“Vamos falar sobre
Jesus” Nosso Profeta, Sacerdote e Rei.
Recentemente uma pessoa me censurou por não
falar suficientemente sobre Jesus. Bom, em minha própria defesa, minha total e
completa razão para criticar o Calvinismo (assim como outras teologias
errôneas) é Jesus. Jesus como Deus encarnado, a perfeita e compreensível
revelação de Deus, o caráter e vontade de Deus, forma o fundamento e o centro
de toda a minha teologia. Eu pensei ter deixado isso claro, mas aparentemente
não explícito o suficiente para ele. Então deixe-me dizer isso novamente: Para
mim Jesus Cristo é Deus e Salvador, a perfeita revelação de Deus na humanidade,
a “face humana de Deus”, o divino na humanidade, o mediador entre Deus e a
humanidade, o fundamento e centro de todo o pensamento e fé Cristã, a chave
para compreender a história e toda a realidade incluindo a mim mesmo como
pecador salvo pela graça. Essa é a minha confissão como um teólogo Cristão.
É claro, muito mais poderia e deveria ser dito, tem sido dito (por mim) e será
dito.
Um aspecto da minha
declarada espiritualidade Pentecostal-Pietista é a centralidade de Jesus Cristo
não somente como Deus, Senhor e Mestre, mas também como amigo. Com certeza, ele
é um amigo único, diferente de qualquer outro amigo, mas não obstante, também e
ao mesmo tempo, amigo daqueles que obedeçam ao seu mandamento que é amar
a ele e uns aos outros. Nenhum de nós faz isso perfeitamente, mas ele continua
sendo nosso amigo na medida que nós buscamos essa disposição e atitude de
coração. E essa é uma condição que ele nos dará se nós pedirmos a ele.
Eu cresci em uma igreja grande e extensa família (de várias denominações!) que
cantava e falava frequentemente a respeito de Jesus nosso amigo. Jesus
era membro de nosso domicílio. Ele sempre estava lá, assistindo, esperando,
ouvindo, até falando. Intimidade com Jesus era parte e parcela do nosso ethos
espiritual. Desde muito cedo eu conheci Jesus não somente como amigo, mas
também como Senhor e Salvador.
Eu cresci tendo conversas com Jesus; eu ainda faço isso. Várias manhãs eu
acordo com um hino ou uma canção gospel em minha mente e coração, até mesmo em
meus lábios, e daí se inicia uma conversa com Jesus que se prolonga pelo dia
todo. “Amizade com Jesus, companheirismo divino. Ó que abençoada e doce
comunhão; Jesus é meu amigo.” Isto está no coração da minha
espiritualidade e declarada teologia. Este amigo meu é alguém que revela o
coração de Deus para mim e eu o conheço como alguém que nunca criaria uma
pessoa para o tormento eterno. Ele não é “bacana”, mas ele é bom; ele não é
“uma boa”, mas ele é amável. Ele me dá conforto e aflição na medida certa –
como um verdadeiro e bom amigo. Eu tenho dificuldades com Cristãos que não
conhecem ou não querem conhecer essa intimidade com Jesus que repousa no centro
da minha espiritualidade Cristã. A mera ortodoxia não me interessa; e nem a
“relevância para cultura”. Ambas tem algum valor, mas elas não são cruciais
para se conhecer a Deus da maneira que Deus deseja ser conhecido – em comunhão
por meio do que Emil Brunner chamou “O encontro Eu-Tu“.
Eu respeito os companheiros Cristãos de espiritualidade mais litúrgica e
contemplativa, mas eu nunca entendi a adoração litúrgica ou misticismo deles.
Eu não os estou diminuindo, mas confesso ficar confuso e perplexo com eles.
Eles não reforçam minha espiritualidade que gira quase exclusivamente em torno
da devoção conversional – “relacionamento pessoal com Jesus.”
Um aspecto da tradição e teologia Reformada que se associa bem com minha
espiritualidade centrada em Jesus é compreender Jesus como profeta,
sacerdote e rei. Quando criança eu primeiro me deparei com esses “três
ofícios de Cristo” no hino “Louve ele, louve ele...profeta e sacerdote e rei.”
Mais tarde, no seminário, eu encontrei esta designação para compreensão “da
obra de Cristo” primeiro no volume dois da Dogmática de Brunner e depois
nas Institutas de Calvino.
Meu amigo Jesus é também, e antes de ser meu amigo pessoal, o exclusivo
escolhido e ungido profeta para a humanidade – mais do que qualquer
profeta anterior, nele é Deus revelando a si mesmo à humanidade. Ele é maior do
que qualquer mero profeta humano e ainda cumpre esse ofício perfeitamente já
que eles (de Moisés até João Batista) cumpriram o ofício imperfeitamente. Como
meu amigo divino-humano, Jesus funciona como profeta para
mim por meio da sua vida de perfeita obediência à vontade de Deus e condenatória,
desafiadora voz corretiva, encorajando e conduzindo-me. Eu conheço sua voz
profética primeiro e primordialmente pela Escritura, o “berço que o sustém (Lutero),
mas eu também ouço sua voz profética na pregação do evangelho, nos testemunhos
dos companheiros Cristãos, na voz dos críticos sociais pedindo por justiça, nos
trabalhos da literatura devocional e na “ainda, e pequena voz” que fala comigo
me corrigindo, encorajando e dirigindo em meu próprio coração e mente. Meu
amigo Jesus é também, e antes de ser meu amigo pessoal, o exclusivo escolhido e
ungido sacerdote para a humanidade – mais do que qualquer sacerdote
humano (mediador) antes ou após ele. Ele voluntariamente ofereceu a sua vida
para e por todos os pecadores, reconciliando-nos com Deus através da sua
vida e morte sacrificial. A sua morte expiatória é o centro de todas as
coisas – incluindo a própria história. Sem ela eu e todas as pessoas estaríamos
perdidos; por causa dela todos temos esperança de liberdade e vida abundante.
Amo meditar a respeito da cruz, cantar a respeito da cruz, ouvir pregação sobre
a cruz e até ver re-encenações da cruz em “peças de teatro sobre a paixão” que
eram mais comuns quando eu era criança.
Meu amigo Jesus é também, e antes de ser meu amigo pessoal, o exclusivamente
escolhido e ungido rei para a humanidade – mais do que qualquer
governante humano, senhor ou comandante. Jesus ressuscitou, vencendo o medo da morte
para todos que confiam nele, e irá voltar à terra como messias trazendo
perfeita paz, justiça e prosperidade para todas as pessoas. No ínterim, “o
tempo entre os tempos” o “já mas não ainda” ele é rei por direito e intervém
com poder sobre o pecado, morte e o maligno quando a igreja ora. O hino “Um
dia” expressa lindamente estes três ofícios do meu amigo Jesus.
Um dia encheram-se os céus de louvores,
quando no mundo reinava o mal. Cristo desceu e nasceu de uma virgem, para
trazer-nos o amor divinal.
Vivo, ele amou-me; na cruz, salvou-me; e o
meu pecado na tumba deixou. E, ressurreto, justificou-me; um dia, em glória,
Jesus voltará.
Um dia Cristo subiu ao Calvário, onde o
pregaram na cruz de amargor; em grande angústia, por nós rejeitado, para remir-nos
morreu o Senhor.
Um dia a tumba não mais o reteve, glória a
Jesus, Santo Filho de Deus! Ressuscitou, conquistou a vitória e, junto ao Pai,
intercede nos céus.
Um dia, ao som da gloriosa trombeta, Cristo
Jesus em poder voltará. Entre os remidos de todos os tempos, em grande glória o
Senhor reinará.
Este hino do evangelista e teólogo J. Wilbur
Chapman expressa minha fé e o centro da minha vida espiritual. Também expressa
a estória no coração da minha teologia – a verdadeira estória de Deus
conosco no homem Jesus que ainda vive como o perfeito profeta de Deus,
sacerdote e rei vivendo em e conosco por meio de nossa fé nele.
Isto poderia ser o suficiente para unir todos os Cristãos evangélicos;
meu desejo é que pudesse ser assim, que fosse assim. Infelizmente, existem
aqueles Cristãos evangélicos para os quais isso nunca é o bastante. Para alguém
ser considerado verdadeiro, autêntico e completo Cristão essa pessoa deve
adotar toda teologia sistemática deles. Esta é a teologia Sistemática de Charles
Hodge – mesmo quando eles não a conheçam pelo nome. (Seus líderes teológicos a
conhecem, mas a fazem parecer como sendo simplesmente a “Bíblia” e “Os
Evangelhos”).
Então, do outro lado, existem os Cristãos evangélicos que se colocam acima” de
toda “conversa banal” de Jesus como “amigo” como intrinsecamente trivial. À luz
de João 15 (e minha própria espiritualidade) eu simplesmente não entendo essa
perspectiva. Jurgen Moltmann, um teólogo alemão que muito me influenciou,
enfatiza o desejo de Deus em ser nosso amigo através de Jesus Cristo. Todo
conceito pode ser e é banalizado por alguém, em algum lugar. Nossa tarefa,
minha tarefa, é recuperar bons conceitos bíblicos que tem sido banalizados por
outros e evitar que eu faça o mesmo que eles. Estou certo que existem alguns
que fazendo essa leitura acham que eu mesmo o banalizei em minha própria
espiritualidade e testemunho, mas tudo o que posso dizer a eles é que eles não
são meus juízes. Ele é meu amigo e juiz. Eu descansarei nele e serei julgado
por ele.