Segundo
argumento: A carta de Beza e o poema de Armínio
Texto: Pr. Anderson de Paula
Revisão:
Jefferson G. Acunha-Acuña
O próximo argumento a ser analisado diz respeito à carta de recomendação de Beza ao pastorado de Armínio e ao poema que Armínio escreveu elogiando a genialidade de seu professor. Antes de entrarmos na refutação faz-se necessário apresentar tanto a carta de Beza como o poema de Armínio. Tendo feito isto, apresentar-se-á o entendimento dos defensores da “calvinicidade” de Armínio sobre esses dois escritos, primeiro pela análise da carta de Beza e, posteriormente, pela análise do poema de Armínio.
O próximo argumento a ser analisado diz respeito à carta de recomendação de Beza ao pastorado de Armínio e ao poema que Armínio escreveu elogiando a genialidade de seu professor. Antes de entrarmos na refutação faz-se necessário apresentar tanto a carta de Beza como o poema de Armínio. Tendo feito isto, apresentar-se-á o entendimento dos defensores da “calvinicidade” de Armínio sobre esses dois escritos, primeiro pela análise da carta de Beza e, posteriormente, pela análise do poema de Armínio.
Carta de Beza
indicando a Armínio
“Resumindo tudo,
então, em poucas palavras: que saibais vós que desde a época em que Armínio
retornou a nós de Basileia, tanto sua vida como seu aprendizado tem nos sidos
tão aprovados, que esperamos o melhor dele em todos os aspectos, caso ele
firmemente persista no mesmo curso; o que, pela benção de Deus, não duvidamos
que persista; pois, entre outros dotes, Deus lhe dotou com um intelecto apto
tanto à apreensão quanto e discriminação das coisas. Se tal, de agora em
diante, for regulado pela piedade, a qual ele parece assiduamente cultivar, só
resta a esse poder de intelecto, quando consolidado pela idade madura e pela
experiência, produzir os mais ricos frutos. Tal é nossa opinião de Armínio – um
jovem digno de nossa gentileza e liberalidade.”[1]
O poema de Armínio em homenagem a Beza
O Retrato de T. Beza
O poema de Armínio em homenagem a Beza
O Retrato de T. Beza
“Por que estás maravilhado ao olhar a face do homem
que te é permitido ver apenas em desenho?
Tu nunca serias capaz de imaginar por ti mesmo,
não importa quão atentamente tu visses com admiração a
mente maravilhosa
que os escritos do homem retratam.
Que tu possas ao mesmo tempo vê-la
Os textos supracitados serviriam de base, pois, ao segundo
argumento dos defensores da “calvinicidade” de Arminio. É de extrema importância
olhar de modo crítico, para que se possa entender se, mediante a sua correta
interpretação, elas realmente provariam o suposto calvinismo de Armínio.
2.1 Análise da Carta
de Beza
É muito interessante que Beza, o sucessor de Calvino, tenha recomendado Armínio, o qual iria se constituir no principal antagonista da doutrina calvinista.
Para autores e estudiosos como Caspar Brandt (1653-1696), a
carta de recomendação de Beza poderia ser considerada como prova de um suposto
posicionamento calvinista por parte de Armínio, sustentado pelo teólogo ao
menos até o ano de 1585, ano de escrita da carta.
Para Caspar Brandt (1653-1696)[3] ao citar essas referencias conclui da
seguinte maneira:
“Nada apareceu a Armínio
como maior relevância, enquanto em Genebra, do que conciliar o interesse e a
afeição de Beza em seu favor, tanto quanto esperava, por meio de suas conversas
e comunicações, para se tornar não apenas um homem mais erudito e educado, mas
também, melhor e mais sábio. Pois, com a máxima seriedade, esse teólogo excedia
seus companheiros em persuasão de fala, e em presteza e perspicuidade de
discurso; ao mesmo tempo em que seu aprendizado e suas realizações na sagrada literatura eram profundos e
extraordinários. Com ouvidos atentos, Armínio bebia em suas palavras; com ávida
assiduidade, ele se prendia ao que era dito; e, com intensa admiração, ele
escutava sua exposição do nono capitulo de Romanos[4]”
A passagem supracitada tem levado alguns autores a aderirem
às observações de Brandt. No entanto, segundo Bangs (1922-2002), tal carta não
poderia ser usada para provar a calvinicidade de Armínio, sendo tão-somente um
elogioso documento de caráter recomendatório. De fato, este autor pede ao
leitor que:
“... Observe bem que Beza recomenda Armínio por sua habilidade
e diligência, mas nada é dito sobre sua teologia e nem mesmo por sua piedade.
Ele expressa esperança de que o crescimento continuado produzirá “os mais ricos
frutos”. Nada é dito a cerca da predestinação. Armínio semelhantemente,
elogia Beza por uma mente brilhante que
é digna de emulação por parte do Aluno. Nada a cerca da predestinação.[5]
Nota-se que Armínio é elogiado por sua habilidade e sua
diligência, o que apenas demonstra que o teólogo era um aluno aplicado e
dedicado aos estudos, além de ser destacadamente inteligente e perspicaz, em
comparação com os seus colegas. Porém, observe-se que Beza não o elogia por sua
Teologia, não tendo feito menção alguma a quaisquer posicionamentos teológicos
assumidos pelo seu pupilo, o que, definitivamente, invalida a tese de que, pela
carta de Beza, poder-se-ia concluir que Armínio teria sido calvinista. De fato,
o próprio Armínio nos seus escritos, tendo abordado as controvérsias teológicas
nas quais esteve envolvido, jamais mencionou em nenhuma linha sequer algo
acerca de uma mudança de posicionamento teológico da sua parte. Ademais, nos
seus escritos, teceu severas críticas à predestinação sustentada por Calvino e
Beza, tal como nos seus debates, através de cartas, com Francisco Junius
(1545-1602), nos quais, acerca da predestinação calvinista, afirma que:
“Uma teologia pela
qual Deus é considerado, necessariamente, o autor do pecado deve ser repudiada
por todos os cristãos e, na verdade, por todos os homens, pois nenhum homem
pensa que o ser a quem considera divino é mau, no entento, segundo a teoria de
Calvino e Beza, Deus é, necessariamente, considerado o autor do pecado,
portanto, essa teoria deve ser repudiada.”[6]
Estes debates demonstram claramente que Armínio jamais fora
adepto da predestinação calvinista, não se achando neles (tampouco nas obras
completas de Armínio) nada que comprove uma suposta mudança do seu
posicionamento acerca da questão. Ao contrário, o que se poderia supor seria
que Beza, na sua carta, ao expressar o desejo de que o seu aluno mais brilhante
viesse a produzir os “mais ricos frutos”, estivesse se referindo a uma esperada
adesão do seu aluno ao seu ponto de vista soteriológico.
1.2 Analise do poema
de Arminio para Beza.
O poema escrito por Armínio tampouco fornece qualquer base
para que se afirme ter sido o aluno (Armínio) tão calvinista quanto o seu
professor (Beza), demonstrando simplesmente a gratidão de Armínio a Beza,
professor cuja mente lhe parecia brilhante. Pelo poema, pode-se perceber também
quão fascinante era, para Armínio, poder ver com os seus próprios olhos um dos
homens que, juntamente com Calvino, reformaram a cidade genebrina. Não há,
desta forma, nada no aludido poema que se refira à predestinação, às suas
controvérsias ou mesmo a alguma suposta concordância entre “aluno” e “mestre” –
supô-lo, pois, seria algo por demais pretencioso, senão fantasioso.
Bangs (1922-2002) evidencia com clareza a não adesão de
Armínio à Teologia de Beza ao dizer que:
“Jacobus Triglandius,
crítico veemente dos primeiros remonstrantes, tentou sustentar que Armínio e
Uitenbogaert esconderam de Beza as suas verdadeiras opiniões. Não há
necessidade para essa hipótese; na verdade, há evidência disponível contrária a
ela. As visões de Uiternbogaert (amigo íntimo de Armínio) eram conhecidas
durante sua estada em Genebra e, em um período tão tardio quanto 1595, Beza e
Vorstius mantinham relações cordiais.”[7]
Desta forma, as palavras de Bangs
comprovam o fato de que as posições de Armínio e de ao menos um dos seus amigos
já eram conhecidas na Genebra de Beza, o que, contudo, não impediu que Armínio
admirasse o seu professor e tampouco que o seu professor achasse nele
brilhantismo acadêmico.
Conclusão.
Pelo presente estudo,
demonstrou-se que não se pode utilizar a carta de Beza e o poema de Armínio à
Beza para se construir argumentos pelos quais se pudesse afirmar que Armínio
teria sido um calvinista. Ao analisar tais documentos, pode-se aprender uma
lição de cordialidade cristã: pessoas de posicionamentos teológicos distintos
podem se admirar, apreciar e respeitar-se mutuamente.
[2] The Lafi of Arminius, pagina 44,
45.
[3] Escritor
do livro The Lafi of Arminius
[4] The Lafi
of Arminius pagina 44 – 45 (também citado em Bangs, Carl, um estudo da historia
holandesa pagina 85).
[5] Bangs,
Arminio, um estudo da reforma Holandesa, pagina 86
[6] Obras de
Arminio volume 3 pagina 96, 97.
[7] Bangs,
Carl Um estudo da reforma Holandesa (ano, etc.), página 86.