domingo, 27 de março de 2016

2000 Anos de Cristianismo Carismático - O Declínio dos Dons do Espírito e o Primeiro Renovo Carismático

O Declínio dos Dons do Espírito e o Primeiro Renovo Carismático

Traduçao: Miqueias de Oliveira.

Os dons espirituais continuaram a serem manifestados depois do primeiro século. Enquanto a institucionalização crescente ia dominando a vida e o ministério da igreja, contudo, o seu predomínio e influência foi gradualmente acabando. O institucionalismo é um ênfase na organização à custa de outros fatores. Na igreja, tal ênfase, ou seja uma ênfase extrema, na organização sempre vem com um custo da vida e liberdade do Espírito. O professor James L. Ash, Jr. fala que praticamente todos os historiadores do Cristianismo concordam que a institucionalização da igreja primitiva foi acompanhado pelo desaparecimento dos dons.

INSTITUCIONALISMO E BISPOS

O caminho à institucionalização da igreja primitiva venho a acontecer como um meio e defesa contra perseguição do Estado e em defesa contra seitas heréticas como Gnoticismo e o Marcionismo. Reagindo a estas ameaças, a igreja formalizou o louvor e centralizou poder no bispo. Infelizmente, esta decisão em direção a estrutura organizacional trouxe uma mudança ao próprio significado da palavra bispo.

     A palavra bispo é derivada da palavra Grega episcopas, que neste verbo significa, “cuidar” e, então, “Superintender ou para supervisionar.” Algo que não é exclusivo do Novo Testamento, pois foi usado no mundo Grego-Romano do primeiro século em referencia a individuos que eram tutores, inspetores, escuteiros, guardas e superintendentes. Na igreja apostólica, a palavra era usada para descrever a função de supervisão dada a determinados indivíduos em questões relacionadas com as igrejas. Atos 20:17, 28 e Tito 1:5-7 mostra que os mesmos individuos que eram conhecidos como episcopas são também referidos como anciões que era esperado deles de apascentar e pastorear o rebanho.
  
    Ash descreve a tentativa de Inácio para conseguir tal autoridade para si e para o cargo de bispo como " uma novidade ". Realmente, quando comparado com os escritos do Novo Testamento, é óbvio que Inácio tomou um novo caminho no governo da igreja. No clássico de Burnett Streeter ‘A Igreja Primitiva’ diz o seguinte:

O que ninguém questiona, ninguém defende; defesa muito entusiasmada implica a existência de uma oposição forte. O princípio que Inácio estava tão preocupado de assegurar é um que não é reconhecido universalmente.

A história demonstra que a tendência de institucionalização implantada por Inácio continuou, culminando na institucionalização eclesiástica da igreja Católica Romana e no seu bispo monarca. Isso significou que coisas externas como ordenação eclesiástica de cargo e rituais passaram a ser mais apreciado e favorizado que experiências pessoais com o Espírito Santo. Isto também significou que manifestações espontâneas do Espírito Santo passaram a ser menos e menos desejada, especialmente por aqueles que estavam em autoridade. É por esta razão que Ash, em resposta da noção popular que os dons carismáticos foram trocados pelo Canône do Novo Testamento, declara:

 “Os bispos, não o cânone, parou as profecias”.

Para aqueles que abraçaram esta ênfase de estrutura organizacional, autoridade espiritual não foi mais visto como algo que residia em uma pessoa com os dons do espírito. A autoridade agora residia naquele que ocupava o cargo eclesiástico. Isso gerou um monte de tensões entre aqueles que continuaram a buscar os dons espirituais e aqueles que preferiam a emergente estrutura organizacional.

 Aqueles que desejavam a liberdade e espontaneidade do Espírito Santo sentiram-se esmagados pelos crescentes rituais e formalidades. Mas ao mesmo tempo, líderes das igrejas, que agora talvez estivessem no cargo sem o dom, sentiram - se desconfortável com a reivindicação dos carismáticos de comunhão direta com Deus. A questão veio à tona na última metade do século II , quando Montano começou a reafirmar a importância dos dons espirituais na igreja , especialmente o dom de profecia.


                            MONTANO

Montano nasceu em ma Frígia durante a primeira metade do século II e em algum momento acha-se que foi um bispo. Sendo um convertido do paganismo, como um Cristão, ele era ortodoxo em sua fé, aceitando todos os livros do cânone assim como a regra de fé ele ficou “conhecido por fazer maravilhas e milagres,” e mesmo os inimigos dele admitiram que “ambos a vida e doutrina santa e irrepreensível.”

Montano estava preocupado do crescente formalismo na igreja e a crescente falta de moralidade de seus membros. Por volta de 174DC, então ele começou a expressar a importância do ministério sobrenatural do Espírito Santo, insistindo então que os Cristão praticassem um estilo de vida moralmente estrita. Ele enfatizou na segunda volta de Cristo, aparentemente acreditando que este evento aconteceria durante sua vida. Rapidamente ganhando muitos seguidores, o movimento espalhou-se pela Asia Menor, O Norte da Africa e a Europa, chegando inclusive à Roma.

O fator qualificante para o ministério na igreja, de acordo com Montano, era possuir os dons espirituais em vez de uma nomeação a um cargo eclesiástico. Ele particularmente enfatizava o dom de profecia e foi logo acompanhado por duas profetisas , Prisca e Maximilla. Falar em línguas foi provavelmente também uma ocorrência comum entre os Montanistas. Os Motanistas preferiam serem chamados de A Nova Profecia pois eles acreditavam que Deus estava renovando o ministério profético da igreja através deles. Os oponentes os referiam como Motanistas pois era o nome do líder deles, que é o nome que eles tornaram-se conhecidos.

 A enfase nos dons espirituais trouxe aos Montanos um conflito acirrado com muitos líderes da igreja que se contentavam em dizer que o novo movimento de cargo eclesiástico tinha preeminência sobre qualquer dom espiritual. Esses líderes também tiveram problemas com a maneira da qual Montano e seus seguidores entregavam profecias. Mesmo não achando qualquer falha com o conteúdo das profecias, eles os acusavam de entregar as profecias em um estado emocional e de extase. Declarando assim que isto era prova de uma origem demoníaca das mensagens, os críticos acusavam Montano e seus seguidores de serem possessos por demônios.

Alguns conselhos regionais ou sínodos na segunda metade do segundo século censuraram Montano e seus seguidores. Esta união dos cocílios das igrejas, porem, meramente mostra o impacto que o Montanismo estava tendo na igreja. No livro deles Iniciação Cristã e Batismo no Espírito Santo, Kilian McDonnell e George Montague apontaram que
estes foram os primeiro concílios da história da igreja fora do conselho de
Jerusalém de Atos 15, e que “nem a ameaça do gnoticismo, nem Marcionismo
tiveram tanta pressão da igreja em um concílio.

Apoio a Montano e seus seguidores foi geral. Eusebio indicou que Irineu foi enviado para Roma pelos Cristãos Gauleses  para interceder em favor dos Motanistas. A intercessão dele inicialmente levou ao bispo de Roma a mandar cartas de paz as igrejas Motanistas, mas mais tarde ele as retirou. Irineu talvez se referisse aos opositores dos Motanistas quando expressou seu descontentamento com aqueles que “colocavam de lado ambos o Evangelho e o Espírito Profético.” Esses mesmos homens, falou Irineu, não conseguiam admitir nem mesmo o apóstolo Paulo, pois em sua carta os Coríntios “ele fala claramente dos dons proféticos, e reconhece homens e mulheres profetizando na igreja.”

No Norte da Africa, os Motanistas foram defendidos por Tertuliano, que ingressou no movimento por volta do ano 200DC. Na obra Contra Praxeas, Tertuliano fala que o bispo de Roma inicialmente “reconheceu os dons proféticos de Montano, Prisca e Maximilla” e “concedeu sua paz” sobre as igrejas Motanistas da Asia e Frígia. McDonnell aponta que aquela paz era um sinônimo para comunhão eclesiástica, e o fato do bispo mandar as cartas de paz para as igrejas Motanistas significa dizer,

“Nós pertencemos a mesma comunhão; nós celebramos a mesma eucaristia; nós temos a mesma fé.”

Porém, a complicação surgiu através de Praxeas, que ensinava uma doutrina chamada monarquianismo, declarando que o Pai, Filho e Espírito Santo são um e o mesmo. Ele com muito sucesso influenciou o bispo Romano contra os novos profetas, e as cartas de paz foram retiradas. Tertuliano fala que Praxeas fez um duplo serviço para o diabo em Roma:

“Ele expeliu a profecia, e trouxe heresia; ele pôs em fuga o paráclito, e crucificou o Pai. Tertuliano também escreveu sete livros defendendo a profecia, todos do qual foram perdidos ou destruídos.

Depois da morte de Montano, seus seguidores tornaram-se mais rigorosos em seus ascetismos, instituindo jejuns e colocando exigências mais rigorosas a seus adeptos. Até o início do século III, eles também começaram a institucionalizar, fazendo então seus próprios sistemas eclesiásticos com bispos e diáconos. Até 381, o concílio de Constantinopla finalmente declarou que os Motanistas deveriam ser vistos como pagãos. Mas mesmo com essa oposição, o movimento continuou até o século V quando Agostinho menciona a existência deles.


MONTANISMO: HERESIA OU VERDADE BÍBLICA?
 Um problema que estudiosos encontram ao estudarem o Montanismo é
de sua dependência nos escritos dos inimigos dos Motanistas, em vez de documentos primários dos próprios  Montanistas. Escritos, tanto como dos sete livros de Tertuliano sobre profecia que os Motanistas defendiam, não sobreviveram. Eles foram ou perdidos ou destruídos pelos seus inimigos.

 Mas mesmo assim, o Montanismo lentamente vai ganhando força. Em 1750, por exemplo, John Wesley leu um livro do início do século XVIII de John Lacey chamado A ilusão geral dos cristãos em saber as maneiras de Deus se revelar para e pelos profetas. Esse livro olha ao Montanismo de uma maneira boa, refutando muitas da acusações tradicionais. Depois de ter lido este livro, Wesley escreveu a seguinte resposta em seu diário no dia 15 de Agosto, 1750:

"Fui convencido daquilo que antes suspeitava: 1) Que os Montanistas, no segundo e terceiro séculos, foram cristãos que seguiam as escrituras; e 2) Que a grande razão da qual os dons foram rapidamente tirados não foi apenas por causa da fé e santidade que estavam faltando, mas que homens muito formais e ortodoxos começaram mesmo naquela época a ridicularizar qualquer dom que eles mesmos não possuíam, e que condenavam todos estes dons como loucura ou falsidade."

Alguns detratores do montanismo alegam que o movimento representou uma invasão de profecia pagã no Cristianismo do segundo século. Mas não havia evidência para sustentar esta afirmação. Tal afirmação “é completamente falsa” de acordo com David Aune em sua extensiva obra sobre profecia antiga, Profecia na igreja primitiva e o antigo mundo mediterrâneo. Ele fala que todas as características do Montanismo inicial, inclusive a natureza extática de suas profecias, “são derivadas do cristianismo primitivo”.

Em somatório, é provavelmente seguro dizer que Montanismo foi o primeiro renovo carismático dentro da igreja e que procurou trazer um reavivamento a uma igreja que rapidamente ia se apegando no modo eclesiástico. A igreja institucional obviamente exagerou em seu tratar do movimento e acelerou uma moda de desprezo e distanciamento dos dons espirituais. Também começou um movimento, como Philip Schaff apontou:
“onde uma linha foi colocada entre a era dos apóstolos, no qual havia revelações sobrenaturais diretas, e os tempos pós, em que tais revelações haviam desaparecido.”

McDonell fala:
“A igreja nunca recuperou seu equilíbrio depois que rejeitou o Montanismo”.

 OS TOQUES FINAIS

A ameaça do montanismo para as autoridades agora colocadas nos
cargos eclesiásticos fez com que a igreja libera –se cada vez mais autoridade ao bispo monarquico, assim então acelerando o processo de institucionalização. Enquanto isso os assuntos da igreja do primeiro século foi direcionados por um grupo de anciões que eram chamados bispos ou supervisores, as igrejas agora estavam sobre o controle de uma única pessoa para o qual o título de bispo foi reservado exclusivamente. Também ao mesmo tempo, os bispos começaram a serem vistos como os sucessores dos apóstolos. De maneira, eles foram vistos como terem e serem os guardiões das doutrinas apostólicas; eles sozinhos possuíam o charisma veritus, o dom divino de sabedoria de Deus, dando a eles o poder de ensinar. Por investir toda a autoridade no cargo de bispo, foi então pensado que a igreja seria protegida de mestres que ensinem doutrinas heréticas.

A tendência da institucionalização trouxe uma grande divisão na igreja entre o clero e os leigos, uma divisão desconhecida na Igreja do Novo Testamento. O critério para ensinar e liderar cessou de ser o chamado e o dom do Espírito Santo, mas foi mudado por ordenação de oficiais eclesiásticos. Bultman aponta que o dom do Espírito Santo de ensinar e liderar, “que foi originalmente dado pelo Espírito à pessoa, é agora entendido como um cargo carismático transmitido pela ordenação”. O clero então assumiu todas as responsabilidades ministeriais da igreja, e um sacerdócio paralelo ao do Antigo Testamento emergiu.

A reação da igreja ao Montanismo contribuiu ao rápido desaparecimento dos dons espirituais. No terceiro século, Origem citaria que “estes sinais diminuíram.” A liberdade do Espírito estava sendo trocada por rituais cerimoniais e organização eclesiástica. O golpe final ao caráter carismático da igreja chegaria com a conversão de Constantino e a aquisição de poder e influência terrena pela igreja.

(aguardem o próximo capitulo da serie: 2000 anos de cristianismo carismático). 

Um comentário:

  1. Acesse e leia: http://teologiacarismatica.com.br/o-montanismo-foi-mesmo-uma-heresia/

    http://jornaltochadaverdade.blogspot.com.br/2016/06/montanismo-uma-heresia.html

    Em defesa do pentecostalismo clássico e do Montanismo, primeiro avivamento pentecostal após a era apostólica.

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