Minha Resposta para “Uma
Resposta das Assembleias de Deus à Teologia Reformada”
A Assembleia de Deus é uma das maiores - talvez a maior - denominação cristã
evangélica que é essencialmente, historicamente, teologicamente, senão
exclusivamente, arminiana.
Cresci
como pentecostal, mas não na AD. No entanto o grupo pentecostal ao qual
pertencia durante minha infância e até mesmo quando adulto era bastante
semelhante às ADs em sua doutrina e prática. De fato, houve uma tentativa nos
anos 60 de fundir as duas denominações. Meu pai estava no conselho nacional de
nossa denominação quando a tentativa falhou; meu tio era o presidente.
Ao
longo da vida, tenho tido interesse nas ADs. Há poucos anos, um líder da
denominação entrevistou-me a respeito do meu livro “Teologia Arminiana: Mitos e
Realidades”, para o seu podcast, destinado principalmente aos ministros dessa
igreja. Ao aceitar o convite, escrevi um artigo sobre a expiação limitada para
a revista das ADs. Então, há pouco tempo, fui convidado para falar na Central
Assembly of God (Assembleia de Deus Central) no domingo pela manhã e à noite.
Durante aquela visita, também falei na capela do seminário da AD e, após isso, tive
um momento de “perguntas e respostas” com os estudantes e professores do
seminário.
Há
poucas semanas, um dos leitores mais frequentes do meu blog me pediu (em
privado, por e-mail) para responder a um “posicionamento” oficial das ADs a
respeito da “Teologia Reformada” relativamente novo. Quando visitei Springfield
e conversei com líderes denominacionais das ADs, entendi que eles estavam
preocupados com o crescimento do calvinismo “dentro das fileiras” (isto é, dentro
das congregações assembleianas). Isso está acontecendo na maioria das
denominações protestantes da América e igrejas evangélicas independentes por
causa da popularidade dos livros, podcasts e sermões de John Piper. Contudo, as
ADs têm sido historicamente arminianas em sua orientação teológica.
O chamado “Presbitério Geral” (composto por líderes da AD), ocasionalmente
publica “posicionamentos” a respeito de temas controversos. Não sei como esses
são adotadas pelas congregações. Entretanto, por fim, eles expressam a opinião
geral da denominação.
Em Agosto desse ano (2015), o Presbitério Geral finalmente publicou a resposta
à Teologia Reformada. O artigo pode ser encontrado com todas as posições das ADs
em: http://ag.org/.../pp_response_to_reformed_theology_08....
Esse documento possui seis páginas, intitulado: “Uma Resposta das Assembleias
de Deus à Teologia Reformada”. É tanto conciliador quanto irônico. O artigo
explica bem tanto o calvinismo (ou “Teologia Reformada” que é, historicamente e
teologicamente um pouco diferente do calvinismo não-reformado, como já havia explicado
aqui várias vezes) quanto o arminianismo. Posteriormente, explana ainda os “pontos
de concordância” entre calvinistas e arminianos. No entanto, a seção mais longa
é dedicada aos “pontos de discordância”. Em geral, essa é uma descrição e discussão
conciliadora dos calvinistas e arminianos que foi bem elaborada. Como um
teólogo arminiano, porém, tenho umas poucas hesitações a respeito dessa
descrição de arminianismo. A mais importante é a respeito da descrição do pelagianismo
como uma “extrema forma de arminianismo”. Não considero o pelagianismo como
qualquer forma de arminianismo, definitivamente não!
O tom geral da declaração é conciliador para com a teologia reformada e o calvinismo
moderado, mas qualquer leitor com discernimento pode facilmente dizer que
aqueles presbíteros que promulgaram a declaração veem a denominação das ADs
como historicamente e teologicamente arminiana, ao invés de calvinista/reformada
(veja, por exemplo, a frase e sua citação em parênteses na seção “Desenvolvimentos
mais recentes ou ramos da árvore”). Todavia, em vão se procura por qualquer
frase na declaração de que calvinistas seriam excluídos das ADs.
A
conclusão diz: “Enquanto existem claras distinções entre aquele que se
identifica como arminiano e aquele que se diz reformado (calvinista seria um
melhor termo), existe - na verdade - mais o que nos une do que aquilo que nos
divide na teologia. Os extremos de ambas as posições são rejeitados. Embora o
ensino e a pregação individual de pastores de ambos os lados podem ser às vezes
controvertidos, nós concordamos no imperativo de apresentar o evangelho ao perdido.
É quando o pensamento reformado é estendido e levado ao extremo de remover toda
a resposta humana que nós devemos rejeitá-lo e manter-nos fieis ao chamado e
exemplo de Cristo e Seus discípulos, chamando todos a Ele e genuinamente oferecendo
salvação a todos.”
Aplaudo os líderes da AD por serem conciliadores e enfatizarem pontos de
convergência entre a “teologia reformada” (na verdade, calvinismo) e o arminianismo;
entendo o desejo de não excluírem irmãos e irmãs calvinistas de sua comunhão.
Por outro lado, parece irônico que o calvinismo possa ser aceito na AD (e me
refiro especialmente a ministros ordenados) à luz do posicionamento da
denominação em 1978 sobre “a segurança do crente” (a qual pode ser lida no
mesmo endereço da web que mencionei acima). Aquele posicionamento diz: “O
Conselho Geral das Assembleias de Deus desaprova a posição da segurança
incondicional, a qual sustenta ser impossível para uma pessoa perder a sua
salvação, uma vez que já foi salva”. Esta ainda é a doutrina oficial da AD e
tenho sido informado por muitos pastores que eles devem reafirmar essa crença
(ou negar a crença na “segurança eterna”) anualmente.
Então, onde está a ironia? Ela repousa no fato de o calvinismo acarretar
logicamente na crença da “segurança eterna” (a “perseverança dos santos”),
mesmo como descrito no posicionamento de agosto de 2015. Não conheço nenhuma
pessoa reformada ou calvinista que não acredita nessa doutrina. É parte do
sistema.
Assim, esses dois posicionamentos estão dizendo: “você pode estar na AD, como
pastor ordenado, sendo um calvinista, desde que você afirme os primeiros quatro
pontos da “TULIP” e não sustente o quinto ponto! ”. Porém o quinto ponto
necessariamente segue os outros quatro! Se a eleição para a salvação é incondicional
e se a graça salvífica é irresistível (qualquer que seja a palavra que se use),
a perseverança é logicamente necessária (sim, sei que existem os monergistas que
negam que a salvação é, de certa forma, dependente do livre arbítrio de
responder a graça salvadora de Deus).
Em
vão procurei no posicionamento algum ponto que pudesse necessariamente excluir
calvinistas – mesmo entre os ministros. E ainda me parece que o posicionamento
de 1978 não exclui calvinistas da AD.
Por
fim, mostre-me um verdadeiro calvinista que não acredita na segurança incondicional
eterna dos verdadeiros crentes, e lhe mostrarei um não-calvinista ou - ao menos
- uma pessoa irremediavelmente confusa. Colocando de outra forma: mostre-me um ministro
calvinista da AD, e lhe mostrarei alguém que está cruzando os dedos por detrás
das costas quando estiver assinando a carta de reafirmação da crença de que uma
pessoa pode perder a salvação.
Revisão: Plabyo Geanine
Traduçao: Marcia EliasMarcia Elias