segunda-feira, 25 de abril de 2016

Dos que resistem ao Espírito Santo! (Uma refutação ao argumento de Gordon Haddon Clark sobre comentário sobre Atos 7.51)

Dos que resistem ao Espírito Santo! (Uma refutação ao argumento de Gordon Haddon Clark sobre comentário sobre Atos 7.51)

Por. Pr. Anderson de Paula

Hoje vi uma calvinista comentando um texto que escrevi e que um amigo compartilhou. O meu texto versava sobre Atos 7.51. Esse texto mostra de forma clara que os homens naquele contexto resistiram ao Espírito Santo. Vamos analisar a resposta de Clark (calvinista) parte por parte. Em primeiro lugar, Clark diz:

“O próximo versículo é Atos 7:51: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de
coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram
vossos pais, também vós o fazeis”. Esse versículo é supostamente inconsistente
com a graça irresistível, e implica, portanto, que o homem tem habilidade para
se converter.”

Em primeiro lugar, não ensinamos que o homem tem em si a habilidade de se converter, mas ensinamos que o homem não pode por si mesmo se converter a Deus. Aqui entendemos que a graça de Deus vai a todos, capacitando os homens a responder ao chamado do evangelho. O fato de o texto mostrar que a graça pode ser resistida não implica em dizer que o homem tem algum tipo de habilidade natural para conversão. Antes que o homem possa crer é necessário que a graça o alcance, capacitando o homem a responder em fé ou resistir a ação da graça que o capacita. Um texto que mostra a atuação da graça em capacitar o homem a responder ao chamado do evangelho é o texto de Romanos 10.17 que diz:

“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.”

É muito importante colocar a própria interpretação de Armínio sobre esse texto:

“Isto [a graça] é efetuada pela Palavra de Deus. A persuasão é efetuada externamente pela pregação da palavra e internamente pela operação, ou melhor, a cooperação do Espírito Santo para que a Palavra possa ser compreendida e apreendida pela fé verdadeira.”

(Fonte: James Arminius, “A Declaration of the Sentiments of Arminius,” Works, III, 334.)

Assim, entendemos que quando a palavra é pregada (conceito clássico do arminianismo) a graça preveniente vai até o homem e o capacita a responder ao chamado do evangelho. Logo, em primeira instância, a graça capacita o homem a responder em fé, mas a graça após a capacitação pode ser resistida. Sem a ação da graça homem algum se salvaria, pois tem seu arbítrio escravizado pelo pecado e precisa ser liberto pela graça preveniente. Isso fica evidente nas palavras de Armínio:

 “É totalmente certo que nada de bom pode ser realizado por qualquer criatura racional SEM ESTA AJUDA ESPECIAL DA SUA GRAÇA.” (Wagner, 93)

E também:

“Ao que concerne graça e livre arbítrio, isto é o que ensino de acordo com as Escrituras e com o consentimento ortodoxo: o livre arbítrio é incapaz de começar ou melhorar qualquer verdadeiro bem espiritual sem a graça” (Wagner, 376)
“Portanto, se “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3:17); e “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8:36), segue-se que a nossa vontade não é livre desde a primeira queda. Isto é, não é livre para o bem, A NÃO SER QUE SE TORNE LIVRE PELO FILHO ATRAVÉS DO ESPÍRITO.”

(John D. Wagner, ed. Arminius Speaks: Essential Writings on Predestination, Free Will, and the Nature of God (Eugene, OR: Wipf & Stock, 2011, 5.)


Com isso fica claro que para o Arminianismo o homem não pode se converter sem que antes seja alcançado pela graça. A graça é que capacita e (caso não resistida) leva à regeneração. Robert E. Picirilli explica:

“A palavra “preveniente” significa “antecipando, indo à frente ou que precede”. (fonte: Robert E. Picirilli, Grace, Faith, and Free Will: Contrasting Views of Salvation: Calvinism & Arminianism (Nashville: Randall House, 2002), 153.)

 Picirilli ainda explica:

“O que Arminius quis dizer com ‘graça preveniente’ é que a graça precede a regeneração e que, exceto quando é resistida até o fim, inevitavelmente leva à regeneração”. (Fonte: Picirilli, 153).

O conceito arminiano é fiel ao texto de Atos 7.51, pois mostra claramente que a graça pode ser resistida, e foi exatamente isso que eles [os ouvintes de Estevão] fizeram: resistiram ao Espírito Santo.

Agora que refutamos o espantalho de Clark vamos as suas próximas colocações. Ele diz:

“Em resposta a isso pode ser dito que certamente as operações do Espírito Santo,
em alguns circunstâncias, podem ser resistidas. O que os oponentes devem mostrar é que a intenção do Espírito Santo para converter um indivíduo em particular pode ser resistida. Nem todas as operações do Espírito têm como objetivo a conversão de alguém. Não há nenhuma evidência em Atos 7 de que o Espírito Santo estava tentando converter os perseguidores de Estevão. Nem todas as operações do Espírito têm como objetivo a conversão de alguém. Aqui não há nenhuma evidência em Atos 7 de que o Espírito Santo estava tentando converter os perseguidores de Estevão. ”

Chega a ser inocente essa afirmação de Clark em dizer que neste caso não era a intenção do Espirito Santo salvar aqueles ouvintes de Estevão. Ora, se olharmos para o contexto, veremos as seguintes verdades:

I -  Em Atos 6.7 diz que a palavra de Deus em Jerusalém multiplicava o número de discípulos e no verso 8 diz que Estevão estava cheio do Espírito Santo e fazia muitos prodígios e sinais entre o povo. Muitas pessoas se convertiam através da pregação do primeiro mártir. Isso fica evidente pelo fato dos da Sinagoga se levantarem para contender contra Estevão, mas a Bíblia diz que Estevão estava cheio de sabedoria do Espírito e os que contendiam com ele não podiam vencer as palavras inspiradas pelo Espírito dirigida a toda a sua plateia.

II - Diante do que foi falado no ponto anterior, fica evidente que muitos ali foram convertidos através da pregação de Estevão, que foi inspirada pelo Espírito, e outros, mesmo tendo entendido o que ele falava e vendo que a sabedoria do mesmo era incontestável devido ao poder do Espirito Santo, decidiram endurecer o coração e procurar calar a verdade que estava sendo pregada com falsas acusações e falsas testemunhas.

III - Estevão conclui seu discurso dizendo que eles eram iguais a seus pais que resistiram às manifestações do Espirito Santo no Antigo Testamento matando os que lhe eram enviados.

Com o que foi apresentado até aqui, fica claro que os adversários de Estevão receberam a mesma palavra que fez com que muitos se convertessem, pois o contexto diz que alguns sacerdotes estavam se convertendo (At 6,7). Esses homens não se converteram por resistirem a ao Espírito Santo. Não existe nada no texto que diga o contrário.
Tendo mostrado o erro de Clark até aqui, vamos prosseguir com suas falas. Clark diz:

“Eles eram incircuncisos de coração e ouvido. Eles não deram nenhuma evidência de ter até mesmo o que os arminianos chamam de graça suficiente para aceitar Cristo pelo livre-arbítrio. Eles estavam endurecidos contra Deus e resistiram ao Espírito à medida que o mesmo dirigia Estevão quanto ao que dizer. Não há nenhuma referência no capítulo a alguma operação interior do Espírito nos corações dos fariseus. Eles resistiram ao Espírito à medida que o mesmo operava em Estevão. Suponhamos, contrariamente, ao tom de todo o capítulo, que o Espírito realmente intentou regenerar esses fariseus, ou alguns deles. Os arminianos teriam então que mostrar que essas pessoas não foram mais tarde regeneradas.”

Algumas observações devem ser feitas sobre essas palavras para livrar o leitor de um pensamento equivocado da teologia arminiana.
Em primeiro lugar, o Arminianismo não acredita que o homem possui capacidade de começar o processo de salvação, mas que é o Espírito Santo que é o inicio, meio e final da salvação. Porém, a ação do Espirito é em primeiro lugar libertar o arbítrio, que por causa da queda se encontra cativo em delitos e pecados. Contudo, essa ação não é irresistível, e o texto de Atos 7. 51 deixa bem claro que aqueles homens estavam resistindo à ação da graça e que eles entenderam que não podiam vencer as palavras inspiradas de Estevão. Conforme já falamos, para Armínio a graça vem através da pregação do evangelho para capacitar a resposta, libertando o arbítrio. Sobre isso, Zwinglio Rodriguez diz em seu livro “Uma introdução ao Arminianismo Clássico”, na página 45:

“O Espírito Santo age poderosamente na alma humana com vistas à salvação dela. O que está em curso é a iluminação e não, ainda, uma vivificação que ainda pode ocorrer desde que a pessoa não rechace a graça ao resistir ao Espírito Santo.”

Zwinglio conclui citando o teólogo puritano John Owen, quando diz que existem certo efeitos internos que precedem a regeneração, que são: a iluminação, convicção e a reforma.
A iluminação diz respeito apenas à mente; a convicção diz respeito à mente, consciência e afeições; e a reforma diz respeito ao comportamento. Só depois da reforma que uma pessoa é regenerada, se tornando uma nova criatura.
As palavras de Zwinglio e Owen ilustram claramente o caso dos incircuncisos de coração que ouviram a pregação de Estevão. É notório no texto que eles entenderam que Estevão falava a verdade, pois os mesmos não podiam contestar o que era pregado. Assim, resistiram à mensagem inspirada pelo Espírito Santo e, consequentemente, ao próprio Espírito Santo.
Portanto, quem deve mostrar onde o Espírito Santo não queria salvar é o próprio Clark, não os arminianos.

O interessante é que para Clark o texto não dá a menor ideia que o Espirito Santo queria salvar aqueles homens, mas o texto é claro em afirmar que várias pessoas (incluindo sacerdotes) estavam se convertendo com o que estava acontecendo. Em contrapartida, Clark ignora completamente o que o texto está dizendo para impor sua teologia. Ele parece perceber que fica difícil dizer que o Espírito Santo não queria salvar os homens contrários a Estevão e que eles não resistiram ao Espirito Santo, pois ele começa a dar alternativa para o caso de se aceitar o que o texto realmente diz. Clark então parte para o argumento de que posteriormente esses homens tenham se convertido. A questão ignorada aqui é que o escritor inspirado relatou os acontecimentos de maneira a nos mostrar uma verdade, e a verdade que está sendo passada é que esses homens resistiram ao Espírito Santo. Por sua vez, a conjectura apresentada por Clark de que eles foram regenerados posteriormente coloca no texto algo que o texto não diz. É um erro colocar no texto sagrado algo não revelado acima do revelado!
O argumento de Clark pode ser usado de maneira contrária, pois poderíamos dizer que os calvinistas devem provar que eles foram regenerados posteriormente ou que o Espírito Santo não os queria salvar. Todavia, a dificuldade maior recai sobre o calvinista, pois o texto é claro em falar que aqueles homens resistiram ao Espirito de Deus. É isso que entendemos ao observar a própria acusação de Estevão aos fariseus. É importante analisar isso, pois ele (Estevão) falava a judeus e, portanto, devemos entender o que aquelas palavras significavam naquela ocasião. Estevão diz:

I – “Homens de dura cerviz” (verso 51) –  A expressão aqui é “sklerotrachelos”, usada apenas essa vez no Novo Testamento e traz a ideia de um boi teimoso que se recusa a receber o jugo no seu pescoço. É a mesma expressão que a Septuaginta usa em Êx 33.3, que diz:

“A uma terra que mana leite e mel; porque eu não subirei no meio de ti, porquanto és povo de DURA CERVIZ, para que te não consuma eu no caminho.”

Em ambos os casos a palavra significa não aceitar ou resistir algo de maneira teimosa. Assim, quando Estevão os chama de HOMENS DE DURA CERVIZ, ele está dizendo que os fariseus eram homens teimosos e como bois teimosos se recusavam a aceitar o que se estava sendo posto para eles.

II -  “Incircuncisos de coração e ouvidos” – Para os judeus, ser um incircunciso significava alguém que resistia obstinadamente à revelação dada por Deus, ou seja, um desobediente teimoso. Isto é, a frase no texto significa: “Vocês fecharam os seus ouvidos à Verdade de Deus”.

III – “Como fizeram os vossos pais, assim também vós [...]” – Estevão está falando de algo que eles conhecem e, ao falar que eles eram iguais a seus pais, os está acusando de não cumprirem as palavras inspiradas de Moisés, quando diz:

“Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz.” (Dt 10.16)

Assim como os antigos endureceram seus corações à Palavra de Deus ao se recusarem a aceitar a revelação da vontade de Deus, os fariseus estavam recusando aceitar a revelação de Deus trazida pelo Espírito Santo que inspirou Estevão a falar aquelas palavras. Desta forma, é inviável negar que os fariseus resistiram ao Espírito Santo.

O desespero de Clark é claro quando ele prossegue:

“É claro a partir da Escritura que frequentemente Deus prepara um homem para a conversão através de vicissitudes anteriores. O homem resiste a princípio. Mas na plenitude do tempo, Deus o regenera.”

Essa é uma argumentação muito usada por calvinistas para fugir dos textos das Sagradas Escrituras, dizendo que os textos onde vemos pessoas resistindo ao Espírito Santo não querem na verdade dizer o que está escrito.

Clark continua com uma incerteza ao dizer:

“Na verdade, embora não seja mencionada nesse capítulo, essa pode ter sido a intenção de Deus com respeito ao jovem que guardou as roupas dos fariseus enquanto eles apedrejavam Estevão. O jovem Saulo resistiu, juntamente com os outros. ”

Mais uma vez Clark faz uso de outra conjectura ao dizer que foi isso que começou a fazer com que Saulo se convertesse, mas a verdade é que se o texto não diz, então, não deve ser colocado como verdade. Além do mais, Paulo continuou a perseguir os cristãos até seu encontro com Cristo no caminho de Damasco (sobre isso tratarei nos próximos comentários da fala de Clark). Clark continua:

“Mas ele [Paulo] não resistiu de uma forma que o Espírito foi compelido a desistir. Esse ainda não era o tempo para a conversão de Paulo, mas apesar de tudo, Deus estava operando irresistivelmente.

Outra tentativa de afirmar o que o texto não diz! O Espírito Santo vai a todos os ouvintes através da pregação da palavra de Deus e, caso não seja resistido, salva o homem. O homem só não é salvo se persistir em resistir à graça e endurecer seu próprio coração. A palavra de Deus nos revela pessoas como faraó, que insistiu em endurecer seu coração e foi punido por Deus com mais endurecimento. É o mesmo caso dos homens de Romanos 1 que persistiram em seus pecados mesmo tendo conhecimento de Deus. Paulo não chegou ao estagio dessas pessoas e por isso não foi desobediente à voz do Espirito de Deus (Atos 26.19). Fica evidente que Clark tenta desesperadamente colocar no texto algo que o mesmo não diz. Porém, ele prossegue:


“Em geral, embora seja muito improvável que os fariseus desse capítulo foram alguma vez convertidos, os arminianos teriam que provar os dois pontos antes de poderem usar um versículo como esse. Eles teriam que provar que a operação particular do Espírito tinha o propósito de regenerar um homem, e que esse homem nunca foi regenerado. Essas duas coisas não podem
ser provadas.”

É curioso que mais uma vez Clark tenta jogar a responsabilidade de provar o que o texto não diz para os arminianos, mas como demonstrei, quem tem que provar dois pontos aqui é o calvinista, não o arminiano. O calvinista deve provar que o Espírito de Deus não queria salvar os fariseus e que, posteriormente, eles foram salvos. Esses dois pontos não podem ser provados (usado as mesmas palavras de Clark), mas o arminiano tem a vantagem de se apegar ao texto sem fazer nenhum malabarismo.







quarta-feira, 13 de abril de 2016

Deus nos livre da exegese! Série: “O que não é Pentecostalismo”

Deus nos livre da exegese! Série: “O que não é Pentecostalismo”

Por 
 Thiago Fidelis

“Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.” (Atos 17:11, NVI)



Uma das marcas distintivas do desequilíbrio espiritual é a ignorância bíblica. Enquanto escrevo este texto, hereges dividem opiniões nas redes sociais. “Arrependei-vos! ”: gritam alguns, “Não julgueis!”: retruca outra ala.
Em meio a farpas trocadas e muita imaturidade em debates desta espécie, a Igreja do Senhor se vê confusa entre opinar para defender a sã doutrina ou negligenciar a Palavra para agradar a massa de incautos. Cá para nós, de pentecostal para pentecostal, o que você vai fazer?
O texto de abertura menciona a piedade de um povo que certamente saberia o que fazer diante de falsos ensinos: a comunidade de Bereia. Numa de suas viagens missionárias, o apóstolo Paulo passa por Bereia, na Macedônia. A pregação de Paulo naquele lugar nos traz um bom exemplo da fidelidade às Escrituras. Diz a Bíblia que, além de receberem a mensagem [da salvação] com grande interesse, os bereianos analisavam tudo que ouviam à luz da Bíblia, uma atitude louvada pelo escritor de Atos. A evangelização em Bereia foi tão estrondosa que atraiu multidões, inclusive parte dos tessalonicenses, povo visitado por Paulo dias antes (At 17.13).
Se Paulo estivesse vivo nos dias atuais, dificilmente a Igreja seria elogiada da mesma maneira. Temos nos questionado acerca da apostasia que tem invadido nossas igrejas e, quando o fazemos, somos capazes de apontar pessoas e circunstâncias, mas precisamos admitir nossa responsabilidade neste quadro.
Quando um pentecostal maduro reflete sobre o evangelicalismo moderno, em não poucos casos é tomado pelo saudosismo “dos tempos dos pioneiros”. No meu caso, um pentecostal em crescimento, se revisito os testemunhos dos meus antepassados, aprendo com a firmeza do Diácono Manoel Fidelis (meu avô) e o fervor da irmã Jael Santos (minha avó). Ou ainda, sinto meu coração aquecer quando escuto os inúmeros relatos de manifestações sobrenaturais ocorridas no templo da Igreja Batista Pentecostal Canaã, pastoreada por meu tio-avô, Pr. Jair Santos.
“Saudade dos milagres!”, dizemos nós. Amado leitor pentecostal, o que está em pauta não é o apagar da chama do Espírito, mas um aumento do desvio espiritual em nosso meio, causado principalmente por distorções de ordem doutrinária. O que há em comum entre bereianos e os pioneiros pentecostais? Zelo pelas Escrituras!

O Neopentecostalismo prestou um desserviço à Igreja do Senhor: afastá-la da Revelação bíblica. É irônico (ou trágico) pontuar que estufamos o peito ao ostentar a estatística de 50 milhões de evangélicos no Brasil, contudo lidamos naturalmente com a preguiça bíblica. 
Defino como preguiça bíblica o que muitos dos meus irmãos classificariam de “avivamento”. Num misto de pesar e preocupação, canso de ver irmãos de conhecimento bíblico serem tachados de frios ou, na linguagem nordestina, “crus”. Antes que me acusem de pessimismo ou ignorância sociológica, reconheço que o anti-intelectualismo encontrou guarida em nossos círculos entre as décadas de 50 e 70.
O que não destaquei no meu testemunho pessoal é que, apesar de a história do ministério dos meus antepassados ser feita de milagres, não aprendi que pentecostal bom é pentecostal que rodopia, ou marcha, ou ri desordenadamente no culto. Do contrário, a crítica de Gunnar Vingren aos excessos pseudoespirituais (O Diário do Pioneiro, p. 97-101, CPAD) e o notável equilíbrio do meu tio-avô me revelam que é a identidade pentecostal é historicamente vinculada à moderação doutrinária.
A bem da verdade, nos dias de hoje, centenas de jovens pentecostais e neopentecostais são capazes de lotar congressos em busca de “fogo”, mas quatro “gatos pingados” são assíduos em cultos de doutrina e na Escola Dominical. Neste sentido, infelizmente, preciso equiparar um grupo ao outro.
Assim, em meus momentos devocionais, sou constantemente tomado pela reflexão: Se queremos avivamento, o que nos custa conhecer o Deus que aviva? E, se conhecer a Deus pressupõe conhecer a Palavra, por que recorremos a outros métodos, além do estudo bíblico constante e sistemático?
Ainda hoje, voltando da faculdade, encontrei uma irmã amiga de minha família, que me confessou que o fato de eu ter o “dom da interpretação da Bíblia”, em suas palavras, a surpreendia. O que a irmã não sabia é que eu não tenho nenhum dom exegético extraordinário, mas, como aprendi desde pequeno, preciso ler a Bíblia até compreendê-la bem.
O que a deixou mais impressionada foi descobrir que, se ela ler a Bíblia pausadamente, em oração e temor, ela se tornará capaz de entender o que está escrito. Note que a vida de oração é cultivada por esta nobre irmã, entretanto ela nunca havia se dado conta de que seu costume de orar poderia ser uma ferramenta de amadurecimento espiritual.
Finalmente, amado leitor, é tempo de voltarmos ao Evangelho! É o momento de revermos o que entendemos por vida piedosa. Enquanto não retornarmos ao equilíbrio, hereges são divinizados e fieis, apedrejados. Como último apelo, peço-lhe que ame sua Bíblia. Ela resistiu ao tempo, aos adversários, foi enclausurada por falsos religiosos e custou vidas para que nos alcançasse. Cuide da Revelação! Ainda dá tempo de pregar e viver a mensagem do Cristo ressurreto! Então, o que você pretende fazer? Uma pequena atitude sua pode resgatar vidas do engano. Pense nisso!

Sobre o autor: Thiago Fidelis é bacharelando em Relações Internacionais, professor de Escola Dominical e membro da Assembleia de Deus em Recife – PE.