quarta-feira, 13 de abril de 2016

Deus nos livre da exegese! Série: “O que não é Pentecostalismo”

Deus nos livre da exegese! Série: “O que não é Pentecostalismo”

Por 
 Thiago Fidelis

“Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.” (Atos 17:11, NVI)



Uma das marcas distintivas do desequilíbrio espiritual é a ignorância bíblica. Enquanto escrevo este texto, hereges dividem opiniões nas redes sociais. “Arrependei-vos! ”: gritam alguns, “Não julgueis!”: retruca outra ala.
Em meio a farpas trocadas e muita imaturidade em debates desta espécie, a Igreja do Senhor se vê confusa entre opinar para defender a sã doutrina ou negligenciar a Palavra para agradar a massa de incautos. Cá para nós, de pentecostal para pentecostal, o que você vai fazer?
O texto de abertura menciona a piedade de um povo que certamente saberia o que fazer diante de falsos ensinos: a comunidade de Bereia. Numa de suas viagens missionárias, o apóstolo Paulo passa por Bereia, na Macedônia. A pregação de Paulo naquele lugar nos traz um bom exemplo da fidelidade às Escrituras. Diz a Bíblia que, além de receberem a mensagem [da salvação] com grande interesse, os bereianos analisavam tudo que ouviam à luz da Bíblia, uma atitude louvada pelo escritor de Atos. A evangelização em Bereia foi tão estrondosa que atraiu multidões, inclusive parte dos tessalonicenses, povo visitado por Paulo dias antes (At 17.13).
Se Paulo estivesse vivo nos dias atuais, dificilmente a Igreja seria elogiada da mesma maneira. Temos nos questionado acerca da apostasia que tem invadido nossas igrejas e, quando o fazemos, somos capazes de apontar pessoas e circunstâncias, mas precisamos admitir nossa responsabilidade neste quadro.
Quando um pentecostal maduro reflete sobre o evangelicalismo moderno, em não poucos casos é tomado pelo saudosismo “dos tempos dos pioneiros”. No meu caso, um pentecostal em crescimento, se revisito os testemunhos dos meus antepassados, aprendo com a firmeza do Diácono Manoel Fidelis (meu avô) e o fervor da irmã Jael Santos (minha avó). Ou ainda, sinto meu coração aquecer quando escuto os inúmeros relatos de manifestações sobrenaturais ocorridas no templo da Igreja Batista Pentecostal Canaã, pastoreada por meu tio-avô, Pr. Jair Santos.
“Saudade dos milagres!”, dizemos nós. Amado leitor pentecostal, o que está em pauta não é o apagar da chama do Espírito, mas um aumento do desvio espiritual em nosso meio, causado principalmente por distorções de ordem doutrinária. O que há em comum entre bereianos e os pioneiros pentecostais? Zelo pelas Escrituras!

O Neopentecostalismo prestou um desserviço à Igreja do Senhor: afastá-la da Revelação bíblica. É irônico (ou trágico) pontuar que estufamos o peito ao ostentar a estatística de 50 milhões de evangélicos no Brasil, contudo lidamos naturalmente com a preguiça bíblica. 
Defino como preguiça bíblica o que muitos dos meus irmãos classificariam de “avivamento”. Num misto de pesar e preocupação, canso de ver irmãos de conhecimento bíblico serem tachados de frios ou, na linguagem nordestina, “crus”. Antes que me acusem de pessimismo ou ignorância sociológica, reconheço que o anti-intelectualismo encontrou guarida em nossos círculos entre as décadas de 50 e 70.
O que não destaquei no meu testemunho pessoal é que, apesar de a história do ministério dos meus antepassados ser feita de milagres, não aprendi que pentecostal bom é pentecostal que rodopia, ou marcha, ou ri desordenadamente no culto. Do contrário, a crítica de Gunnar Vingren aos excessos pseudoespirituais (O Diário do Pioneiro, p. 97-101, CPAD) e o notável equilíbrio do meu tio-avô me revelam que é a identidade pentecostal é historicamente vinculada à moderação doutrinária.
A bem da verdade, nos dias de hoje, centenas de jovens pentecostais e neopentecostais são capazes de lotar congressos em busca de “fogo”, mas quatro “gatos pingados” são assíduos em cultos de doutrina e na Escola Dominical. Neste sentido, infelizmente, preciso equiparar um grupo ao outro.
Assim, em meus momentos devocionais, sou constantemente tomado pela reflexão: Se queremos avivamento, o que nos custa conhecer o Deus que aviva? E, se conhecer a Deus pressupõe conhecer a Palavra, por que recorremos a outros métodos, além do estudo bíblico constante e sistemático?
Ainda hoje, voltando da faculdade, encontrei uma irmã amiga de minha família, que me confessou que o fato de eu ter o “dom da interpretação da Bíblia”, em suas palavras, a surpreendia. O que a irmã não sabia é que eu não tenho nenhum dom exegético extraordinário, mas, como aprendi desde pequeno, preciso ler a Bíblia até compreendê-la bem.
O que a deixou mais impressionada foi descobrir que, se ela ler a Bíblia pausadamente, em oração e temor, ela se tornará capaz de entender o que está escrito. Note que a vida de oração é cultivada por esta nobre irmã, entretanto ela nunca havia se dado conta de que seu costume de orar poderia ser uma ferramenta de amadurecimento espiritual.
Finalmente, amado leitor, é tempo de voltarmos ao Evangelho! É o momento de revermos o que entendemos por vida piedosa. Enquanto não retornarmos ao equilíbrio, hereges são divinizados e fieis, apedrejados. Como último apelo, peço-lhe que ame sua Bíblia. Ela resistiu ao tempo, aos adversários, foi enclausurada por falsos religiosos e custou vidas para que nos alcançasse. Cuide da Revelação! Ainda dá tempo de pregar e viver a mensagem do Cristo ressurreto! Então, o que você pretende fazer? Uma pequena atitude sua pode resgatar vidas do engano. Pense nisso!

Sobre o autor: Thiago Fidelis é bacharelando em Relações Internacionais, professor de Escola Dominical e membro da Assembleia de Deus em Recife – PE.


Um comentário:

  1. maravilhoso texto,realmente devemos buscar o equilibrio biblico para que vivamos o verdadeiro avivamento.

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