sábado, 6 de fevereiro de 2016

2000 Anos de Cristianismo Carismático - Introdução e Primeira parte.



Introdução: Recuperando A História do Cristianismo Carismático


Texto: Eddie L. Hyatt

Tradução: Márcia Elias e Miqueias Oliveira




O Cristianismo Carismático não é apenas um fenômeno do século vinte. Já existe desde que Jesus caminhou pela terra dois mil anos atrás. No século vinte, entretanto, e continuando no século vinte e um, tem ocorrido uma explosão verdadeira do Cristianismo Carismático. Começando com o movimento Pentecostal em 1901, e revitalizado pelo movimento Carismático que começou por volta dos anos 1960 e a Terceira Onda em 1980, essa explosão do Cristianismo carismático ganhou um ímpeto e permeou cada faceta da vida da igreja. Desde o século primeiro não havia tal ênfase generalizada do Espírito Santo e Seus dons. Seria essa expressão de espiritualidade simplesmente heresia e fanatismo, como alguns acusaram? Seria uma mera expressão marginal do verdadeiro Cristianismo, como outros sugerem? Ou é de fato uma restauração do verdadeiro Cristianismo bíblico? Indagações legítimas também foram feitas a respeito da historicidade dessa forma dinâmica de Cristianismo. Ele voltou a aparecer de repente nesse século sem nenhuma ligação histórica com a igreja do primeiro século, como alguns argumentam? Ou será que de fato ele tem um precedente histórico? E por que é chamado carismático? A palavra carismático deriva da palavra grega charisma, a palavra do Novo Testamento para dom espiritual. Charisma, ou sua forma plural, charismata, é a palavra que Paulo usa em 1 Coríntios 12:1-11 quando ele fala a respeito dos dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas, dons de cura, milagres e profecias. Por essa razão, qualquer grupo, igreja ou movimento que abraça essa dimensão dinâmica do Espírito Santo e Seus dons pode ser chamado carismático. Embora possam ser conhecidos historicamente com Quakers, Metodistas ou Pentecostais, a propensão deles para o dinamismo do Espírito Santo e Seus dons os qualifica para ser designados carismáticos. Pela mesma razão, a igreja do primeiro século também pode ser denominada uma igreja carismática.

QUAL É A DIFERENÇA?

A pergunta tem sido frequente: qual a diferença entre os modernos Pentecostais e Carismáticos? Talvez a distinção  principal seja relacionada com as diferenças das origens históricas dos dois movimentos. O movimento Pentecostal teve início em 1901 na Bible School em Topeka, Kansas, onde ocorreu um derramamento do Espírito Santo e a clássica doutrina Pentecostal de falar em línguas como evidência do batismo com o Espírito foi estabelecida e aplicada. O início do movimento Carismático moderno, por outro lado, é usualmente identificado com o anúncio de Dennis Bennett em 1960, reitor da St. Mark’s Episcopal Church in Van Nuys, Califórnia, de que tinha sido batizado no Espírito Santo e falou em línguas. Outra importante distinção é o fato de que o movimento Pentecostal foi rejeitado pelas igrejas da época e, desde aquele tempo, mais de 740 novas denominações Pentecostais tem sido formadas com mais de 65 milhoes de membros.
         Em oposto, o movimento Carismático alcançou um considerável grau de aceitação nas igrejas tradicionais onde era frequentemente chamado de renovação. Mas mesmo com essa aceitação, que sempre era morna, milhares de novas denominações Carismáticas se formaram desde 1960.
         A terceira onda, ou movimento neo-Carismático, também produziu milhares de novas denominações, mostrando a dinâmica crescente e poder de cada sucessiva onda.
         Apesar das diferenças de cada “onda”, o estatístico David Barrett observa que uma “subjacente unidade” permeia todo o movimento do século vinte. Por essa razão, ele cunhou a frase Pentecostal/Carismático para se referir ao trabalho do Espírito Santo em toda a terra. Ele vê os movimentos Pentecostal, Carismático e da Terceira Onda como um único coeso movimento para o qual uma vasta proliferação de todos os tipos de indivíduos e comunidades tem sido atraídas.

FENÔMENO DE CRESCIMENTO

Surpreendentemente, cem anos atrás nem uma só congregação Pentecostal/Carismática, como entendemos o termo hoje, existia. Agora menos de um século mais tarde, igrejas e denominações Pentecostais e Carismáticas pontilham a paisagem religiosa e constituem o mais dinâmico e crescente segmento da Cristandade.
Este espantoso crescimento foi destacado pela pesquisa Gallup em 1980 publicada pela Christianity Today. A pesquisa revelou que 19 por cento da população dos Estados Unidos, ou cerca de 50 milhões de pessoas, consideravam-se Pentecostais ou Cristãos Carismáticos. Em uma pesquisa mais recente, de 1998 da Newsweek, 47 por cento dos Cristãos pesquisados disseram que eles tinham “experiência pessoal com o Espírito Santo”. Entre os Protestantes evangélicos, o quadro aumenta para 75 por cento. Este fenômeno de crescimento é uma das principais razões pela qual o conhecido teólogo de Harvard, Harvey Cox, se dispõe a dizer que o Pentecostalismo é “a religião remodelada do século vinte e um.”


O DESAFIO DA LEGITIMIDADE HISTÓRICA

Uma crítica com frequência dirigida ao Pentecostais e Carismáticos modernos é que eles não possuem nem tradição e nem história. O argumento se parece mais ou menos assim: a Igreja existe a mais de dois mil anos, mas Pentecostais e Carismáticos a menos de cem anos. Esta alegada ausência de história parece indicar que o movimento é, no mínimo, periférico ao Cristianismo ortodoxo.
         Este desafio da legitimidade histórica é respondido de duas maneiras pelos proponentes do movimento. Pentecostais Clássicos geralmente usam a abordagem restauracionista, encarando a si mesmos como representando uma restauração da pura e poderosa igreja apostólica do primeiro século. Por essa perspectiva, os mil e oitocentos anos intermediários são considerados corrupção e queda espiritual.
         Mais recentemente, alguns Pentecostais e Carismáticos tem sido relutantes em omitir os mil e oitocentos anos de história da igreja e tomaram uma abordagem mais tradicional. Eles procuram preencher o considerado vácuo histórico constituindo funções eclesiásticas tradicionais na estrutura de suas igrejas e instituindo liturgias tradicionais nos seus cultos. Tais medidas são incentivadas, em parte, pela tentativa de manter a continuidade com o passado identificando-se com as igrejas tradicionais.
         Nem a abordagem restauracionista e nem a abordagem tradicional, entretanto, respondem adequadamente a questão histórica. O fato é que Pentecostais e Carismáticos tem uma história legítima. É uma história encontrada nos vários movimentos de avivamento e renovação que emergiram de contínuo na vida da igreja. Porque foram frequentemente condenado ou marginalizado pela igreja institucional, sua história tem sido submersa ou sido mal interpretada. É, por essa razão, uma história carente de ser descoberta e plenamente recuperada.

A ESTRADA PARA A RECUPERAÇÃO HISTÓRICA

Este volume reúne um número de elementos recuperados de estudos, pesquisa histórica. Escritos de movimentos e pessoas corajosas desde o Dia do Pentecostes até o século vinte um.
         Este estudo de maneira alguma é exaustivo; muito embora muitos sejam os seus benefícios. Se permitido, pode informar a pessoa sincera que busca a respeito da atividade dinâmica do Espírito Santo através da história da igreja. Além disso, pode instruir aqueles que aprenderiam com o passado. Pode também inspirar mais pesquisas e promover mais conscientização e compreensão da rica história que devidamente pertence a todo crente Pentecostal/Carismático.
         Finalmente, a informação nesse livro confirma que os Pentecostais/Carismáticos modernos possuem uma legítima e excitante história. O seu elo com o passado não é um elo organizacional; é na verdade, uma fé bíblica que continua a demonstrar o poder espiritual da igreja apostólica do primeiro século. Na verdade, que o avivamento Pentecostal/Carismático desse século é Cristianismo ortodoxo, isso é confirmado não somente pelo próprio Novo Testamento, mas também pela existência de dois mil anos de Cristianismo carismático.


Parte 1: A Igreja primitiva - A.D .100

A igreja do primeiro século foi uma igreja bem carismática. Lucas, o qual gravou sua história no Livro de Atos, ele fielmente incluiu a abundância  do sobre natural que caracterizou a vida e ministério dele. O Falar em linguas, profecia, curas e milagres -- e todos os outros dons -- eram comuns, até mesmo antecipado como a norma (Atos 1:8;10:19; 13:2). Foi essas atividades dinâmicas do Espírito Santo na vida pessoal e individual dos crentes  e na vida congregacional da igreja, em vez de estrutura organizacional , que proveu a base para a vida da igreja, comunidade e missão. De acordo com Gordon D. Fee, Paulo viu o Espírito “como a chave para toda as coisas na vida Cristã.” 1 T Enquanto os crentes levavam o evangelho de Jerusalém  para fora ao mundo Greco-romano, esse caráter carismático continuou como a norma para as igrejas que surgiram através de seus ministérios. Isso é obvio pelo livro de Atos e também pelas epístolas de Paulo, onde ele falou abertamente sobre os milagres e dons espirituais. Ele declarou que ele “pregou inteiramente” o evangelho de Cristo aos gentios “em sinais e poder, pelo poder do Espírito de Deus” (Rm. 15:19, NVKJ). Em particular as cartas aos Coríntios, indicam que as igrejas dependiam da espontaneidade do Espírito Santo e não da autoridade oficial para a vida e direção das reuniões. Esses fatos levou a Hans Von Campenhausen a descrever a visão da igreja primitiva como “ De comunhão livre, desenvolvendo através da interação dos dons do Espírito e ministérios espirituais, sem o benefício de autoridade oficial ou anciões responsáveis.”2 O teólogo Católico Hans Kung, sugere que a igreja em Corínto “não conhecia nem episkopoi (bispos) nem presbuteros (elders) nem outro tipo de ordenação  mas somente aqueles espontâneos indicados pelo Espírito Santo. “3 Ele então aponta que , de acordo com Paulo, eles foram providos com tudo que foi necessário. 4 Rudolph Bultmann concorda e insiste que a igreja do novo testamento, “As pessoas com mais autoridade são aqueles dotados dos dons espirituais. “5 James D.G. Dunn, no livro dele Jesus e o Espírito, demonstram que as mais primitivas igrejas procuravam pela imediata presença do Espírito Santo para suas comunidades e vida, ao invés de estrutura organizacional e formalidade. Ele também aponta que, além de Filipenses 1:1, “Paulo nunca se dirige a um grupo de liderança dentro da comunidade. “6 Para Dunn a implicação é clara: “ Se uma liderança é necessária, Paulo assumiu que o Espírito iria fornecer.”

Cargos ou Função?

As epístolas pastorais, que são de um periodo mais tarde da vida de Paulo, parece revelar uma estrutura mais formal para a vida da igreja. O termo presbuteros (elder) é usado pela primeira vez por Paulo, é qualificações são dadas para aqueles que iriam sevir como episkopoi (bispos) ou diakonoi (diacónos). Adolph Harnack sugere, portanto, que presbuteros, ou ancião, possa simplesmente denotar o velho em oposto do jovem. John Knox insiste, “Nós não estamos lidando com postos formais, mas com funções do qual pessoas certamente estão espiritualmente dotados como o de profecia e cura.” 8 Kung concorda e fala que a nomeação de anciões “não deve ser visto como o começo de uma hierarquia clerical.” Ele aponta que o surgimento de anciões/bispos devem ser entendido no contexto “de fundamentalmente uma estrutura carismática da igreja. “9

OBRAS MAIORES OU MENORES?

A igreja primitiva enfatizava que os dons não deviam ser uma surpresa sendo que Jesus ensinou seus discípulos a aguardar o poder e o dinamismo do Espírito na vida deles e em seus ministérios. Em uma ocasião, Ele os aconselhou  que quando o Espírito viesse, eles iriam ser possibilitados a fazerem as mesmas obras que ele estava fazendo e até obra  maiores (João 14:12). A igreja primitiva tinha uma expectativa que o ministério sobre natural estava então, enraizado na vida e ensinamentos de Jesus. Dunn fala, “Como ele foi carismático, assim também foram muitos, se não de todos os crentes primitivos. “10 Mas o que aconteceu depois do primeiro século-- depois da morte dos primeiros apóstolos? Será que os dons Pentecostais/Carismáticos de repente cessaram? Foram os dons de revelação deslocados pela formação do Novo Testamento? Por acaso sumiu o caráter sobre natural da igreja depois do fim da era apostólica da igreja? Em retrospecto, pode ser visto que havia um desaparecimento gradual do caráter carismático da igreja e um correspondente crescimento na estrutura organizacional. Todavia, dons espirituais continuaram a serem vitais como parte da vida da igreja no primeiro século. Escritos pós-apostólicos revelam nenhuma sabedoria ou expectativa da cessação em algum ponto no tempo.  Aqueles que sucederam os apóstolos  como líderes na igreja deixou, portanto, deixaram um testemunho claro  da continuação dos dons e poder do Espírito em seus tempos.

Fonte: Eddie L. Hyatt, 2000 Years of Charismatic Christianity, page: 15 - 23