões com mensagens falsamente inspiradas, distanciando o culto de sua proposta maior: exaltar a Deus, em Cristo Jesus, no poder do Espírito.
Em resposta a este fenômeno, apreciaremos a importância do dom de profecia para hoje, iniciando com sua definição bíblica, criticando a falsa manifestação profética neopentecostal, destacando sua finalidade e finalizando com as regras para o uso equilibrado do dom.

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A outro, poder para operar milagres; a outro, profecia...”
(I Coríntios 12.10, NVI)
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I – O QUE É O DOM DE PROFECIA?
Segundo o Dicionário Vine, o termo profecia (do grego: προφητεία = propheteia) significa “a declaração da mente e do conselho de Deus” (formado de pro, “adiante, antecipado”, e phemi. “falar”. [1]
Em outras palavras, uma profecia é uma mensagem de inspiração divina que revela antecipadamente a vontade de Deus para pessoas ou situações específicas. De maneira soberana, Deus, através da profecia, se comunica com o homem, para edificar, exortar e consolar (I Co 14.3).
O dom de profecia se expressa no Novo Testamento de maneira distinta do Antigo e, ainda no Novo, não deve ser confundido com o dom ministerial de profeta (Ef 4.11).
No Antigo Testamento, a profecia se manifestava através do ofício profético, quando pouquíssimos homens foram levantados para apregoar a reconciliação entre a humanidade caída e o Senhor (cf. Jr 1.5; Is 6.8; Ez 3.17). O profeta do Antigo Testamento era um homem que, além de transmitir a mensagem de Deus, tinha outras atribuições de ordem nacional. Na unção dos reis, eram os profetas que tinham a incumbência de derramar o azeite santo da unção sobre a cabeça dos governantes (1 Sm 16.1; 1 Rs 19.16). [2]
Já no Novo Testamento, encerra-se o ofício profético e  encontram-se  o dom espiritual de profecia e o dom ministerial de profeta. Para esclarecer este ponto, é preciso diferenciar os textos de I Coríntios 12.10 e Efésios 4.11. Escrevendo aos coríntios, Paulo exorta a que se buscasse “com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (I Co 14.1), uma demonstração clara da abundância e da disponibilidade do dom para todos os que o buscam. Entretanto, o mesmo não se aplica ao texto de Efésios, uma vez que o “dom de profeta”, (4.11) é dado apenas a “uns”, visando “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério” (v. 12). 
Por seu caráter sobrenatural, a profecia deve ser uma manifestação espontânea da parte de Deus através de Seus profetas. Ao contrário do que se vê em muitas igrejas, ditas pentecostais, a Bíblia não apoia a entrega manipulada de profecias. Deus fala como, quando e por quem quer!
Uma vez definida a profecia, nos sentidos vetero e neotestamentário, prossigamos em nossa reflexão com uma crítica ao que não é profecia.
               
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“Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora.”
(I João 4.1)

II – ATO PROFÉTICO E CONFISSÃO POSITIVA: PROFÉTICOS?
Como previu Paulo, os últimos dias são tempos trabalhosos em que a sã doutrina é afrontada por homens que dão ouvidos a doutrinas de demônios (I Tm 4.1), que manipulam as Escrituras a bel-prazer, preferindo a palha seca das heresias em lugar da infalível e penetrante Palavra de Deus.
Nas últimas décadas, com o avanço do Neopentecostalismo, ventos de doutrina tem feito confusão entre o falso e o verdadeiro Pentecostalismo. Do pacote herético neopentecostal destaco duas heresias gravíssimas: o ato profético e a confissão positiva.
Segundo o movimento Reavivamento Europa, atos proféticos:
“São ações realizadas por homens, profetas de Deus com determinado sentido profético, com intuito de profetizar com ações e símbolos. São sinais que apontam para o reino espiritual e que tem consequências no reino físico. São ações expressas em atitudes e palavras.” [3]
Supostamente guiados pelo Espírito, homens organizam reuniões, congressos e campanhas, mobilizando milhares de pessoas, a fim de “trazer à existência” novas realidades espirituais, através de “sete voltas ao redor de Jericó”, declarações de posse territorial do Senhor Jesus (leia-se: “O Brasil é do Senhor Jesus”) e “transmissões de geração”, apenas para citar alguns exemplos. Envoltos em rituais carregados de símbolos e linguagem triunfalista, os difusores deste movimento, ainda que o neguem veementemente, não encontram amparo bíblico para suas práticas e, ao invés de clamar pela intervenção do Pai, como povo seu (II Cr 7.14), arrogantemente se colocam na posição de “semi-deuses”, no afã de resolver prática e miraculosamente problemas financeiros, sociais e morais de nações inteiras ou setores específicos da sociedade.
Semelhantemente, difundem a perniciosa doutrina da confissão positiva que, resumidamente, é a autoridade dada por Deus aos seus filhos para “profetizar” vitórias sobre suas vidas. Como em atos proféticos, a confissão positiva supostamente provoca o mover de Deus. Representado por conferencistas de renome, tais como os norte-americanos Morris Cerullo e Kenneth Hagin (in memoriam) e os brasileiros Renê Terra Nova e Valnice Milhomens, o movimento “Palavra da Fé” sistematiza esta doutrina pela distinção dos termos logos e rhema. Para eles, logos é a Palavra de Deus propriamente dita, enquanto o rhema é a mensagem “profética”, proferida pelos crentes, autorizada por Deus e cumprida por Ele mesmo, quando estes têm liberdade para “declarar” ou “decretar” suas bênçãos.
O Pentecostalismo Clássico, ramificação ortodoxa do Cristianismo, deve rejeitar abertamente estas práticas, pois, como crentes na atualidade do dom de profecia, os pentecostais encontram apoio para o uso equilibrado e cristocêntrico da profecia. As heresias do ato profético e da confissão positiva, assevero, em nada tem que ver com as Escrituras e sequer representam o Pentecostalismo defendido pela Assembleia de Deus e demais igrejas pentecostais históricas (incluo aqui o Pentecostalismo de “segunda onda”, a saber, as igrejas “renovadas”).

“Mas quem profetiza o faz para a edificação, encorajamento e consolação dos homens.
(I Coríntios 14:3, NVI)
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III – FINALIDADE DO DOM DE PROFECIA

Discorrendo sobre o uso da profecia no culto público, Paulo destacou três finalidades deste dom: edificar, exortar e consolar. Didaticamente, vamos definir tais finalidades.
No original grego, “edificar” (oikodomeõ – οίκοδομέω) significa literalmente “construir uma casa” [...] É usado metaforicamente no sentido de “edificar”, promovendo o crescimento espiritual e o desenvolvimento do caráter dos crentes através do ensino ou do exemplo, sugerindo tal progresso espiritual como resultado de trabalho paciente. (VINE, p. 583)
A edificação que a profecia promove é a transmissão de ensino, a fim de fazer crescer os que a recebem. O Espírito Santo, utilizando esta operação, anuncia à Igreja verdades espirituais que, obviamente, só poderiam ser ditas sob seu impulso. Notamos, contudo, uma má interpretação cessacionista acerca deste ponto. Para os anti-pentecostais, a profecia fere o Sola Scriptura (“Somente as Escrituras”), pois colocaria as manifestações espirituais em pé de igualdade com as Escrituras. Negamos que isso seja verdade. Embora o Espírito que inspirou as Escrituras seja o mesmo que usa os crentes em profecia, a mensagem profética não equivale à Palavra de Deus, pois, enquanto a profecia é temporal, a Palavra é eterna. Enquanto uma diz respeito exclusivamente a pessoas específicas, a Bíblia guia, infalivelmente, a Igreja do Senhor, em todos os tempos e circunstâncias. Saiba mais no próximo tópico.
Exortar, do grego “parakaleõ” (παρακαλέω), “chamar uma pessoa” (formado de para: “para o lado", e kaleõ: "chamar”), denota: (a) “chamar, pedir, invocar"; (b) “admoestar, exortar, instigar” a pessoa a buscar algum curso de conduta (sempre prospectivo, olhando para o futuro [...]) (VINE, p. 635).
A exortação profética cumpre o papel de alertar ou orientar a Igreja acerca de situações futuras, isto é promessas condicionais ou convocação à reconciliação. Desta forma, uma exortação é o conjunto de palavras de despertamento e reflexão, vindos do Senhor, a fim de que Sua Noiva se posicione em relação aos mistérios revelados através do profeta. Quantas vezes não vimos Deus utilizar servos cheios do Espírito para alertar e consertar a Igreja?
Por fim, consolar, do grego “paramutheomai” (παραμυθέομαι), denota “falar ternamente com”. Enquanto a exortação diz respeito às coisas futuras, a consolação é a atuação profética nas lembranças e provações vividas. É através da consolação que o Divino Consolador, pelos profetas, verte o bálsamo da paz sobre nossos inquietos corações. Quando cansados pelos percalços do estreito caminho da fé, Deus acha por bem nos tocar com suas Doces Consolações, dando-nos a certeza de que Ele, como Pai Amoroso, tem sempre o melhor para nós. Aleluia!
Pela edificação, Deus nos faz crescer; pela exortação, nos aproxima dEle; pela consolação, nos acalenta.


“Que fareis, pois irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.”
(I Coríntios 14.26, ARC)
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IV – DO USO EQUILIBRADO DA PROFECIA
A Bíblia, nosso infalível manual de fé, regula perfeitamente o dom de profecia. Analisemos, pois, algumas orientações:
a)  Toda profecia deve ser testada (I Co 14.29; I Ts 5.20,21)
É preciso ter muita prudência ao ouvir e aprovar uma profecia, mormente por causa dos desvios doutrinários modernos. No meio evangélico circula o jargão “Não toqueis no ungido”. Distorcendo completamente o sentido de textos como I Crônicas 16.21-22 e I Samuel 24.6, falsos pentecostais “matam e morrem” por manipuladores de mente que lhes entrega mensagens agradáveis aos ouvidos e lhes ilude com promessas que o Senhor jamais fez. “Não desprezeis as profecias”, disse Paulo. E, assim como nos orienta o apóstolo, não é correto negligenciar as profecias, mas ouvir tudo com bastante discernimento e, finalmente, dar crédito ao que vier da parte de Deus.
b)  A Igreja deve estar atenta ao cumprimento das profecias
A profecia inspirada por Deus reflete o caráter verdadeiro de quem a mandou entregar: o Senhor, pois, Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem para que se arrependa. O que fala se cumpre e o que fala, confirma. (Nm 23.19)
Não se deve testar uma profecia observando o status do profeta, muito menos sua habilidade em emocionar a igreja, senão conferindo o cumprimento de suas palavras. Deus é fiel ao que diz e vela para cumprir Sua Palavra! (Jr 1.12)
c)   Toda profecia deve glorificar a Deus e Sua Palavra
A Lei Mosaica condenava à morte todo profeta que levasse o povo a servir a outros deuses (Dt 13.1-3,5). Semelhantemente, no Novo Testamento, falsas profecias trazem morte e condenação sobre aqueles que nelas confiam (II Pe 2.1).
A palavra profética, como já destacamos, nos aproxima do Senhor e nos leva a cumprir sua vontade. As profecias são espontâneas e Deus só se manifesta através delas quando Ele julga necessário.
Lembro-me de uma profecia que recebi alguns anos atrás pela qual o Senhor, entre outras coisas me dizia: “Coma a Palavra.”
Como pode ter sido esta mensagem falsamente inspirada, se apenas me provocou mais desejo de buscar ao Senhor e provocou tantos avanços em minha espiritualidade? Se não fora o Senhor quem falou, quem o disse?
Somente a frieza da tradição poderia tentar restringir o mover do Espírito ao primeiro século e nega-Lhe o direito de continuar operando no meio do Seu povo.

CONCLUSÃO
Ainda hoje, Deus tem prazer em derramar dons espirituais sobre a Igreja. Porém, a Noiva do Cordeiro não pode vacilar no uso destas dádivas, uma vez que as recebeu para seu próprio crescimento. Jamais deveríamos rejeitar a atualidade do dom da profecia, pois negaríamos a nós mesmos uma poderosa ferramenta de impacto, iluminação e refrigério. Assim, rechacemos os engodos do Cessacionismo e do Neopentecostalismo. Que preguemos a Palavra, que utilizemos os dons!


Sobre o autor: Thiago Fidelis é bacharelando em Relações Internacionais (Faculdade Damas) e membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Recife – PE, onde coopera com a mocidade nos departamentos de evangelismo, ensino e música.
 Bibliografia
[1] VINE, W.E; UNGER, Merrill F.; WHITE JR., William. Dicionário Vine. Rio de Janeiro, CPAD, 2002. p. 902
[2] RENOVATO, Elinaldo. Dons espirituais & ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro, CPAD, 2014. p. 83
Acessado em: 06/09/16