Deus nos livre da exegese! Série:
“O que não é Pentecostalismo”
Por Thiago Fidelis
Por
“Os bereanos eram mais nobres do
que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse,
examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.” (Atos
17:11, NVI)
Uma
das marcas distintivas do desequilíbrio espiritual é a ignorância bíblica.
Enquanto escrevo este texto, hereges dividem opiniões nas redes sociais.
“Arrependei-vos! ”: gritam alguns, “Não julgueis!”: retruca outra ala.
Em
meio a farpas trocadas e muita imaturidade em debates desta espécie, a Igreja
do Senhor se vê confusa entre opinar para defender a sã doutrina ou
negligenciar a Palavra para agradar a massa de incautos. Cá para nós, de
pentecostal para pentecostal, o que você vai fazer?
O
texto de abertura menciona a piedade de um povo que certamente saberia o que
fazer diante de falsos ensinos: a comunidade de Bereia. Numa de suas viagens
missionárias, o apóstolo Paulo passa por Bereia, na Macedônia. A pregação de
Paulo naquele lugar nos traz um bom exemplo da fidelidade às Escrituras. Diz a
Bíblia que, além de receberem a mensagem [da salvação] com grande interesse, os
bereianos analisavam tudo que ouviam à luz da Bíblia, uma atitude louvada pelo escritor de Atos. A evangelização em Bereia foi tão estrondosa que atraiu multidões,
inclusive parte dos tessalonicenses, povo visitado por Paulo dias antes (At
17.13).
Se
Paulo estivesse vivo nos dias atuais, dificilmente a Igreja seria elogiada da
mesma maneira. Temos nos questionado acerca da apostasia que tem invadido
nossas igrejas e, quando o fazemos, somos capazes de apontar pessoas e
circunstâncias, mas precisamos admitir nossa responsabilidade neste quadro.
Quando
um pentecostal maduro reflete sobre o evangelicalismo moderno, em não poucos
casos é tomado pelo saudosismo “dos tempos dos pioneiros”. No meu caso, um
pentecostal em crescimento, se revisito os testemunhos dos meus antepassados,
aprendo com a firmeza do Diácono Manoel Fidelis (meu avô) e o fervor da irmã
Jael Santos (minha avó). Ou ainda, sinto meu coração aquecer quando escuto os
inúmeros relatos de manifestações sobrenaturais ocorridas no templo da Igreja
Batista Pentecostal Canaã, pastoreada por meu tio-avô, Pr. Jair Santos.
“Saudade
dos milagres!”, dizemos nós. Amado leitor pentecostal, o que está em pauta não
é o apagar da chama do Espírito, mas um aumento do desvio espiritual em nosso
meio, causado principalmente por distorções de ordem doutrinária. O que há em
comum entre bereianos e os pioneiros pentecostais? Zelo pelas Escrituras!
O
Neopentecostalismo prestou um desserviço à Igreja do Senhor: afastá-la da
Revelação bíblica. É irônico (ou trágico) pontuar que estufamos o peito ao
ostentar a estatística de 50 milhões de evangélicos no Brasil, contudo lidamos
naturalmente com a preguiça bíblica.
Defino
como preguiça bíblica o que muitos dos meus irmãos classificariam de
“avivamento”. Num misto de pesar e preocupação, canso de ver irmãos de
conhecimento bíblico serem tachados de frios ou, na linguagem nordestina,
“crus”. Antes que me acusem de pessimismo ou ignorância sociológica, reconheço
que o anti-intelectualismo encontrou guarida em nossos círculos entre as
décadas de 50 e 70.
O
que não destaquei no meu testemunho pessoal é que, apesar de a história do
ministério dos meus antepassados ser feita de milagres, não aprendi que
pentecostal bom é pentecostal que rodopia, ou marcha, ou ri desordenadamente no
culto. Do contrário, a crítica de Gunnar Vingren aos excessos pseudoespirituais
(O Diário do Pioneiro, p. 97-101, CPAD) e o notável equilíbrio do meu tio-avô
me revelam que é a identidade pentecostal é historicamente vinculada à
moderação doutrinária.
A
bem da verdade, nos dias de hoje, centenas de jovens pentecostais e
neopentecostais são capazes de lotar congressos em busca de “fogo”, mas quatro
“gatos pingados” são assíduos em cultos de doutrina e na Escola Dominical.
Neste sentido, infelizmente, preciso equiparar um grupo ao outro.
Assim,
em meus momentos devocionais, sou constantemente tomado pela reflexão: Se
queremos avivamento, o que nos custa conhecer o Deus que aviva? E, se conhecer
a Deus pressupõe conhecer a Palavra, por que recorremos a outros métodos, além do
estudo bíblico constante e sistemático?
Ainda
hoje, voltando da faculdade, encontrei uma irmã amiga de minha família, que me
confessou que o fato de eu ter o “dom da interpretação da Bíblia”, em suas
palavras, a surpreendia. O que a irmã não sabia é que eu não tenho nenhum dom
exegético extraordinário, mas, como aprendi desde pequeno, preciso ler a Bíblia
até compreendê-la bem.
O
que a deixou mais impressionada foi descobrir que, se ela ler a Bíblia
pausadamente, em oração e temor, ela se tornará capaz de entender o que está
escrito. Note que a vida de oração é cultivada por esta nobre irmã, entretanto
ela nunca havia se dado conta de que seu costume de orar poderia ser uma
ferramenta de amadurecimento espiritual.
Finalmente,
amado leitor, é tempo de voltarmos ao Evangelho! É o momento de revermos o que
entendemos por vida piedosa. Enquanto não retornarmos ao equilíbrio, hereges
são divinizados e fieis, apedrejados. Como último apelo, peço-lhe que ame sua
Bíblia. Ela resistiu ao tempo, aos adversários, foi enclausurada por falsos
religiosos e custou vidas para que nos alcançasse. Cuide da Revelação! Ainda dá
tempo de pregar e viver a mensagem do Cristo ressurreto! Então, o que você
pretende fazer? Uma pequena atitude sua pode resgatar vidas do engano. Pense
nisso!
Sobre
o autor: Thiago Fidelis é bacharelando em Relações Internacionais, professor de
Escola Dominical e membro da Assembleia de Deus em Recife – PE.
maravilhoso texto,realmente devemos buscar o equilibrio biblico para que vivamos o verdadeiro avivamento.
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