quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Catellion Vs Beza e Calvino, um debate que valia a vida de Castellion.

Debate de Castellion contra Beza e Calvino (Neste debate Castellion estava defendendo sua vida). Debate realizado em 1558.

Você (Beza) vem por a debater que os oráculos e testemunhos das Santas Escrituras são manifestos. Por que, então, você faz tantas glosas e comentários das coisas manifestas? As glosas são declarações de uma coisa clara? Mas o que vc quer dizer, visto que as coisas mesmas que são descritas claramente e sem figuras você nega a serem claras? São Paulo escreveu abertamente: "Deus quer que todos os homens sejam salvos (1 Timóteo 2:4)" e você nega a sentença interpretando essa essa palavra "TODOS" por toda a sorte de pessoas. Se sua interpretação é clara, certamente Paulo nao falou claramente, pois ele deveria falar do seu modo. São Pedro escreveu abertamente que Deus nao quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento(2 Pedro 3:9), e você evidentemente o nega. Deus diz abertamente: " Eu nao quero a morte do pecador (Ezequiel 18:23)," o que ele disse mesmo dos maus. E você diz ao contrario que Deus criou um certo numero de pessoas para serem condenadas, dentre as quais ele quer de tal forma sua morte que eles não poderiam jamais ser salvas. Está escrito abertamente que Deus não quer a iniquidade, e Calvino escreve claramente que não se dão o roubo, nem a devassidão, nem o homicídio a não ser que a vontade de Deus ai intervenha. Eu te suplico, se Deus era da opinião de Calvino, porque ele jamais falou como Calvino? Deus nao poderia em três palavras declarar essas coisas e nos desembaraçar desses labirintos de interpretações, principalmente principalmente sabendo bem que eles haveriam de existir? Se Ele (Deus) tivesse dito abertamente: "Eu criei um certo numero de pessoas para serem condenadas" e: " Eu quero a morte do pecador" (como vocês dizem ser a sua interpretação), toda a diferença seria suprida (...) De onde então procede a disputa senão da obscuridade das Escrituras? Mas você diz que tem a intenção de Cristo seguindo a autoridade de Paulo (1 co.2), o que é falso, pois são Paulo fala de si e de seus semelhantes, quer dizer, espirituais, e nós nao podemos perceber por suas obras nenhuma espiritualidade em você.
Fonte: Castellion, Sebastien. De L' impunité des hérétiques p. 268 - 9 ( tambem pode ser achado no livro: É necessário queimar os Hereges? Pagina 37)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Armínio e a questão da perseverança dos santos (uma resposta ao texto recortado que circula nas redes sociais).

Armínio e a questão da perseverança dos santos.

Por Pr. Anderson de Paula.

Paz e graça a todos os amados irmãos.

Recebi recentemente um texto das “Obras de Armínio” que alguns calvinistas estão usando para tentar mostrar que Armínio defendia a perseverança dos Santos. Alguns querendo dizer que nos arminianos, não conhecemos direito Armínio, pois dizemos que Armínio defendia a possibilidade de apostasia. Eles (calvinistas) estão usando para apoiar que Armínio defendia a impossibilidade de perda da salvação, o texto das recentemente traduzidas “Obras de Armínio” na pagina 232 onde Armínio diz o seguinte texto (vou postar o texto até a parte que os calvinistas estão citando):

 “O meu Sentimento a respeito da perseverança dos santos é que as pessoas que foram enxertadas em Cristo, pela fé verdadeira, e assim têm se tornado participantes de seu precioso Espirito vivificador, dispõem de poderes suficientes ou forças para lutar contra Satanás, contra o pecado, contra o mundo e sua própria carne, e para obter a vitória sobre esses inimigos, mas não sem a ajuda da graça do Espirito Santo. Jesus Cristo, também pelo seu Espirito Santo, as auxilia em todas as tentações que enfrentam, e lhes proporciona o pronto socorro de sua mão; também entendo que Cristo os guarda não deixando cair, desde que tenham se preparado para a batalha, implorando a sua ajuda, e não querendo vencer por suas próprias forças. De modo que não é possível para eles, por qualquer astúcia ou poder de Satanás, serem seduzidos ou arrancados das mãos de Cristo.” 

Pois bem, deste texto (que está fora de contexto, pois esta recortado) os calvinistas destacam dois pontos (ambos fora de contexto...), que vamos ver agora o primeiro ponto:

“... as pessoas que foram enxertadas em Cristo, pela fé verdadeira, e assim têm se tornado participantes de seu precioso Espirito vivificador, dispõem de poderes suficientes ou forças para lutar contra Satanás, contra o pecado, contra o mundo e sua própria carne, e para obter a vitória sobre esses inimigos, mas não sem a ajuda da graça do Espirito Santo...”


Esse texto de maneira nenhuma desmerece a teologia arminiana ou é diferente ao que defendemos, pois nos arminianos cremos que mesmo após a conversão precisamos da graça de Deus para lutar contra Satanás, o pecado, contra o mundo e contra a própria carne. Nisso nos concordamos, o problema é que os calvinistas acrescentam a esse texto o seguinte:

 “A pessoa regenerada, ela recebe a capacitação de Deus para lutar contra o pecado e contra as tentações do inimigo de nossas almas. Não se trata, portanto de uma capacidade própria, mas de uma capacitação do Espirito Santo.”


Apesar dessas palavras não estarem nas declarações originais de Armínio, nos arminianos concordamos com elas, pois realmente toda a força para suportar as provações vem de Deus. Deus sempre nos dará o escape para que possamos suportar, conforme o texto de Paulo diz:
Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar (1 Coríntios 10:13).
                                                                              
Assim, entendemos que, é de Deus que vem o socorro na tribulação e é dele que vem a força para que não desfaleçamos na fé. Porem essa capacitação não é de maneira incondicional. Assim o “enxerto” feito às palavras de Armínio serve para semi- pelagianos ou pelagianos, mas não para os arminianos! Acreditados que é de Deus que vem a capacidade para vencer o mal e sem essa graça não teríamos forças para vencer Satanás, o pecado, o mundo e a carne. Assim concluo que sempre acreditamos (como Armínio) que a capacitação vem de Deus! Falar o contrario, simplesmente mostra um desconhecimento do arminianismo.
 
O segundo ponto que os calvinistas destacam é esse:

 “... também pelo seu Espirito Santo, as auxilia em todas as tentações que enfrentam, e lhes proporciona o pronto socorro de sua mão; também entendo que Cristo os guarda não deixando cair, desde que tenham se preparado para a batalha, implorando a sua ajuda, e não querendo vencer por suas próprias forças. De modo que não é possível para eles, por qualquer astúcia ou poder de Satanás, serem seduzidos ou arrancados das mãos de Cristo..."

Esse ponto parece ser crucial para o calvinista provar certo calvinismo em Armínio, mas como demonstraremos nem de longe tal texto da base para isso.
Vejam que Armínio coloca uma condição para que alguém possa ter a ajuda de Cristo, quando diz:

 “... desde que tenham se preparado para a batalha, implorando a sua ajuda, e não querendo vencer por suas próprias forças...”.

Em outras palavras, para ter a ajuda do Espirito Santo é necessário se preparar para a Batalha e mesmo assim implorar a ajuda de Cristo, não confiando nas próprias forças, pois do contrario cairemos diante das tribulações. Nos arminianos acreditamos que a segurança está em Cristo! E enquanto estivermos em Cristo nenhuma força do mal pode nos tirar dele. Agora não se pode negligenciar textos como o de Hebreus 6, onde claramente se vê a possibilidade da apostasia, mas não vou fazer uma exegese aqui sobre o assunto. Apenas quero mostrar a desonestidade de tirar os textos de Armínio do contexto.
Agora vamos voltar para o texto do próprio Armínio sem recortes e dentro do contexto (a parte recortada esta em destaque). Armínio disse:
 
 “... também pelo seu Espirito Santo, as auxilia em todas as tentações que enfrentam, e lhes proporciona o pronto socorro de sua mão; também entendo que Cristo os guarda não deixando cair, desde que tenham se preparado para a batalha, implorando a sua ajuda, e não querendo vencer por suas próprias forças. De modo que não é possível para eles, por qualquer astúcia ou poder de Satanás, serem seduzidos ou arrancados das mãos de Cristo. Mas acho útil e que será muito necessário em nossa primeira convenção (ou sínodo) INSTRUIR UMA INVESTIGAÇÃO DILIGENTE DAS ESCRITURAS, afim de que não seja possível que alguns indivíduos, por negligencia, abandonem o inicio da sua existência em Cristo, e unam – se novamente ao presente século mau, declinando da Sã doutrina que uma vez lhe foi entregue, e que percam a boa consciência, fazendo com que a graça divina ineficaz em suas vidas. Em bora aqui, de FORMA ABERTA e ingênua afirme que nunca ensinei que um verdadeiro crente pode tanto cair totalmente distanciando – se da fé, e perecer, NÃO VOU ESCONDER QUE HÁ PASSAGENS DAS ESCRITURAS QUE PAREÇAM USAR ESTE ASPECTO; e, segundo meu entendimento, há respostas para elas que me fora permitido ver, que não são tão boas a ponto de aprovava – lãs em todos os pontos. POR OUTRO LADO, CERTAS PASSAGENS SÃO PRODUZIDAS PARA A DOUTRINA CONTRARIAS (a perseverança dos santos) QUE SÃO DIGNAS DE MUITA CONSIDERAÇÃO.”

Nesta passagem Armínio estava mostrando e pedindo para que pudesse ser estudado mais acuradamente a questão. Em outras palavras Armínio tinha deixado em aberto a questão da perseverança dos santos para um melhor estudo sobre a mesma. A questão transparece nos escritos de Armínio ao nos depararmos com seu comentário sobre a certeza da salvação na pagina 233 de suas obras. Vamos à declaração de Armínio:

 “... Não me atrevo a colocar essa garantia (perseverança dos santos, pois Armínio estava terminando suas considerações sobre o assunto) em igualdade com aquela pela qual sabemos que há um só Deus, e que Cristo é o Salvador do mundo. No entanto, será adequado fazer da medida dos limites desta garantia um objeto de investigação em nossa convenção (ou sínodo).”

Podemos ver mais uma vez, que Armínio aqui tinha deixado a questão em aberto para um estudo mais acurado, pois segundo Armínio as argumentações a respeito da perca da salvação eram melhores, enquanto as que defendiam a impossibilidade da apostasia eram fracas e não convenciam. Assim concluo que Armínio neste texto ainda não tinha fechado a questão.
Depois de tudo isso pode surgir à pergunta, Armínio fechou a questão? Com respeito a isso peço aos leitores que esperem meu próximo artigo ou que leiam as paginas 434 e 435 das obras de Armínio.

Fontes dos textos de Armínio: Obras de Armínio paginas 232 e 233.


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