O
BELÍSSIMO SALMO 139
Por: Anderson de Paula
Revisão: Alef Brid
1.
Introdução – Preciosidade do Salmo 139Revisão: Alef Brid
O
presente estudo visa apresentar exegeticamente este Salmo para que possamos ter
um entendimento correto das lições contidas nele que indubitavelmente são
importantíssimas para todos os cristãos. Este Salmo mostra a grandiosidade de
Deus ao revelar a Onisciência[i], Onipresença[ii] e
Onipotência[iii]
de Deus.
1.1- A coroa de todos os Salmos!
“A coroa de todos os
Salmos!” É titulo que o erudito rabino Aben Ezra (1093-1167) [iv] dá
a este Salmo. Isso é apropriado, pois em seus 24 versos, esse Salmo nos mostra
um Deus maravilhoso! Vemos nesses versos a grandeza de um Deus que não está
preso ao tempo e ao espaço, pois é poderoso para saber de tudo e isso
antecipadamente. É desse jeito que o erudito Oesterley (1866-1950) [v]
entende o Salmo quando diz:
“No
que diz respeito à Natureza Divina, a Onisciência e a Onipresença, esse salmo
se destaca como “a perola mais preciosa do Saltério.” Diz-se que existem
escritos paralelos na Babilônia e em outros escritos sagrados do passado, mas
na literatura religiosa do mundo primitivo, esse Salmo é singular”.
Assim, entendemos que o
Salmo realmente merece um estudo acurado, pois se trata de um Salmo que traz
maravilhosas instruções para todos os amantes de teologia.
1.2.
Salmo de instrução
O Dr. Stanley Ellisen[vi]
entende que o Salmo é de instrução, pois traz maravilhosos ensinos a todos os
amantes de teologia. Isso se torna evidente ao se olhar o esboço do salmo. O
salmo nos apresenta a Onisciência de Deus do verso 1 – 6; sua Onipresença dos 7
– 12 e a sua Onipotência no milagre da gestação humana dos 13 – 16. Em seguida,
o salmista faz um relato maravilhado sobre a Grandiosidade Divina e a limitação
da mente humana nos 17- 18. Finalmente, ele termina mostrando sua indignação
contra os homens violentos e faz um pedido para Deus examinar a sua conduta e
dirigi-lo pelo caminho eterno dos 19 - 24. Partiremos agora para os
ensinamentos deste belíssimo Salmo.
2.
A Onisciência de Deus
“SENHOR,
Tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de
longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces
todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis
que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e
puseste sobre mim a Tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta
que não a posso atingir.” Salmos 139:1-6.
A palavra Onisciência é a
junção de duas palavras latinas: “o(m)ni” (tudo) e “ciência” (conhecimento).
Assim, Onisciência significa “saber tudo”. Deus conhece tudo de maneira
exaustiva, isto é, sabe todos os detalhes de todas as coisas que existem. Deus
tem total conhecimento de Si mesmo, do tempo e espaço (pois esta fora do Cronos[vii]).
O primeiro ensinamento que
temos nesse Salmo é exatamente em relação ao atributo incomunicável[viii]
de Deus que é a Onisciência: Deus conhece todas as coisas e conhece
antecipadamente. O salmista reconhece que Deus sabe cada mínimo detalhe de sua
vida. Ele mostra que Deus conhece o ser humano por completo. Seus pensamentos,
intenções e ações (quando esta em publico ou sozinho) são conhecidos de Deus.
Tal conhecimento deixa o salmista atônito, o fazendo reconhecer a grandiosidade
do conhecimento de Deus e a limitação do conhecimento humano. Vamos estudar
esse atributo apresentado nessas palavras, pois é crucial para um entendimento
adequado desse Salmo.
2.1.
Deus conhece a Si mesmo
O
primeiro objeto de conhecimento de Deus é Ele mesmo, pois Ele existe antes que
todas as coisas existissem e o próprio tempo foi criado por Ele. O teólogo
medieval Tomás de Aquino[ix]
acertadamente fala sobre o autoconhecimento de Deus:
“Deus
conhece a Si mesmo perfeitamente. Algo é perfeitamente conhecido quando seu
potencial a ser conhecido é completamente percebido e não há potencialidade não
realizada em Deus, visto que Ele é realidade completa – Pura Existência. Portanto,
Deus se conhece perfeitamente. O seu autoconhecimento é completamente real.” [1]
Deus
conhece a si mesmo e uma vez que não existe “por realizar” em Deus, Ele tem
autoconhecimento perfeito de Si mesmo.
2.2.
Deus conhece infinitamente todas as coisas
O teólogo Holandês Jacó Armínio foi preciso na
sua definição da doutrina da Onisciência ao declarar:
“Ele
conhece as coisas substanciais e acidentais de todo o tipo; as ações e emoções,
os modos e circunstancias de todas as coisas; palavras e ações externas,
pensamentos, opiniões, deliberações e determinações internas e as entidades da
razão, quer sejam complexas ou simples. Todas essas coisas, sendo conjuntamente
atribuídas à compreensão de Deus, levam à conclusão justa de que Deus conhece
as coisas infinitamente.[2]”
Armínio é preciso em falar
que Deus conhece as coisas de maneira infinita, ou seja, o conhecimento de Deus
é exaustivo! É como infinito que o molinista/wesleyano W.L Craig define o
conhecimento de Deus ao falar do Salmo que estamos estudando:
“Nenhum
numero finito pode servir para enumerar o que Deus conhece; seu conhecimento é
infinito. O sentido final do versículo 18 é que é impossível chegar ao fim do
conhecimento de Deus.” [3]
Assim,
fica evidente que Deus conhece infinitamente não apenas a Si mesmo, mas também
a tudo que criou, incluindo todas as coisas do tempo. Deus conhece todas as
coisas que já aconteceram (passado), que estão acontecendo (presente) e que vão
acontecer (futuro). Isso é uma verdade claramente demonstrada nas Escrituras e,
portanto, importantíssima para o nosso estudo.
2.3.
Deus conhece o Passado, Presente e Futuro.
Irineu (125 – 202 D.C) diz:
“Olha
para aquele que esta a cima dos tempos, para aquele que não tem tempos” [4]
Sempre
foi defendido na historia da Igreja que Deus é atemporal[x] e isso
é crucial para entender a Onisciência de Deus (principalmente no que diz
respeito ao conhecimento do futuro - presciência). Deus não está preso ao
tempo, pois o próprio tempo foi criado por Ele. Conforme bem declarou Agostinho
(354-430):
“O
mundo não foi feito no tempo, mas junto com o tempo. Pois o que é feito no
tempo é feito depois de um período de tempo e antes de outro, isto é, depois de
um tempo passado e antes de um tempo futuro. Mas, poderia não ter havido tempo
passado, visto que não houve nada criado por cujos movimentos e mudanças de
tempo pudessem ser medidas.” [5]
Deus
é o criador de tudo que existe no tempo, mas Ele é criador também do tempo. O
tempo começou com a criação, antes dela não existia tempo. Em Deus não existe
passado ou futuro, Ele é imutável e um Ser imutável como Deus vive um eterno
presente, mas esse Deus criou criaturas temporais para viverem dentro do tempo
e é aqui que vamos concentrar nosso assunto.
2.4.
Deus conhece o passado
Agora,
que deixamos claro que Deus não está preso ao tempo, podemos continuar a falar
do conhecimento que Deus tem do passado, presente e futuro (vamos apenas dar
uma breve “pincelada” no passado e presente para nos concentrar no futuro -
presciência - que é o ensinamento principal desta primeira parte do Salmo).
Deus tem total conhecimento
da Historia do Universo, Ele sabe de todos os acontecimentos que já aconteceram
em seus mínimos detalhes. Ele conhece o que foi tratado em reuniões secretas e
todos os segredos que os homens escondem. A Bíblia é muito clara em afirmar
essa verdade, pois em Salmos esta escrito:
“Tu
conta as minhas vagueações; põe as minhas lagrimas em teu odre. Não estão elas
no teu livro?” Salmo 56:8.
É
claro que Deus não esquece nada para que precise anotar. Quando a Bíblia fala que
Deus não se lembra de nossos pecados não esta dizendo que Deus esqueceu como
uma pessoa com problemas de memoria, mas esta falando do perdão de Deus aos
arrependidos. Deus também não precisa de livros para não esquecer algo ou para
rever suas notas, mas quando a palavra de Deus fala a respeito dessas coisas,
está falando que nada que acontece (ou aconteceu) escapa ao conhecimento de
Deus e um dia Ele jugará os homens pelos seus atos. Portanto, entendemos que
Deus conhece de fato o passado, pois nada escapa do seu conhecimento.
2.5.
Deus conhece o presente
Da
mesma maneira que Deus conhece o passado, Ele tem total conhecimento do
presente. Ele sabe o que esta acontecendo com todos neste exato momento e está
vendo o que os homens estão fazendo ou pensando. Conhece o que o amado leitor
esta pensando neste exato momento. As Escrituras muitas vezes descrevem Deus
como olhando para sua criação e observando seus atos e tudo que acontece com
ela. É o que diz em Jó 28:24:
“Porque
Ele perscruta as extremidades da terra, e vê tudo debaixo dos céus”.
Deus
não apenas conhece o que se passa com as coisas criadas, mas também tem total
entendimento delas. Ele entende as leis que regulam as estrelas e os céus, Ele
entende a vida no mais profundo do mar, Ele entende o nascimento e a morte. Ele
entende e governa o magnífico reino animal. Além disso, Deus conhece todos os
assuntos humanos. Ele entende sociologia, biologia, psicologia, antropologia,
politica e tudo que se pode conhecer, Ele conhece! Podemos dizer com certeza que Deus tem
sabedoria e compreensão total de toda a obra criada.
2.6.
Deus conhece o futuro (presciência)
Durante todo o curso da Historia da
Igreja sempre foi defendendo que Deus conhece o futuro e sua presciência é
simples, ou seja, Deus sabe o que vai acontecer sem que tenha que determinar,
mas nos dias contemporâneos surgiu uma gama de teologias que contrariam a ideia
de uma presciência simples[xi].
O Dr. Norman Geisler diz o seguinte sobre o assunto:
“O
debate contemporâneo, entretanto, tem mudado a paisagem teológica desta
doutrina. Hoje, o conhecimento ilimitado de Deus é supostamente limitado; a sua
Onisciência já não é o conhecimento de tudo. Se concordarmos com isso,
ficaremos com a visão contraditória da Onisciência limitada. O ataque à Onisciência
tradicional parte de fora e de dentro do evangelicalismo.” [6]
O que Geisler quer dizer com “Onisciência
limitada”? E quem é este envolvido neste “debate contemporâneo?” As respostas
estão na maneira como se entende o conhecimento que Deus tem do futuro:
“Presciência de Deus”, pois todos os cristãos acreditam que Deus conhece todas
as coisas, mas divergem no que diz respeito ao conceito de conhecimento do
futuro. Segue nos próximos comentários a explicação de Onisciência limitada e
ilimitada (Onisciência tradicional):
a)
Onisciência limitada
É
qualquer visão que limite o conhecimento de Deus, como por exemplo, os
deterministas. Eles entendem que Deus conhece o futuro porque Ele determinou
cada ato do ser humano, pois do contrario não conheceria. Isso coloca uma
limitação na presciência de Deus de não poder saber caso suas criaturas forem
livres. Além disso, coloca o conhecimento de Deus a um mero escritor que só sabe
o final do livro porque foi Ele quem escreveu. Outro exemplo são os que creem
na tese do Teísmo Aberto, asseverando que Deus conhece o futuro, mas como
possibilidade e não de fato, pois o futuro ainda não existe para que Deus possa
conhecer. Nessa visão, Deus é reduzido a um pai que fala para o filho escolher
entre uma bola ou um vídeo game. O pai sabe que o filho vai escolher um dos
dois porque só tem essas possibilidades para escolher. Assim é Deus nesta
visão! Deus só pode conhecer as possibilidades do futuro, mas não o futuro de
fato. Essas duas visões são exemplos
claros de Onisciência limitada, pois ambas colocam uma limitação no conhecimento
que Deus tem de futuro.
b) Onisciência tradicional (ou ilimitada),
É exatamente o contrario do que foi dito acima!
Onisciência ilimitada é a doutrina que entende que Deus não tem qualquer
limitação em Seu conhecimento mesmo que suas criaturas sejam livres, Ele sabe
tudo sem precisar determinar. Podemos citar os arminianos e os molinistas como
os que creem na Onisciência ilimitada e, assim, deixar claro quais são as
escolas que divergem sobre esse tema. Os arminianos e os molinistas acreditam
que Deus tem o conhecimento do futuro de maneira simples, ou seja, Ele conhece
as decisões livres finais de cada criatura. Assim, podemos dizer que
deterministas e teístas abertos limitam o conhecimento de Deus, enquanto os
arminianos e molinistas entendem que não existe limitação no conhecimento
Divino nem mesmo em relação ao futuro. O erudito Dr. Jack Cottrell nos da um
exemplo claro de presciência tradicional (ou simples) ao refutar o Teísmo
Aberto:
“Digamos que eu peço a você para assistir
comigo um vídeo de um sermão que eu já assisti antes. Então, eu digo em um
determinado ponto do vídeo: “eu sei exatamente o que o pregador vai dizer em
seguida. Não há dúvida sobre isso. Ele vai dizer isso e aquilo.” E, assim, no
vídeo, as palavras são ditas conforme eu predisse. Será que o meu
“pré-conhecimento” destas palavras, de alguma maneira, afetou a liberdade do
pregador quando as proferiu? Nem um pouco. Minha certeza, quanto ao que
acontecerá no vídeo, de maneira nenhuma afeta a integridade do sermão conforme
originalmente pregado. Na verdade, minha certeza é dependente do sermão
conforme pregado. O pré-conhecimento de Deus funciona de maneira similar,
exceto, que Ele vê a realidade dos eventos antes que eles aconteçam, ao invés
de ver após o acontecimento. Porém, o pré-conhecimento de Deus não afeta a
contingência dos eventos mais do que o meu conhecimento, após-o-fato, afeta um
evento passado.
É
um fato verdadeiro que todos os eventos futuros, incluindo as escolhas do livre
arbítrio, são certas de acontecer, conforme pré-conhecidas; porém, não é o
pré-conhecimento que as torna certas; elas apenas são certas. Então, o que os
tornam certas? Os próprios atos, conforme previstos por Deus, da Sua
perspectiva da eternidade. Todos concordariam que os eventos passados são certos.
O que os tornam certos? O simples fato de que eles já aconteceram; da maneira
como aconteceram. Os próprios atos os tornaram assim. Este mesmo princípio
estabelece a certeza dos eventos futuros pré-conhecidos. Sua certeza não é
definida pelo pré-conhecimento de Deus; pelo contrário, o pré-conhecimento de
Deus é definido pela realidade dos próprios eventos. O fato de que Deus os vê
“antes do tempo”, da Sua perspectiva de eternidade, significa que eles vão
acontecer conforme Deus os vê; porém, eles vão acontecer por causa das genuínas
escolhas livres dos sujeitos envolvidos.”[7]
Em
suma, a onisciência tradicional ensina que Deus o conhecimento de Deus do
futuro não é causativo, pois Deus não está preso ao tempo e por isso pode
constatar infalivelmente as decisões livres finais de suas criaturas.
3.
A Onipresença de Deus
“Para
onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da Tua presença?
Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura, também
lá estás. Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar,
mesmo ali a Tua mão direita me guiará e me susterá. Mesmo que eu dissesse que
as trevas me encobrirão, e que a luz se tornará noite ao meu redor, verei que nem
as trevas são escuras para Ti. A noite brilhará como o dia, pois para Ti as
trevas são luz.” Salmos 139:7-12
O
segundo atributo incomunicável de Deus, que vemos neste salmo, é o atributo da Onipresença.
Ao declarar “Para onde poderia eu escapar do seu Espirito?” O salmista esta
mostrando que é impossível estar em algum lugar em que Deus não esteja. Isto
significa que Deus é o único que pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Não existe criatura que possa estar em todos os lugares. Mesmo os anjos e
demônios não possuem tal capacidade e só podem estar em um único lugar dentro
do tempo. Foi maravilhado com esse atributo que o sábio Salomão disse:
"Mas será possível que Deus habite na terra com os homens? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem conter-te. Muito menos este templo que construí!” 2ª Crônicas 6:18
O
sábio Salomão entendia que Deus não pode ser contido dentro de qualquer coisa,
pois Ele é infinito e esta em todos os lugares! O doutor Eduardo Joiner
acertadamente fala sobre esse atributo de Deus:
“Ele
existe em todo o espaço infinito, pela essência de seu Ser: Isso se comprova
através da seguinte pergunta feita por Ele mesmo: “Não encho Eu o céu e a
terra?"– diz o Senhor?” (Jr 23.24). Na língua hebraica “os céus e a terra”
significam o universo inteiro. Este universo, segundo a própria declaração de
Deus, está cheio de sua Presença.” [8]
Assim,
fica claro que Deus está presente em todos os lugares do universo e é
impossível escapar da Sua Presença. O salmista mostra essa verdade ao declarar,
citando vários lugares como “as extremidades do mar” ou ate mesmo “os céus” que
é impossível fugir da presença de Deus, pois Deus preenche todos os espaços,
ate mesmo o espaço ocupado pelos ímpios.
3.1.
A Onipresença de Deus alcança salvos e ímpios
Deus
está em todos os lugares e contempla tanto a justos como a ímpios e se comporta
de maneira peculiar em cada um deles. Para o teólogo pentecostal pr. Walter
Brunelli existem três razões pelas quais Deus está presente na vida de uma
pessoa, seja ela salva ou ímpia, ele diz:
“Para
sustentar, para punir e para abençoar. No caso dos ímpios, a presença de Deus
tem como finalidade sustentar e às vezes punir” [9]
a)
A Presença de Deus para sustentar e punir: Deus sustenta os ímpios, pois deseja que todos se
arrependam e cheguem ao conhecimento da Verdade (1ª Tm 2.4). Porém, quando o
ímpio insiste em sua maldade não ouvindo as advertências bíblicas, cairá no
juízo de Deus que punirá toda a maldade que os ímpios praticam, pois suas
maldades não podem ser escondidas da Onipresença de Deus (Amós 9.1-4).
b)
A presença de Deus para sustentar e abençoar: Na vida do salvo está a benção do Senhor. Deus nos
sustenta com sua maravilhosa Graça para que não pereçamos e nos abençoa em
todas as áreas de nossa vida. É essa a certeza que Davi tinha quando disse:
“E
agora foste servido abençoar a casa do teu servo, para que permaneça para
sempre diante de ti; porque tu, Senhor, a abençoaste, ficará abençoada para
sempre.” 1ª Crônicas 17:27
O
crente pode descansar, pois sabe que esta sendo sustentado e abençoado por
estar na Presença de Deus. Deus está em toda a parte! Para o salvo isso é
belíssimo, mas para o ímpio é terrível, pois não se sabe nem o dia, nem a hora
em que Ele dirá: “Basta, apartem-vos de mim, vos todos que praticam a
iniquidade.” Lc 13.27
4.
A Onipotência de Deus
“Pois
possuíste os meus rins; cobriste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei,
porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as
Tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram
encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra.
Os Teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no Teu livro todas estas
coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda
uma delas havia.” Salmos
139:13-16
Chegamos
enfim, na parte mais controversa do Salmo, pois é essa parte que os
deterministas gostam de usar para apoiar seu sistema teológico. Entretanto, mostraremos
que essa parte não esta falando de determinismo, mas da Onipotência de Deus
demonstrada através do milagre da gestação. Antes, porém, vamos definir o que é
Onipotência.
Onipotência
é o Poder de Deus de fazer todas as coisas que são objeto do seu Poder com ou
sem uso de meios. O termo hebraico para Onipotência é shaddai; no grego,
pantokratõr. Isso significa que não existe lei alguma no universo que impeça do
Ser Onipotente fazer tudo que queira.
4.1.
A Onipotência esta em harmonia com seus outros atributos
O
fato de Deus ser Onipotente significa que não existem limites para Seu Poder.
Nas Sagradas Escrituras essa verdade está claramente revelada nas palavras do
mestre Jesus, que disse:
“Jesus
olhou para eles e respondeu: Para o homem é impossível, mas para Deus todas as
coisas são possíveis". Mateus 19:26
Porem,
precisamos entender que a Onipotência de Deus está em harmonia com seus outros
atributos. É dessa maneira que o Dr. Eduardo Joiner define a Onipotência de
Deus:
“Deus
é capaz de fazer todas as coisas que podem ser feitas, mas ao mesmo tempo todos
os atributos se harmonizam, e o poder infinito jamais pode ser exercido de
maneira a produzir uma contradição a natureza divina. Isto, porem, não indica
imperfeição alguma neste atributo, mas mostra a sua excelência.” [10]
Deus
pode fazer tudo que deseja, mas só deseja o que é concernente com a sua
natureza que é Boa, Justa e Perfeita. A bíblia diz que Deus não pode mentir
(Tito 1:2), isto porque a natureza de Deus é verdadeira e não pode fluir a mentira
de um Deus que é a Verdade. Os atributos de Deus sempre agem em harmonia com a
sua natureza e nunca de maneira desordenada! É impossível um Deus justo cometer
a injustiça simplesmente porque é Onipotente, pois apesar de Deus ser
Onipotente, seu Poder está ligado aos seus outros atributos. É por isso que o
atributo da Onipotência de Deus deve infundir no ímpio um grande temor, pois a
Justiça de Deus punirá justamente suas maldades (Sl 9.17).
O
justo, por outro lado, pode ter grande alegria em seu coração porque o Deus da
promessa é todo poderoso para cumpri o que prometeu. Foi confiando na Onipotência
de Deus que Davi disse:
“O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de
quem terei temor? O Senhor é o meu forte refúgio; de quem terei medo? Quando
homens maus avançarem contra mim para destruir-me, eles, meus inimigos e meus adversários,
é que tropeçarão e cairão. Ainda que um exército se acampe contra mim, meu
coração não temerá; ainda que se declare guerra contra mim, mesmo assim estarei
confiante.” Salmos 27:1-3
É
exatamente por Deus ser Todo Poderoso, Justo e Amoroso que podemos confiar em
suas promessas e, enquanto os ímpios devem temer o castigo proveniente da
Justiça do Deus Todo Poderoso, nós podemos descansar neste mesmo Deus Onipotente.
Agora
que mostramos a definição de Onipotência e que ela esta em harmonia com os
outros atributos de Deus, podemos entrar nos versos 13 ao 16 em que o salmista
usa o milagre da vida para ilustrar o Poder de Deus. É muito importante essa
parte de nosso estudo, pois esses versos têm instruções maravilhosas para a
nossa edificação.
4.2.
A Onipotência demonstrada através do milagre da vida
O
milagre da vida é algo realmente espantoso. É incrível (ou como diria o
salmista: Admirável e maravilhoso) como a gestação de uma criança ocorre! Somos
no começo sem forma (exatamente como o salmista relata: “No ventre informe...”).
Depois, começamos a ser formados interna e externamente. O nosso coração e
todos os órgãos internos, nossos braços e pernas começam a aparecer e vamos
tomando forma até tudo estar perfeito para o nascimento. O salmista atribui a
sua formação no ventre ao poder de Deus quando diz:
“Pois
Tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu Te
louvarei, porque de um modo tão admirável e maravilhoso fui formado;
maravilhosas são as Tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos
não Te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e esmeradamente tecido
nas profundezas da terra.” Salmos 139:13-15
É
muito interessante o salmista dizer que Deus o entreteceu no ventre de sua mãe.
A palavra “entretecer” significa tecer, fiar, entrançar, entrelaçar e etc. Essa
palavra mostra a ideia de um alfaiate que vai tecendo seus pontos até formar um
traje de gala. Essa comparação não deixa duvidas de que a Bíblia ensina que é
Deus quem dá o desenvolvimento no ventre materno. Quando o salmista diz que os
seus ossos não foram encobertos, está dizendo que Deus estava presente em sua
criação. O milagre da vida só é possível graças à Onipotência de Deus. É
importante analisar esse contexto para ter um entendimento verdadeiro do verso
seguinte que é muito deturpado por algumas corretes teológicas, principalmente
os deterministas. O verso 16 diz:
“Os
Teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no Teu livro todas estas coisas
foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma
delas havia.” Salmos 139:16
Quando
o Salmo diz que essas coisas foram escritas não está se referindo aos seus atos
ou de qualquer pessoa, mas está falando diretamente do assunto tratado desde o
verso 13 até agora. Podemos fazer a pergunta: Quais coisas foram escritas no
livro que em contínuo foram formadas? O texto é claro quando remete isso ao
milagre da gestação (os seus olhos viram meu corpo ainda informe). Essa parte
mostra claramente o Poder de Deus na criação do ser humano e também a sua Onisciência
em saber que o salmista viria a existir. O Hebraísta Dr. Carlos Augusto Vailatt
cita o “Argumento do Paralelismo Sinonímico Hebraico” para expressar essa
verdade que apresentamos até aqui. Ele diz:
“Sabe-se
que uma das características da poesia hebraica é o paralelismo sinonímico.
Nesse tipo de recurso literário, a segunda parte de um versículo bíblico repete
a mesma ideia da primeira parte com expressões distintas, mas sinônimas. Tendo
isso em mente, a expressão “dias foram formados quando nem um deles havia” (Sl
139:16b) parece estar compondo um paralelismo sinonímico com “O meu embrião
viram os teus olhos [...]” (Sl 139:16a). Desse modo, a criação do salmista como
embrião no útero materno (v.16a) equivale à formação dos dias de vida do
salmista, os quais, antes da sua criação, evidentemente ainda não existiam.
Portanto, a tônica do Salmo 139:16 é criacionista e não determinista. O que
está em vista aqui é a ação maravilhosa de Deus na criação do salmista e não a
discussão sobre a determinação de cada um de seus anos, meses, semanas, dias,
horas, minutos e segundos de vida terrena.” [11]
Assim,
fica evidente que o sentido do verso 16 é criacionista e não determinista, pois
nada no Salmo indica algo relacionado a Deus determinar todas as ações do ser
humano, pois mostra claramente o Poder de Deus na criação do Salmista.
5.
A Grandiosidade Divina e a limitação do homem
“E
quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grandes são as somas
deles! Se as contasse, seriam em maior número do que a areia; quando acordo
ainda estou contigo.” Salmos 139:17,18
Aqui
vemos o relato maravilhado do Salmista diante da Grandiosidade de Deus! As Suas
obras são magnificas e mostram a sua Grandiosidade. Não tem como o salmista não
ficar perplexo diante das maravilhas que acaba de ressaltar. Quando o salmista
diz que os pensamentos do Senhor são preciosos, está declarando que é impossível
mensurar o Poder e a Sabedoria de Deus. Não são apenas as obras das mãos de
Deus que são maravilhosas, mas também seus pensamentos na vida de uma pessoa de
fé são objetos de constante admiração. Seus pensamentos são inumeráveis,
totalmente impossíveis de contar, além de insondáveis. É impossível ao homem
chegar ao Poder e Sabedoria do Altíssimo.
6.
A certeza da Justiça Divina e um pedido para ser guiado por Deus
“Ó
Deus, Tu matarás decerto o ímpio; apartai-vos, portanto de mim, homens de
sangue. Pois falam malvadamente contra Ti; e os Teus inimigos tomam o Teu nome
em vão. Não odeio eu, ó Senhor, aqueles que Te odeiam, e não me aflijo por causa
dos que se levantam contra Ti? Odeio-os com ódio perfeito; tenho-os por
inimigos. Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os
meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho
eterno.” Salmos 139:19-24
a)
A certeza da justiça Divina:
o Salmista está convicto que Deus sabe de todas as maldades dos ímpios e que
nada do que eles fazem pode escapar da Onipresença e Onisciência de Deus. Também
está convicto de que Ele é Todo Poderoso para punir os maus. Assim, expressa
sua confiança na Justiça Divina ao falar: “Tu mataras decerto o ímpio...” e mesmo
que suas maldades sejam habilidosamente disfarçadas e encobertas a fim de
escondê-las do mundo. Por mais que o ímpio pense que esta prosperando, por fim,
a Justiça de Deus o alcançará. Assim funciona a Justiça de Deus! Ela pune os
homens que agem malevolamente. É nessa visão que o teólogo Martthew Henry
comenta essa parte do Salmo. Segue:
“O
motivo pelo qual Deus os punirá é porque eles O afrontaram malvadamente e o
desafiaram: Falaram malvadamente contra Ti e devem ser chamados a prestar contas
por todas as suas duras palavras.” [12]
Vemos aqui que a punição
de Deus é justa, pois esses homens fizeram o que era mal aos olhos do Senhor e
o salmista confia que esses ímpios receberão o justo castigo por seus atos.
b)
Um pedido para ser guiado por Deus:
os pedidos do Salmista são: para Deus o sondar, ver se existe nele algum caminho
mau e o guiar pelo Caminho Eterno. É um apelo humilde (que todo o servo do
Senhor deve ter em relação aos seus atos e pensamentos) para que Deus mostrasse
se existia algo errado com o Salmista, se ele tinha algum pensamento perverso e
se ele estava andando no caminho certo. O pedido é para que ele seja guiado no
correto caminho que leva a Salvação.
Conclusão:
O nosso estudo mostrou que o Salmo 139 é cheio de ensinamentos da Grandiosidade de Deus e da maneira como devemos nos portar diante de tamanha Grandeza. O Salmista nos ensinou (inspirado pelo Espirito Santo) que Deus conhece todas as coisas e nada escapa de sua Onisciência, que Ele está em todos os lugares de maneira que não se pode escapar da sua Presença e que Ele é Todo Poderoso e não existe limitação em seu Poder, mas que esse Poder está em perfeita harmonia com seus outros atributos (Justiça, Amor, Verdade e etc.). Aprendemos com tudo isso, que precisamos ser humildes e sempre pedir a Deus para nos examinar e nos mostrar se existe ainda em nós algum caminho mau, pois Ele sabe de todas as coisas e, precisamos estar sempre sendo guiados no Caminho Eterno.
O nosso estudo mostrou que o Salmo 139 é cheio de ensinamentos da Grandiosidade de Deus e da maneira como devemos nos portar diante de tamanha Grandeza. O Salmista nos ensinou (inspirado pelo Espirito Santo) que Deus conhece todas as coisas e nada escapa de sua Onisciência, que Ele está em todos os lugares de maneira que não se pode escapar da sua Presença e que Ele é Todo Poderoso e não existe limitação em seu Poder, mas que esse Poder está em perfeita harmonia com seus outros atributos (Justiça, Amor, Verdade e etc.). Aprendemos com tudo isso, que precisamos ser humildes e sempre pedir a Deus para nos examinar e nos mostrar se existe ainda em nós algum caminho mau, pois Ele sabe de todas as coisas e, precisamos estar sempre sendo guiados no Caminho Eterno.
À DEUS SEJA A GLÓRIA!
[1] Suma Teológica
1, 14.3 ( citado em TS. Norman Geisler página 710)
[2] Works of
Arminio 1,404 CPAD edição de 2015.
[3] O único
Deus sábio, Editora Sal Cultural – Primeira edição 2016, página 21
[4] AVIE,3,
em roberts and Donaldson, ANF,1 ( ctado em TS Geisler, Norman, página 627)
[5] IBIRD,
pag. 630.
[6] TS
Geisler Norman, página 707.
[7] Site
deusamouomundo.com, acesso em 21 de novembro de 2017 link: http://deusamouomundo.com/onisciencia/a-presciencia-de-deus-anula-o-livre-arbitrio-humano/
[8] Manual
Prático de Teologia de Eduardo Joiner, página 64. 2ª edição, Janeiro de 2017,
Editora Central Gospel.
[9] TS
Walter Brunelli, Volume 1, página 360 editora Central Gospel, 1ªedição
Abril/2016
[10] Manual
Prático de Teologia, Eduardo Joiner, editora Central Gospel, página 63/ 2ª
Edição, Janeiro de 2007
[11] Dr.
Carlos A. Vaillat, em sua página de facebook.
[12]
Comentário Bíblico Antigo Testamento de Matthew Henry, página 689 comentário do
Salmo 139.
[i] Atributo
incomunicável de conhecer todas as coisas e conhecer antecipadamente.
[ii] Atributo
incomunicável de estar em todos os lugares e ao mesmo tempo.
[iii] Atributo
incomunicável de poder todas as coisas.
[iv] Abraham ben
Meir ibn Ezra (em hebraico: אברהם אבן עזרא, também conhecido por Abenezra)
(1092 ou 1093-1167), foi um importante escritor judeu da idade média. Nasceu em
Tudela, no antigo reino Navarra (hoje, Espanha). E faleceu, por volta de 1167,
em sítio incerto, mas muito provavelmente em Calahorra, com outros a dizer que
foi em Roma ou na Terra Santa. Foi um sábio e rabino espanhol. Cultivou todas
as ciências, e mais particularmente a astronomia. Os seus comentários sobre o
Antigo Testamento são notáveis por uma grande ousadia de opiniões. Aben-Ezra
deu o seu nome a uma cratera lunar.
[v] Rev.
William Oscar Emil Oesterley (Calcutá 1866-1950) foi um teólogo da Igreja da
Inglaterra e professor de hebraico e antigo testamento no King's College,
Londres, desde 1926. [1] Seus muitos livros abrangem uma ampla gama de tópicos
do comentário da Bíblia E a doutrina cristã, o judaísmo e o antigo Israel a
assuntos mais gerais, como a dança sagrada.
[vi] Stanley
Ellisen, professor de literatura Bíblica e chefe da divisão de Estudos Bíblicos
no Western Seminary (EUA).
[vii] Tempo
constituído de passado, presente e futuro.
[ix] Ele foi o
mais importante proponente clássico da teologia natural e o pai do tomismo. Sua
influência no pensamento ocidental é considerável e muito da filosofia moderna
foi concebida como desenvolvimento ou oposição de suas ideias, particularmente
na ética, lei natural, metafísica e teoria política. Ao contrário de muitas
correntes da Igreja na época [5], Tomás abraçou as ideias de Aristóteles - a
quem ele se referia como "o Filósofo" - e tentou sintetizar a
filosofia aristotélica com os princípios do cristianismo. As obras mais
conhecidas de Tomás são a "Suma Teológica" (em latim: Summa
Theologiae) e a "Suma contra os Gentios" (Summa contra Gentiles).
Seus comentários sobre as Escrituras e sobre Aristóteles também são parte
importante de seu corpus literário. Além disso, Tomás se distingue por seus
hinos eucarísticos, que ainda hoje fazem parte da liturgia da Igreja.
[x] Não este
preso ao tempo- passado, presente e futuro.
[xi]
Conhecimento da Historia sem a necessidade de determinar o futuro